G1, 22/11/2019
Teste realizado nesta sexta-feira (22) validou o funcionamento do equipamento usado para criar luz síncrotron, que será usada para analisar diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
Principal projeto de pesquisa científica do governo federal, o Sirius, em Campinas (SP), registrou um importante avanço nesta sexta-feira (22). Pesquisadores concluíram com sucesso a 1ª volta de elétrons no terceiro e principal acelerador, demonstrando a funcionalidade do equipamento.
Diretor do projeto, Antônio José Roque da Silva classificou o teste como um “grande marco” e projetou que as primeiras linhas de luz da estrutura possam realizar experimentos no segundo semestre de 2020 – o atraso no orçamento, no entanto, impede a conclusão das 13 linhas de pesquisa previstas para o ano que vem.
O Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas. Atualmente, há apenas um laboratório de 4ª geração de luz síncrotron operando no mundo: o MAX-IV, na Suécia.
No Brasil, essa tecnologia só está disponível em equipamentos de 2ª geração, em funcionamento há 30 anos.
Funcional
A volta do feixe de elétrons no terceiro e principal acelerador concluída com sucesso pelos pesquisadores atestou, na prática, o funcionamento sincronizado de diversos componentes, como imãs e câmaras de ultra-alto vácuo, que passaram por ajustes micrométricos para que o giro fosse completo. Segundo os cientistas, os ajustes são até cinco vezes menores que um fio de cabelo.
“É um grande marco. Isso permite acertar o acelerador por inteiro. Deram uma volta completa pelo equipamento, comprovaram que tudo é funcional. Entre as próximas etapas está uma elevação da corrente e sustentar um feixe capaz de gerar luz síncrotron”, explica José Roque.
Sirius: maior estrutura científica do país, instalada em Campinas (SP). — Foto: CNPEM/Sirius/Divulgação
Segundo Silva, que é diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social responsável pelo Sirius, a previsão que no início de 2020 o conjunto receba um dispositivo responsável por direcionar a luz síncrotron às linhas de luz e, a partir daí, comissionar as primeiras três estações de pesquisa.
“Ao longo do segundo semestre esperamos fazer os primeiros experimentos e testar a funcionalidade global”, aponta.
Orçamento
O avanço conquistado pelos pesquisadores nesta sexta ocorreu sem que o governo federal tenha liberado os R$ 180 milhões que faltam ser pagos do orçamento previsto para este ano. Segundo o diretor, a verba recebida em 2018 e no início de 2019 foram essenciais para a montagem e teste do terceiro e acelerador principal.
Antônio José Roque da Silva, diretor do projeto Sirius — Foto: Fernando Evans/G1
Apesar do importante marco, Silva destacou que aguarda a liberação dos recursos até o final deste ano. O valor foi empenhado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) junto ao Ministério da Economia ainda não foi depositado. Um plano de trabalho foi enviado ao MCTIC, que analisa a liberação do recurso.
“Somos uma organização social, e todos os profissionais são contratados por CLT. Quando chega janeiro, não recebo recursos como da administração direta. O orçamento demora para sair. Então esse recurso é essencial para garantir a sustentabilidade da minha equipe, não só dos equipamentos.
“O grande ganho do país, além de ter o equipamento, é ter as pessoas, o material humano. O maior risco do projeto é perda de pessoal altamente especializado. Perder isso é perder pessoas com décadas de experiência e jovens que aprenderam com o que foi desenvolvido aqui”, destacou José Roque.
Ao pontuar a preocupação com o recurso humano do Sirius, o diretor disse que viu o Ministério de Ciência e Tecnologia empenhado em resolver a questão. “Agora é uma questão de tramitação interna, para receber os recursos quanto antes, mas estamos confiantes.”