A Notícia, em 20/04/2013
O professor Fernando Galembeck é um dos maiores especialistas do Brasil em nanotecnologia. É diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), uma das instalações que compõem o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), referência no tema. Para ele, é preciso ser criativo, mas também crítico em relação à nova tecnologia. A seguir, Galembeck analisa seus avanços e oportunidades.
A Notícia – O Brasil tem avançado nas pesquisas sobre nanotecnologia?
Fernando Galembeck – Existe bastante atividade de pesquisa no Brasil, incluindo parcerias com países avançados. Por exemplo, acaba de sair um artigo sobre a síntese de nanopartículas estruturadas que poderão ser úteis no diagnóstico de dengue, resultado de uma parceria Brasil-Alemanha e que ganhou a capa de uma revista inglesa publicada pela Royal Society of Chemistry. Por outro lado, em muitos casos, tem havido uma pulverização de esforços e recursos, que pode não levar a resultados importantes. Mas há bons exemplos de produtos e processos que chegaram ou estão chegando ao mercado.
AN – Quais setores são mais promissores?
Galembeck – A nanotecnologia está presente na maioria dos materiais desenvolvidos recentemente para todos os setores da indústria, agricultura e serviços. Também está presente em produtos que existem há muito tempo e que estão sendo melhorados. Um exemplo de aplicação são os compostos de borracha usados em pneus. Os setores de cosméticos, alimentos, automobilístico e de equipamentos de transporte têm sido especialmente ativos no aproveitamento. Não se fazem equipamentos eletrônicos miniaturizados sem usar semicondutores nanoestruturados.
AN – No Brasil, a nanotecnologia já se traduz em bons negócios?
Galembeck – Já provocou a criação de empresas e permitiu que empresas existentes aumentassem sua competitividade e criassem novos produtos.
AN – De que forma a nanotecnologia pode contribuir para aumentar a sustentabilidade dos produtos e dos processos das empresas?
Galembeck – A pesquisa sobre aproveitamento da biomassa, com estudos de nanoestruturas, é um bom exemplo. Hoje é possível criar novos processos de produção de nanocompósitos para atender às necessidades de empresas de muitos setores industriais e, cada vez mais, novas demandas surgem. Destaco o grande desafio de compreender as estruturas de materiais, como o bagaço de cana e outros resíduos agrícolas, para maximizar os benefícios do seu aproveitamento como matérias-primas para produção de etanol, por exemplo. As várias nanotecnologias são necessárias para que se consiga fazer a transição para uma economia sustentável, baseada em matérias-primas de fontes renováveis.
AN – Quais os principais riscos da nanotecnologia?
Galembeck – Riscos ambientais e toxicológicos sempre podem estar presentes e é preciso considerá-los desde os primeiros momentos. Espero que as empresas e pesquisadores tenham aprendido com os problemas causados pela energia nuclear, pelo amianto e outras tecnologias, para serem criativos, mas, também, críticos.