Portal do MCTI, em 09/04/2015
Representantes de 13 instituições de pesquisa estão em Campinas (SP) para debater o andamento do projeto New Medicines for Trypanosomatidic Infections (NMTryI), um consórcio internacional para o desenvolvimento de fármacos contra a doença de Chagas, leishmaniose e doença do sono, também conhecida como tripanossomíase humana africana. O encontro acontece no auditório do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Nesta sexta-feira (10), pesquisadores divulgarão ao público o modelo de consórcio multinacional e as oportunidades de interação entre grupos do Brasil e da Europa. O simpósio “Building International Consortia on parasitic diseases: the NMtrypl experience” também será realizado no CNPEM. “Esse é um evento importante para apresentar uma forma diferente de trabalhar”, explica o coordenador da parte brasileira no projeto NMTryI, Lúcio Freitas-Junior, que também é pesquisador do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio). “O Brasil tem um grande número de grupos de pesquisa de excelência na área e que poderão ajudar nos estudos.”
Com orçamento de 7,6 milhões de euros, o projeto começou em 2014 e se estende até 2017. A iniciativa é financiada pela União Europeia, por meio do Programa FP7. O consórcio europeu reúne grupos com diferentes tecnologias e especialidades para maximizar a eficiência e reduzir os custos no processo de inovação em fármacos para doenças negligenciadas.
De acordo com o 2º Relatório da OMS sobre Doenças Tropicais Negligenciadas, 1 bilhão de pessoas estão em risco ou são afetadas por doenças tropicais negligenciadas. Lucio Freitas-Junior alerta que muitas dessas enfermidades estão presentes em todos os países devido aos movimentos de migração globais. “Essas doenças não precisam de passaporte e visto para chegar aos países. Desenvolver fármacos para elas é, mais que uma oportunidade de negócio e crescimento tecnológico, uma maneira de ajudar as populações menos favorecidas”, disse.
Além do LNBio pelo lado brasileiro, participam do consórcio instituições da Alemanha, Portugal, Itália, Sudão, Reino Unido, Grécia, Espanha e Bélgica.
Para mais informações sobre o simpósio, clique aqui.
Sobre o LNBio
O LNBio é responsável pela triagem de moléculas capazes de matar os parasitas da família Trypanosomatidae. “Foram enviadas [ao LNBio] cerca de 15 mil frações isoladas provenientes de fungos. Ao todo, já analisamos cerca de 50 mil pontos de triagem”, afirmou Lúcio Freitas-Júnior. “O resultado alimentou diferentes grupos que darão seguimento aos estudos baseados nos nossos dados.”
O pesquisador explica que o trabalho do grupo de Biologia Química e Plataforma de Triagem do LNBio é tentar simular em laboratório o que acontece no sistema humano. “Colocamos células humanas em uma placa e depois as infectamos com um dos parasitas. Tentamos tratar as células contaminadas com as drogas que estamos testando, sendo o objetivo final matar o parasita sem danificar a célula”, resume Freitas-Junior, que também é coordenador do grupo. “Nosso desafio é ter um sistema relevante para seres humanos em uma placa.”
A técnica, conhecida como Triagem Fenotípica ou Triagem Celular, oferece com uma das vantagens a redução de falsos positivos. “Tem que haver uma correlação entre o que descobrimos no começo com o que será testado alguns anos depois. Estamos preocupados em obter resultados. Descobrir um fármaco é uma tarefa complicada e cara, e, justamente por isso, você precisa reduzir ao máximo o número de falsos positivos.”
O LNBio é um dos quatro laboratórios associados ao CNPEM. A organização social conta ainda com os laboratórios nacionais de Luz Síncroton (LNLS), de Nanotecnologia (LNNano) e de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).