Página Sustentável, em 04/11/2014
Um novo processo de fermentação alcoólica foi desenvolvido no Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em parceria com a empresa BP. A tecnologia, que possui ganho de eficiência de até 7%, faz com que a fermentação tenha o dobro de etanol e 60% menos vinhaça, etapa que concentra 1/3 das perdas industriais ligadas ao caldo de cana-de-açúcar.
A tecnologia é intitulada VHG (Very High Gravity), sigla em inglês que faz referência à alta concentração de açúcares no caldo fermentativo. Trata-se de uma fermentação alcóolica contínua multiestágio com reciclo de células, voltada à obtenção de vinhos de alto teor alcóolico – 15% em volume. O processo elimina os fatores que limitam a tolerância alcóolica da levedura, como contaminantes, sólidos insolúveis e temperatura.
A parceria entre o CTBE e a BP teve início no final de 2012 e conta com um investimento de R$ 4 milhões. Inicialmente, testes de laboratórios foram feitos para identificar as configurações ideais do processo e dos equipamentos. Desde julho desse ano o experimento é desenvolvido 24 horas por dia em escala semi-industrial, na Planta Piloto do CTBE, para demonstrar a tecnologia e a sua robustez.
“Somente o etanol permanece como elemento de estresse”, comenta a engenheira e especialista em processos do CTBE, Celina Yamakawa.
Os pesquisadores trabalham na Planta Piloto com linhagens de leveduras de uso comercial e condições semelhantes às industriais. “Utilizamos tanto mosto esterilizado como apenas clarificado, como ocorre nas usinas. Também permitimos a entrada de contaminantes microbiológicos no processo, como bactérias e leveduras selvagens, para avaliar a dinâmica populacional do sistema”, informa Jonas Nolasco Junior, um dos líderes do projeto no CTBE.
Outro aspecto relevante da tecnologia é o revigoramento celular. Ele restaura o sistema de membranas das leveduras ao final do processo e permite manter sua atividade celular em ponto ótimo durante o próximo ciclo fermentativo. A combinação entre o revigoramento celular e as alterações no processo que eliminam a tolerância alcoólica da levedura dobrou a produtividade atual da fermentação, mantendo a principal característica do processo brasileiro que é o reciclo de células.