O Estado de São Paulo, em 28/09/2014
Descoberta de moléculas orgânicas complexas no espaço interestelar abre uma nova área experimental na Química
Fábio de Castro
Um grupo internacional de pesquisadores detectou as moléculas orgânicas mais complexas encontradas até hoje no espaço interestelar. O resultado do estudo, publicado na revista Science, é considerado um avanço importante para a astrobiologia – área que estuda a origem da vida na Terra e as possibilidades de surgimento de vida em outros locais do Universo.
Até hoje, pesquisadores só haviam detectado no espaço moléculas orgânicas bem mais simples, formadas por estruturas lineares de carbono. É a primeira vez que moléculas orgânicas ramificadas, mais complexas, são encontradas no espaço interestelar. As moléculas ramificadas são uma característica fundamental dos aminoácidos, necessários para a existência de vida. “Pela primeira vez, moléculas relativamente grandes, mais complexas e com química mais rica, são descobertas no espaço interestelar. É um passo importante, porque significa que temos capacidade técnica para detectar no espaço moléculas essenciais para a existência de vida”, afirmou Douglas Galante, pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que não participou do estudo. Galante dirige o Laboratório de Astrobiologia da USP e é um dos cientistas pioneiros dessa área no Brasil.
Utilizando o observatório Alma (sigla Atacama Large Milimeter/Submilimeter Array), localizado no Chile, os cientistas detectaram as moléculas ramificadas – de isopropil cianido – em uma nuvem gigante de gás conhecida como Sagittarius B2, uma região de formação de estrelas próxima ao centro da Via Láctea, considerada um alvo importante para os astrônomos que buscam moléculas no espaço. O trabalho teve participação de cientistas do Instituto Max Planck de Radio Astronomia (Alemanha), da Universidade Cornell (EUA) e da Universidade de Colônia (Alemanha).
A descoberta, segundo Galante, abre uma nova área experimental na Química. A presença das moléculas ramificadas no espaço interestelar já havia sido prevista teoricamente na década de 1980, mas pela primeira vez houve confirmação experimental de sua presença.
Para outro especialista em astrobiologia, o italiano Eugenio Simoncini, do Observatório de Astrofísica de Florença, a descoberta anuncia um salto técnico que permitirá muitos avanços na área. “Qualquer um que queira buscar a vida e condições de habitabilidade em outros planetas precisa ter condições operacionais de olhar o espectro desses planetas com a esperança de encontrar moléculas complexas. O resultado foi muito bom do ponto de vista da técnica.”