Siamig em julho de 2014
Mais competitivo produtor de etanol do mundo, o Brasil lidera uma série de iniciativas de pesquisa e desenvolvimento sobre biocombustíveis que poderão representar um novo patamar de produtividade no cenário mundial de energia. O etanol celulósico, chamado de segunda geração e cujo processo de produção está baseado em enzimas e no uso de bagaço e palha para produção de combustível, será essencial para que o país possa acompanhar o aumento da demanda de combustíveis.
Em 2012, o país registrou um déficit de 4,6 bilhões de litros no etanol hidratado. Esse déficit poderá aumentar quase cinco vezes até o fim da década, diante do consumo em ascensão e de estagnação da produção atual por conta da política de combustíveis do governo, que tem evitado reajustes no preço da gasolina. Um dos principais investimentos no mundo na nova rota tecnológica de produção de etanol de segunda geração está sendo feito no Brasil pela GranBio.
A usina Bioflex 1, localizada em São Miguel dos Campos, em Alagoas, com capacidade para 82 milhões de litros anuais, está em fase de testes, que devem terminar em breve. A planta deve alcançar plena capacidade dentro de um ano, como previsto originalmente, afirma Alan Hiltner, vice-presidente Executivo da GranBio. A ideia é explorar tanto a demanda interna quanto externa do biocombustível. A GranBio mantém o plano de investir R$ 4 bilhões em dez anos, o que contempla a construção e inauguração de dez plantas nesse período, entre usinas de segunda geração, unidades bioquímicas e biorrefinarias.
Outra vertente de pesquisa está sendo conduzida pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), iniciativa do Ministério de Ciência e Tecnologia e instalado em Campinas, que está analisando propostas de pesquisas a serem realizadas em sua Planta Piloto para Desenvolvimento de Processos, criada para estudos de escalonamento de tecnologias voltadas à produção de etanol celulósico e outros compostos a partir de biomassas. A planta possui seis diferentes módulos para testar experimentos, em escala semi-industrial, nas áreas de pré-tratamento, produção de enzimas, hidrólise de biomassa, fermentação alcoólica e bioprocessos em geral. A ideia é que processos possam ser concebidos em uma escala maior que em laboratórios menores e quase em escala pré-comercial, o que poderia reduzir o tempo de lançamento das inovações.
Exemplo nesse sentido é uma recente parceria firmada pela Gol e Amyris – companhia americana de biotecnologia que tem uma usina em Brotas, no interior paulista – para uso de um combustível renovável de aviação. A novidade poderá ser usada nos voos internacionais da empresa brasileira dos Estados Unidos para o Brasil. Pelo acordo, a Gol se compromete a usar uma mistura de até 10% do combustível renovável nas rotas em sua frota de Boeing 737. Trata-se de uma mistura de bioquerosene, feita a partir de açúcares de biomassa, com querosene convencional, o farnesane, que, quando produzido sustentavelmente, pode reduzir em até 80% as emissões de poluentes globais em relação ao uso de outros combustíveis fósseis. Apoiada pela Boeing, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e outros parceiros, a Amyris está trabalhando para trazer este novo combustível renovável para as companhias aéreas comerciais.