Folha de S.Paulo, 14/11/2018
Projeto final deve ficar pronto só em 2021 e ainda depende da liberação de cerca de R$ 500 milhões
A máquina mais cara e sofisticada da ciência brasileira começou a testar suas turbinas. Feixes de elétrons já circulam por parte da estrutura do Sirius, acelerador de partículas que vem sendo construído no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (Cnpem), em Campinas (SP).
O projeto já consumiu cerca de R$ 1,3 bilhão (de um total previsto de R$ 1,8 bilhão) e, quando ficar pronto, colocará o país na vanguarda das pesquisas que utilizam esse tipo de artefato, como as que envolvem a visualização em altíssima resolução de estruturas de vírus e proteínas (em busca de novas vacinas), de solo (com a ideia de aprimorar fertilizantes) e de rochas, e de novos materiais (para melhorar a exploração de gás e petróleo), entre outras.
Nesta quarta-feira (14), uma cerimônia celebrou em Campinas a entrega do prédio de 68 mil m2(equivalente à área de um estádio de futebol) que abrigará a mastodôntica infraestrutura do Sirius, além da conclusão da montagem de dois dos seus três aceleradores.
“Sempre se diz que o Brasil é o país do futuro. Face a esse projeto, pode-se dizer que o futuro já chegou ao nosso país. Essa máquina é motivo de orgulho. Ela engrandece a ciência nacional”, disse o presidente Michel Temer durante a cerimônia.
No palco onde foi descerrada a placa de inauguração da primeira etapa do projeto, também estiveram presentes o ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, o ministro da Educação, Rossieli Soares, o diretor do projeto Sirius e diretor-geral do Cnpem, Antônio José Roque, e o presidente do Conselho de Administração do Cnpem, Rogério Cezar de Cerqueira Leite.
A próxima fase é delicada: a criação de um vácuo próximo ao existente no espaço dentro dos túneis percorridos pelos elétrons. Só aí o terceiro acelerador poderá entrar em ação. As partes do Sirius têm que ser ligadas e calibradas uma de cada vez. Sem isso há risco de danificação de componentes eletrônicos sensíveis e todo o potencial da construção, que tem precisão milimétrica inclusive no nível do solo, pode não ser explorado.
Só então entrará em operação a primeira linha de luz —estação experimental que utiliza radiação gerada pelo acelerador para conduzir experimentos das mais diversas áreas. Prevê-se que as primeiras pesquisas ocorram no segundo semestre de 2019.
O projeto final, com 13 linhas de luz (a capacidade total é de 40), deve ficar pronto somente em 2021 e ainda depende da liberação de cerca de R$ 500 milhões.
“Trata-se de um projeto estruturante da ciência nacional”, disse o diretor-geral do Cnpem. “Leva à formação de recursos humanos, ao engajamento de médias e pequenas empresas nacionais, favorece a internacionalização da nossa pesquisa.”
Um dos pontos destacados pelos presentes foi a participação de empresas brasileiras na construção do Sirius. Cerca de 80% dos componentes têm origem no país.
Segundo José Roque, a consecução de um dos mais avançados aceleradores de partículas do mundo também alimenta a autoestima nacional. “Conseguimos chegar onde quisemos. Fazer ciência de ponta para ajudar o país.”
Gilberto Kassab também lembrou a importância do Sirius para aumentar a internacionalização da nossa pesquisa. “Cientistas do mundo inteiro virão morar em Campinas para desenvolver suas pesquisas. Isso nos ajudará a produzir uma ciência mais competitiva internacionalmente.”
Segundo o ministro, a finalização da primeira parte do Sirius foi uma das prioridades estabelecidas pelo atual governo.
“Se não tivéssemos feito nada no nosso governo, mas tivéssemos concluído essa etapa, como estamos fazendo, já teríamos feito muito para o país”, jactou-se o presidente.
Fazendo alusão às dimensões do prédio que abriga o Sirius, Michel Temer ainda brincou: “É um Maracanã de conhecimento”.