Portal Veja, em 02/06/2014
Com duas vezes o tamanho e 17 vezes a massa da Terra, o planeta Kepler-10c superou a marca das Super-Terras
Cientistas da Universidade Harvard anunciaram nesta segunda-feira a descoberta da primeira Mega-Terra, um planeta rochoso que tem duas vezes o tamanho da Terra e 17 vezes a sua massa. O planeta superou as já conhecidas Super-Terras, que têm entre cinco e dez massas terrestres. Catalogado como Kepler-10c, o planeta foi apelidado de “Godzilla das Terras” pelo pesquisador Dimitar Sasselov, diretor da Iniciativa Origens da Vida da Universidade Harvard. A descoberta foi apresentada hoje no evento da Sociedade Americana de Astronomia (AAS, na sigla em inglês).
Um ano neste planeta, que está a 560 anos-luz da Terra, na Constelação Draco, dura apenas o equivalente a 45 dos nossos dias. O Kepler-10c foi avistado pela primeira vez pelo telescópio espacial Kepler, que busca planetas a partir da variação que eles causam no brilho de uma estrela ao passar na frente dela. Com essa técnica, os astrônomos conseguem determinar o diâmetro do planeta, mas não sua composição. Por ter um pouco mais do dobro do diâmetro da Terra, o planeta a princípio foi considerado gasoso e classificado como um mini-Netuno.
Os pesquisadores utilizaram então o Telescopio Nazionale Galileo, localizado nas Ilhas Canárias, para medir a massa do Kepler-10c e descobriram que era muito maior do que imaginavam: o equivalente a 17 vezes a massa da Terra, o que indica que se trata de um planeta rochoso. “Como ele é bastante massivo, tem o potencial grande de ter retido sua atmosfera, o que favorece a existência de vida. Além disso, o sistema estelar do qual ele faz parte, o Kepler 10, é muito antigo. Se a vida precisa de tempo para surgir e se desenvolver, esse é um lugar promissor para ela”, disse Douglas Galante, pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, e do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia da USP, ao site de VEJA.
A descoberta desta Mega-Terra traz implicações para a história do Universo e a possibilidade de existência de vida em outros planetas. Isso porque o sistema do qual ela faz parte se formou há 11 bilhões de anos, menos de 3 bilhões depois do Big Bang. De acordo com as teorias tradicionais de formação planetária, o Universo inicialmente continha apenas hidrogênio e hélio. Elementos mais pesados, necessários para a formação de planetas rochosos, como ferro e silício, teriam se originado a partir da primeira geração de estrelas que, ao explodir, espalharam esses ingredientes pelo espaço. Estima-se que esse processo demorou bilhões de anos para acontecer, mas o Kepler-10c mostra que o Universo foi capaz de formar planetas rochosos grandes mesmo durante o período em que os elementos mais pesados eram escassos.
“Nós nem imaginávamos que podiam existir planetas como esse, que representa um novo desafio para a ciência desvendar. Podemos esperar muitos outros planetas estranhos e complexos que serão descobertos, mostrando que o Universo ainda está repleto de novidades, e, talvez, de outros mundos habitáveis”, completa Galante.