Portal G1, em 22/07/2013
Defendendo o investimento em ciência e tecnologia como política de governo, o ministro afirmou em conversa com o G1 que é preciso que as empresas também entrem nesse investimento. “Apoiar a ciência deve ser uma política de estado, em todas as esferas, com a cooperação entre o ministério e os governos. Temos que incentivar também que as empresas invistam, pois elas têm interesse em inovação, esse é o caminho para a competitividade. Aqui em Pernambuco você tem como exemplo o Porto Digital, [que] é a universidade indo além de suas fronteiras. Tem o C.E.S.A.R., que é o pessoal do Centro de Informática da UFPE, que criou um ambiente que se transformou em um grande centro de negócio, um exemplo que o estado dá de como a ciência pode contribuir para o desenvolvimento e economia”, aponta Raupp.
O Brasil, explica o ministro, vive um momento positivo para o desenvolvimento de ciência e inovação, com a criação de parceria de empresas e centros de pesquisas. “Nós estamos tendo investimentos significativos e planos que levam a ciência para além dos muros tradicionais que ela ocupava nas universidades. Nós temos um programa, ‘Inova empresa’, que aloca recurso na faixa de R$ 32 bilhões em dois anos, o que é algo significativo, sem precedentes. Nós temos que criar o círculo virtuoso, de forma que os cientistas contribuam para o desenvolvimento da sociedade e a sociedade contribua para o desenvolvimento da ciência”, afirma.
Durante essa semana, o ministro vai estar despachando do gabinete montado dentro da SBPC. “É a oportunidade de estarmos mais perto da comunidade científica. Estamos com quase todos os secretários aqui, eles vão participar de palestras, mas também vão estar disponíveis para escutar ideias, propostas e também opiniões sobre o que está sendo apresentado por nós aqui na reunião”, avisou o ministro, durante sua fala na conferência.
Apresentando o crescimento dos investimentos do MCTI na área de pesquisa, o ministro ressaltou a criação do Instituto Nacional de Pesquisas Oceonográficas e Hidroviárias, que deve ser anunciado oficialmente nesta quarta-feira (23). “Já temos um navio de pesquisa de US$ 80 milhões em fase de compra, que deve estar aqui em setembro ou outubro do ano que vem. Estamos em plana parte de organização social”, adianta Raupp.
A expectativa é que as universidades e centros de pesquisas da áreas façam parte do conselho administrativo do instituto. “Era uma necessidade que vem de longe. Nós queremos aglutinar e integrar esses esforços. Esse instituto vai ser estabelecido de forma que essas organizações influenciem na forma de trabalho, de pesquisa. O Inpho financiaria e organizaria esse tipo de trabalho, contemplando todos os interesses, financiando diretamente. Essas atividades são caras. O Ministério tem outros navios, mas esse vai ser o maior de todo.”, aponta Raupp
A cooperação internacional também foi apontada como essencial para o avanço, buscando parcerias entre centros tecnológicos para avançar em áreas como tecnologia aeroespecial, nanotecnologia e nuclear. “Eu fui à Argentina, na semana passada, para discutir a cooperação internacional com o país. Tinham 50 projetos, minha decisão foi fazer 12 para valer, mais intensivamente. É preciso focar mais, ser mais efetivo para ter mais impacto no desenvolvimento”, explica o ministro.
Os entraves para a base de lançamento de Âlcantara, do ponto de vista econômico, foram vencidos, afirmou o ministro. “Metade é do governo brasileiro, metade do governo ucraniano. Conseguimos aprovar nossa parte no Minsitério da Fazenda, para a construção e utilização comercial do centro de lançamento de Alcântara. Estamos desenvolvendo também um novo projeto de satélite de comunicação, que vai também ser uma plataforma do plano nacional de banda larga. Essa é uma rara oportunidade de associar plano estratégico com programa social”, conta o Raupp.
Com R$ 850 milhões em investimentos, o reator multipropósito brasileiro, feito em parceria com a Argentina, também foi um dos destaques apontado pelo ministro. “É um reator cuja grande finalidade é aumentar nossa capacidade de produzir radioisótopos para aplicação médica. Todos são produzidos em uma farmácia nuclear existente no Ipen em São Paulo; isso vai nos dar capacidade de abastecer hospitais brasileiros e vender para outros países. Outro elemento importante é a criação de uma agência reguladora na área nuclear, já temos um projeto pré-aprovado”, afirma.
Um dos caminhos para ter a ciência como norte no desenvolvimento do país, aponta Raupp, é a Empresa Brasileira de Inovação Industrial (Embrapii), recém-criada por portaria interministerial e em fase de estruturação ainda. “Ela vai participar, ser parceira nos riscos dos programas de inovação das empresas. A ideia é que ela faça para a tecnologia industrial o que a Embrapa fez para tecnologia agropecuária. A Embrapii é criada em um momento diferente. Ela não vai ter infraestrutura sob o comando direto dela, mas vai contratar, qualificar, credenciar laboratórios de universidades e institutos de pesquisa para promover a parceria deles com empresas”, explica.
Na mesma linha, surge também o Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologia (SisNANO), rede nacional que pretende unir laboratórios e centros de pesquisa da área. “Contamos com laboratórios no Brasil todo, coordenado pelo Laboratorio Nacional de Nanotecnologia em Campinas. Temos todo um cronograma de financiamento, de cooperação internacional, vai financiar formação de recursos humanos em faculdades, em busca de inovação em materiais. Podemos assim ter troca de conhecimentos com a China, que também trabalha dessa forma em rede”, detalha o ministro.
No caminho para minimizar as diferenças regionais, Raupp apontou o programa ‘Mais Ciência na Amazônia’, que deve estar formatado até setembro, em parceria com os estados com a região amazônica. “Devem ter programas que visem o desenvolvimento observando as necessidades da região. Estamos também vendo a possibilidade de algo assim para o semi-árido, mas ainda está muito no começo”.
Apesar de todos os investimentos, Raupp lembrou que não adianta pensar apenas em laboratórios e grandes centros. “Precisamos sempre pensar em recursos humanos, não adianta se não tivermos cientistas. Para estabelecer ciência, tecnologia e inovação como paradigma de desenvolvimento, é preciso aumentar e qualificar a nossa rede. Nós queremos a melhor ciência comparada internacionalmente. Os melhores exemplos dos países que desenvolveram no mundo é que empresas também precisam fazer pesquisa”, lembra, destacando que tanto governo quanto iniciativa privada precisam assumir o caminho de investir para ter um desenvolvimento sustentável.
A SBPC segue na Universidade Federal de Pernambuco até o dia 26 de julho. A programação completa pode ser conferida no site do evento.
Repercussão: REMADE,