Continuando a nossa homenagem às astrônomas que nos inspiram a seguir nossos sonhos, escolhemos para a coluna deste mês duas pioneiras que romperam diversas barreiras na astronomia: Miriani Pastoriza e Heloisa Maria Boechat-Roberty.
Nascida na cidade de Santiago del Estero, Pastoriza é uma das poucas astrônomas que têm uma classe de objetos com seu nome, as galáxias peculiares conhecidas como Sérsic-Pastoriza. Ela descobriu essas galáxias em 1965, ao perceber que elas continham uma grande formação de estrelas ao redor do núcleo. Foi nesse mesmo ano que se tornou a primeira mulher a se graduar em astronomia na Universidade Nacional de Córdoba (UNC), na Argentina. Segundo seu orientador, José Luis Sérsic, ele teve que pedir permissão especial ao reitor da UNC para que uma mulher pudesse passar noites observando na Estação Astrofísica de Bosque Alegre.
Ainda sob a supervisão de Sérsic, Pastoriza obteve seu doutorado em 1973 na UNC, onde seguiu atuando como professora e pesquisadora do Observatório Astronómico de Córdoba. Mas perdeu seu emprego em 1976, quando foi perseguida pelos militares ainda no primeiro ano da última ditadura argentina (1976-1983).
Em 1978, aceitou o convite do professor Edemundo da Rocha Vieira, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), para liderar um novo grupo de pesquisa em Porto Alegre. Desde então, tornou-se uma das astrônomas mais conhecidas do Brasil de todos os tempos. Ela orientou dezenas de estudantes e criou uma equipe muito produtiva na universidade, onde atualmente é professora emérita.
A professora Miriani tem na sua bagagem muitas conquistas científicas, altíssima produtividade, além de ter sido chefe de departamento e vice-diretora do Instituto de Física da UFRGS. Ela é membra da Academia Brasileira de Ciências e, em 2010, recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico na Classe Comendador da Presidência da República. A professora Miriani é mulher-maravilha e nos inspira todos os dias.
Nossa eterna professora
A professora Heloisa Maria Boechat-Roberty é outra astrônoma que nos dá muito orgulho. Nós três fomos alunas em disciplinas ministradas por ela no curso de astronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ela nasceu em uma cidade pequena no interior de Minas Gerais chamada Três Passos. Ao decidir com o que gostaria de trabalhar, ficou bastante indecisa entre ser astrônoma ou pianista profissional, atividade que estudou por muitos anos.
Decidida a trabalhar com astronomia, graduou-se pelo Observatório do Valongo, da UFRJ, em 1973, sendo uma das primeiras graduandas do curso, então recém-fundado. Mas ela teve uma formação bastante diversa, sendo mestre em engenharia nuclear pela UFRJ e doutora em física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, também no Rio de Janeiro.
Desde 1978, é docente da UFRJ e, hoje, é a única professora titular em seu departamento. Ela dedicou sua carreira a entender os enigmas do meio interestelar, que é formado por todo o material localizado entre as estrelas. Em laboratório, tenta reproduzir todos os processos físico-químicos de formação e destruição de moléculas que podem ocorrer em ambientes interestelares e circunstelares. Então, não é exagero dizer que seu laboratório transpassa as barreiras físicas das salas das universidades e de grandes centros como o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron. Seu laboratório é todo o Universo!
A professora Heloisa também quebrou barreiras ao se tornar a primeira diretora de um observatório brasileiro, o Observatório do Valongo, cargo que ocupou entre 1995 e 2002. Além disso, ela já foi chefe de departamento, coordenadora da pós-graduação e membra da diretoria da Sociedade Astronômica Brasileira. Durante sua carreira, foi capaz de inspirar colegas e jovens cientistas mulheres, mostrando que podemos assumir papéis de liderança.
As professoras Miriani e Heloisa são grandes influências positivas para nós, as Mulheres das Estrelas, e para suas dezenas de orientandos e alunos. Fiquem ligados: nas próximas colunas continuaremos a falar sobre grandes astrônomas do Brasil!