Estudo australiano mostra que retirar a palha do campo para produzir eletricidade reduz em até 20% a produtividade do canavial
Assessoria de Comunicação, em 01/08/2011
Os australianos são um parceiro em potencial do Brasil nas pesquisas agronômicas com cana-de-açúcar. Eles possuem uma ciência agrícola sofisticada, estão entre os 10 maiores produtores mundiais de cana e exportam açúcar em larga escala para o sudeste asiático. Na última sexta-feira (29/7), Peter Thorburn, doCommonwealth Scientific and Industrial Research Organization(CSIRO) esteve no Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) para compartilhar sua experiência de décadas na área de modelagem matemática ligada ao manejo agrícola de cana.
O destaque do seminário apresentado por Thorburn foi o trabalho com simulações computacionais ligadas ao aproveitamento da palha de cana para a produção de bioenergia. Em 2003, sua equipe simulou os impactos econômicos da instalação de uma planta industrial de co-geração de eletricidade a partir da palha na região de Maryborough. Os resultados apontaram algumas surpresas.
A primeira delas é que os prováveis impactos negativos da retirada da palha do campo e do processamento na indústria eram maiores que os benefícios oriundos da eletricidade gerada, o que inviabilizava o empreendimento. “Percebemos que os problemas ligados à logística, que imaginávamos serem os mais preocupantes, poderiam ser amenizados se o sistema fosse otimizado. O que teve o custo mais elevado foram os processos ligados à estocagem do material”, explicou Thorburn. No caso da Austrália, mostrou-se mais rentável produzir eletricidade a partir da captura das emissões de metano advindas do lixo doméstico das grandes cidades.
As simulações do CSIRO também indicaram que a retirada da palha após a colheita impactava negativamente a produtividade da área na próxima safra, pois deixava o solo mais frágil e aumentava a evaporação de água. A produção de cana diminuía 20% quando a palha era completamente extraída para a geração de eletricidade.
O diretor do Programa de Sustentabilidade do CTBE, Manoel Regis de Lima Verde Leal, explica que os dados do estudo de Thorburn, apesar de representarem condições específicas de determinado local, servem de alerta para os pesquisadores brasileiros. “Nós estamos contando com a palha para ampliar a futura produção de etanol celulósico. Acontece que ainda não sabemos direito qual é a melhor forma de trazê-la para a usina, qual a proporção que deve ficar sobre o canavial e quais são os impactos ambientais e econômicos dessa retirada”, comenta Leal.
Outro estudo de Thorburn simulou as emissões de N2O, um nocivo gás de efeito estufa, oriundas do ciclo agronômico da cana na Austrália. Percebeu-se que fatores como a irrigação do canavial não trazem grandes alterações sobre as emissões. Já a decomposição da palha sobre o campo emite quase o dobro de N2O se comparada à queimada desta. As emissões desse gás preocupam os pesquisadores australianos devido, entre outros fatores, ao intenso uso de fertilizantes, muitas vezes superior ao que ocorre no Brasil.
Quem quiser conhecer mais das pesquisas de Thorburn pode contatá-lo pelo e-mail para peter.thorburn@csiro.au.