03/10/2008 – ComCiência
Por Enio Rodrigo
Assediado pelos fotógrafos que sempre o cercavam nas ruas de Princeton (EUA), ele não titubeou: virou-se e mostrou a língua. A fotografia, tirada após um cansativo evento em homenagem aos seus 72 anos, foi rapidamente estampada nos jornais de todo o mundo transformou-se na imagem do cientista genial e louco. Mais que isso, transformou Albert Einstein em ícone pop que pode ser reconhecido tão rapidamente quanto Marilyn Monroe ou Che Guevara. Ele mudou a história da física – uma afirmação sem nenhum exagero – e também a imagem da ciência. Einstein era pesquisador, cientista, professor, divulgador da ciência (escreveu um livro explicando sua teoria da relatividade para leigos), ativista político e ainda achava tempo para responder cartas de crianças. Todas essas facetas estarão acessíveis ao público entre os dias 24 de setembro e 14 de dezembro na exposição Einstein realizada pelo Instituto Sangari em parceria com o American Museum of Natural History, de Nova Iorque.
A exposição, que além de toda a estrutura tecnológica e interativa para tornar as informações expostas mais acessíveis e didáticas, conta com objetos pessoais e fac-símiles de documentos e cartas originais que foram doadas pelo físico à Universidade Hebraica de Jerusalém. A versão brasileira do evento traz novidades, entre elas a seção átomo e outra sobre a passagem de Einstein pelo Brasil, na qual é descrita sua viagem por Sobral, no Ceará. Em 1919, ele esteve no país para a observação de um eclipse que comprovaria sua teoria da relatividade geral. “O texto foi sintetizado, já que a versão original era bastante prolixa e incluímos diversos detalhes relacionados ao Brasil”, explicou Marcelo Knobel, do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador científico da exposição.
Para Carlos Escobar, do Departamento de Raios Cósmicos na Unicamp, a combinação de cientista brilhante e figura pública, aliada a um senso de justiça e ética aguçado transformou Einstein nesse ícone que conhecemos hoje. Sua imagem, afirma também, teria contribuído para a presença da ciência na mídia e por atrair jovens para a física. “Eu e diversos outros colegas fomos inspirados pelo livro A evolução da física que ele e Leopold Infeld escreveram”, conta o pesquisador que estampa em sua sala uma imagem de Einstein.
Legado
Sem as teorias de Einstein, os experimentos realizados no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) não seriam possíveis, lembra Harry Westfahl Jr, pesquisador da instituição. “Dois trabalhos apresentados em 1905 por Einstein, em especial, são fundamentais para o tipo de experimento que fazemos aqui. O trabalho sobre o efeito fotoelétrico (complementando os estudos iniciados por Max Planck) e o sobre a relatividade especial, que fala sobre a velocidade da luz”, afirma. A luz síncrotron é uma espécie de radiação magnética bastante intensa e que é produzida por elétrons dentro de um acelerador de partículas. Além das teorias citadas por Westfahl Jr, foram publicados um artigo sobre o movimento Browniano e outro sobre a equivalência entre massa e energia (conceitos considerados completamente distintos, na época), que podia ser descrita pela famosa fórmula E=mc2. Trabalhos que provocaram tamanha revolução na física em tão pouco tempo fizeram de 1905 o chamado ano Mirabilis de Einstein.
Embora fosse um dos fundadores da teoria da física quântica, que introduziu o indeterminismo inexorável à física moderna, Einstein costumava dizer que “Deus não joga dados” ao se referir à total falta de constantes defendida pelos físicos quânticos (incluindo Niels Bohr, seu grande amigo e interlocutor constante). Ele também achava que a física quântica e a teoria da relatividade deveriam ser compatíveis de alguma maneira, porém considerar que espaço/tempo flutuam em probabilidades seria um contra-senso e por isso previa que as teorias da física quântica seriam superadas rapidamente (coisa que até hoje não aconteceu). “Um dos objetivos da física contemporânea é tentar chegar nessa unificação das duas teorias” sintetiza Escobar. “Espero que o LHC a sigla em inglês para Grande Colizor de Hádrons, inaugurado recentemente na Suíça ajude a verificar, ou enterrar de vez, se as teorias atuais como a das Supercordas que tenta calcular e descrever objetos fundamentais extensos sem precisar passar pelo cálculo pontual, das partículas, destes objetos estão ou não corretas. Talvez isso possa solucionar essa charada deixada por Einstein”, finaliza o pesquisador.
Ensino e difusão
A exposição ainda conta com um programa educativo de visitas monitoradas desenvolvidas para os alunos do ensino fundamental e médio. Haverá também uma programação exclusiva voltada para os educadores levarem as questões despertadas para serem trabalhadas na sala de aula.
“O ensino de ciências deve estar no centro das estratégias de melhoria da qualidade da educação, pois o manejo do código científico é condição necessária para o desempenho produtivo dos cidadãos do próximo milênio” afirma Ben Sangari, presidente do Instituto que leva seu sobrenome. Para Marcelo Knobel “a exposição é uma maneira de apresentar a física moderna aos alunos. Hoje em dia eles continuam vendo a física newtoniana e nem têm idéia de conceitos mais recentes”. Depois de São Paulo, o legado moderno de Einstein deverá seguir para as principais capitais do país, assim como já ocorreu com as exposições realizadas pelo Instituto Sangari, Darwin e Revolução Genômica.