Revista Pesquisa Fapesp, em 05/2015
Problemas estruturais e conjectura econômica interferem na profissão.
Os anos 2000 marcaram um aumento na oferta de cargos ligados à engenharia, assim como de sua remuneração. O estudo “Trajetórias de engenheiros jovens brasileiros no mercado formal nos anos 2000”, realizado pelo Observatório de Inovação e Competitividade (OIC) do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), analisou o mercado de desses profissionais. Foram acompanhados 9.041 engenheiros recém-formados com até 25 anos, por meio da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego, relatório anual de preenchimento obrigatório por todas as empresas. Profissionais informais, como prestadores de serviços ou pessoa jurídica, não foram incluídos no estudo que serve também como orientação para os que deixam a universidade logo depois de formados ou ainda estudantes de mestrado e doutorado. O período analisado foi entre 2003 e 2012, quando os salários e os cargos ligados à engenharia cresceram, situação diferente ao período utilizado para comparação, entre 1995 e 2002.
O estudo mostrou que o salário de entrada dos jovens engenheiros em 2003 era 24% maior do que em 1995, já descontada a inflação do período. “Nos anos 1990, a área de engenharia não compensava financeiramente; ou se atingia o cargo de gerente, diretor, ou era melhor sair da área”, diz o economista Bruno César Araújo, responsável pelo estudo no OIC e doutorando em Engenharia de Produção na Escola Politécnica da USP, sob a orientação de Mário Sérgio Salerno. Para ele, a engenharia é muito sensível à conjuntura dos investimentos realizados na economia. “Por isso, há dúvidas sobre o que vai acontecer nos próximos anos. Em momentos de crise a tendência é a queda nos atrativos da profissão.”
Os profissionais mais bem remunerados no período foram os engenheiros gestores em engenharia, como os gerentes de produção, e os gestores fora da engenharia, como os gerentes de recursos humanos (RH). O salário médio ficou em cerca de R$ 13,5 mil. O estudo divide a categoria em nove tipos. O que lidera, com 2.477 profissionais, é o dos engenheiros típicos, que ocuparam cargos diretamente relacionados com engenharia. Esse tipo, mais o de engenheiros típicos em transição, com 1.799 profissionais, representou 50% do total. Os de transição mudaram ou estão migrando para outras categorias como gestores, mas permanecem na atividade principal. Os engenheiros típicos foram os que, na média, ficaram mais tempo na ocupação, 70 meses. Em seguida, estavam aqueles que ocuparam postos de gestores no próprio setor, com 50 meses. O primeiro emprego foi conquistado nos estados de São Paulo, com 20% do total, Rio de Janeiro, 11%, e Minas Gerais, 8%. Um terço do total começou a trabalhar em empresas com mais de 250 empregados. A formação mais frequente foi na construção civil, com 18,4%, seguida de profissionais eletricistas, 14,8%, e mecânicos, 11,6%.
O cenário mostrado no estudo pode sofrer interferências com o desempenho econômico do país, mas esse não é o único fator determinante. “O fato é que o Brasil possui muito poucos engenheiros por habitante, estamos em último lugar nessa relação entre os 35 países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]”, diz Carlos Américo Pacheco, diretor do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), e ex-reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Para ele, a demanda por esses profissionais está menos ligada à situação econômica momentânea. “O mercado reage rápido, mas a sociedade, como mostra a história recente, vai se adaptando e os engenheiros são muito versáteis, podem ocupar diferentes tarefas, principalmente como gerentes e diretores”, afirma.