17/12/2009 – Jornal da Ciência
Acordo firmado com a Universidade de Caxias do Sul (UCS) na quarta-feira (16/12) visa otimizar o processo de produção de celulases a partir de fungo. Um hectare de cana plantado no Brasil produz, em média, mais de 80 toneladas do produto por ano.
Tal quantidade de matéria-prima gera cerca de 6.400 litros de etanol e 11,2 toneladas de bagaço. Este, por sua vez, poderia fornecer outros 2.690 litros de etanol se existisse no mercado uma tecnologia capaz de quebrar a celulose em açúcares fermentáveis.
Esta tarefa, entretanto, não é das mais fáceis. Um dos maiores obstáculos reside na dificuldade de se obter enzimas capazes de quebrar as resistentes ligações entre os açúcares da celulose a um custo competitivo. Este desafio motivou a assinatura de um acordo de cooperação entre Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e a Universidade de Caxias do Sul (UCS) ocorrida nesta quarta-feira (16/12).
O objetivo da colaboração firmada entre as instituições é otimizar a produção de enzimas hidrolíticas a partir de linhagens do fungo Penicillium echinulatum. Encontrado em insetos que se alimentam de madeira, este microorganismo produz compostos enzimáticos diferentes dos encontrados em coquetéis comerciais. Isto pode ser um importante diferencial no desenvolvimento da tecnologia de produção industrial de etanol celulósico.
Segundo o engenheiro do CTBE José Geraldo Pradella, a linhagem de fungo que será trabalhada no Centro foi isolada da natureza e melhorada geneticamente (técnicas clássicas) pela equipe do Instituto de Biotecnologia da UCS desde o final da década de 70. “O que buscamos agora é dar um salto tecnológico por meio do uso de recursos de engenharia”.
Para isso, serão identificadas em escala laboratorial as melhores condições ambientais para o desenvolvimento do fungo e para a produção de enzimas que atuem na quebra da celulose. Em seguida, será testada a eficiência do complexo enzimático gerado pelo Penicillium em bagaço de cana pré-tratado de diferentes maneiras. “Os melhores resultados serão testados em uma escala maior na Planta Piloto do CTBE”, explica Pradella. O projeto conjunto durará 18 meses.
Planta Piloto do CTBE
A Planta Piloto para Desenvolvimento de Processos (PPDP) do CTBE é um dos principais diferenciais em estudos como o que será desenvolvido em parceria com a UCS. É que por meio dela será possível integrar esforços de pesquisa em diferentes gargalos tecnológicos ligados à produção de etanol de segunda geração. Além disso, o complexo tecnológico projetado pelo CTBE permitirá a realização de estudos em uma escala maior que a laboratorial. Este fato possibilita prever o nível de eficiência, em escala industrial, dos processos desenvolvidos.
17/12/2009 – Jornal da Ciência
As obras de engenharia civil da PPDP foram iniciadas no mês passado e sua previsão de término é abril de 2010. Devido ao fato do CTBE ser um laboratório nacional, as instalações de sua planta piloto poderão ser utilizadas pela comunidade científica e pelo setor produtivo de qualquer parte do globo.
Outros microorganismos
O acordo firmado pelo CTBE junto à UCS faz parte de um grupo de ações realizadas pelo Centro em busca de microorganismos e enzimas aplicáveis ao processo de etanol celulósico. “Estamos em contato com várias instituições do Brasil e do exterior que possuem trabalhos ligados ao isolamento de fungos. Nosso objetivo é estudar e otimizar o processo de fabricação de múltiplos coquetéis enzimáticos para, dentro de alguns anos, selecionar o mais eficiente para a produção de etanol a partir do bagaço de cana”, arremata Pradella.