AgroTVM, em 09/05/2014
Conforme abordado no artigo de etanol 1G, muito se tem dito e não tanto se tem feito para alavancar de vez a agroindústria sucroalcooleira no Brasil. No entanto, existe uma grande oportunidade de se aproveitar integralmente a matéria-prima da cana de açúcar e de outras culturas, para produzir combustível e energia. Essa oportunidade se chama etanol de segunda geração (2G), ou cientificamente o etanol celulósico ou lignocelulósico.
O que acontece, é que o etanol de primeira geração que conhecemos nos postos de combustível provém da fermentação alcoólica do caldo da cana extraído em moendas, parecidas com os antigos engenhos de açúcar do tempo da colônia (Figura 1). Já o etanol celulósico é obtido basicamente através de 3 processos, o pré-tratamento, a hidrólise e a fermentação. A hidrólise serve para extrair a lignina da celulose, posteriormente transformada em glicose, que fermentada vira o desejado álcool.
Conforme CARDONA et al. (2010) citado por JOÃO et al. (2011), o etanol de segunda geração pode ser obtido não só de cana de açúcar, mas também de palha de milho, palha de trigo, palha e casca de arroz, cavacos e restos de madeira, resíduos que contenham celulose, como papel, e ainda resíduos urbanos. Mais especificamente sobre a cana, o professor RIPOLI (2005) aborda em seu livro que a possibilidade de extrair etanol de um canavial é da ordem de 24% pelo caldo da cana, 37% pelo bagaço e 39% pela palha. Em 100% de uma planta, esses números têm sido generalizados para 1/3 de caldo, 1/3 de bagaço e 1/3 de palha de cana de açúcar disponíveis para a produção de etanol celulósico, mas por que motivo? Pelo simples motivo de que 1 tonelada de matéria-prima poderá fornecer aproximadamente a mesma quantia de etanol combustível extraído de todos os seus componentes, ou seja, a planta será aproveitada integralmente para a produção de álcool, seja 1G (caldo) ou 2G (bagaço e palha).
O Brasil possui 2 grandes redes de inovação que estão encabeçando os programas de P&D do etanol 2G, sendo o Programa de Bioenergia – BIOEN gerido pela FAPESP em âmbito estadual e o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol – CTBE em âmbito federal. Além dessas redes, a Embrapa Agroenergia vem fortalecendo seu programa de biocombustíveis a cada ano. Tanto o CTBE quanto a Embrapa possuem plantas piloto de caráter experimental que os permitem desenvolver as pesquisas na prática, encurtando tempo e dinheiro público.
Além das iniciativas públicas, existem alguns grupos usineiros que buscam a todo custo agilizar a implantação de seus parques produtivos de etanol 2G. Grupos como Raízen, Odebrecht Agroindustrial e Usina São Manoel em parceria com o CTC, já estão em fase de construção de seus parques tecnológicos para a produção do combustível de segunda geração. A empresa brasileira GranBio, com usinas em Alagoas, vem na liderança nacional da produção do etanol de cana 2G. Com uma planta industrial já instalada, prometem iniciar a comercialização do combustível ainda em 2014 se utilizando de um pacote tecnológico importado da Itália e EUA.
Aparentemente o etanol 2G é realmente uma grande oportunidade para o Brasil. O país pode se tornar mais independente do petróleo, poluir menos o ambiente, produzir um combustível que não necessitará aumentar sua área plantada, verticalizando sua produção, e quem sabe triplicando o volume de etanol a um custo menor que o de primeira geração. Resta saber, será que pegaremos esse bonde ou deixaremos fugir tartarugas como muitas vezes acontece nesse país?