Palácio do Planalto, em 29/05/15
Em bate-papo no Twitter do Ministério da CT&I, especialista destaca os desafios do País na busca fármacos para doenças que se tornaram globalizadas.

Por meio da hashtag #LucioNoMCTI, internautas enviaram perguntas que foram respondidas pelo pesquisador
Doenças antes consideradas endêmicas ou restritas a países menos desenvolvidos, como a dengue e a febre chikungunya, se tornaram “globalizadas” recentemente. A constatação é do pesquisador Lucio Freitas-Junior, coordenador do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) na área de fármacos para doenças negligenciadas. O especialista conversou com os usuários no Twitter do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) nesta sexta-feira (29).
Para o estudioso, mesmo afetando um grande número de pessoas em todo o mundo, essas doenças ainda despertam pouco interesse das indústrias farmacêuticas. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece 17 doenças negligenciadas.
Lucio Freitas-Junior trabalha há mais de 20 anos com doença de Chagas, há 10 com leishmaniose e há quatro, com dengue e chikungunya. “Cada uma tem uma particularidade mas são todas bastante desafiadoras. O trabalho de descoberta de fármacos é multidisciplinar e isso ajuda a superar os desafios”, postou no Twitter.
De acordo com a OMS, as doenças tropicais negligenciadas causam cerca de 500 mil mortes anualmente e afetam cerca de 1,5 bilhão de pessoas, em um universo de 149 países. “Temos um desafio enorme pela frente mas acreditamos que o Brasil tem muito potencial para liderar este processo”, disse o especialista, lembrando que as principais causas do recente expansão da chikungunya e da doença do Zika Vírus (com sintomas muito parecidos) são a migração de pessoas e o aquecimento global.
Entre os desafios enfrentados, Lucio Freitas-Junior citou a importância da criação de parcerias público-privadas para o desenvolvimento de novos fármacos. “Há pouco investimento em pesquisas com doenças negligenciadas se comparado com outras áreas como o campo das doenças crônicas. As empresas acham que trata-se de um mercado pouco lucrativo. Isso não é verdade. Muitas dessas doenças estão em países ricos, como Estados Unidos, Austrália, e muitos países da Europa.”
Pesquisa e desenvolvimento no Brasil
No Brasil, o pesquisador destacou a tecnologia usada na busca por remédios no LNBio, que permite que várias substâncias sejam testadas ao mesmo tempo, acelerando os resultados. “O High Content Screening é uma nova tecnologia que vem revolucionando o campo de descoberta de fármacos para doenças negligenciadas. Poucos laboratórios no mundo dominam esta tecnologia, o LNBio é um deles.”
O Laboratório Nacional de Biociências trabalha para o desenvolvimento de remédios contra doenças negligenciadas, cardíacas, câncer, entre outras. A equipe busca entender bases moleculares destas doenças e desenvolver métodos alternativos ao uso de animais.
Segundo ele, o núcleo de inovação do @BiotecLNBio está pronto para trabalhar em parceria com o setor privado. “As instalações [do LNBio] estão abertas às comunidades científicas e empresariais. […] Para o País crescer, precisamos da participação da inciativa privada gerando tecnologia com valor de mercado. Criamos juntos, aprendemos juntos, produzimos juntos.”
O LNBio é um laboratório associado ao Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), organização social supervisionada pelo Ministério da CT&I, que conta ainda com os laboratórios nacionais de Luz Síncroton (LNLS), de Nanotecnologia (LNNano) e de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).
O Laboratório Nacional de Luz Síncroton opera a única fonte desse tipo de radiação eletromagnética da América Latina, além de um conjunto de instrumentações científicas para análise dos mais diversos tipos de materiais, orgânicos e inorgânicos. Já o Laboratório Nacional de Nanotecnologia realiza investigações com materiais avançados, com grande potencial econômico para o País. E o Laboratório Ciência e Tecnologia do Bioetanol, voltado à pesquisa em produção de energia investiga novas tecnologias para a produção de etanol celulósico.
Em visita às quatro instalações dos quatro Laboratórios Nacionais do CNPEM, o ministro da CT&I, Aldo Rebelo, destacou a importância do Centro para a construção da soberania científica e tecnológica do Brasil. Segundo o gestor da pasta, os temas de pesquisa do CNPEM, como biocombustíveis e doenças negligenciadas, correspondem às demandas mundiais e nacionais. “Aqui se faz ciência voltada às exigências do nosso povo e do Brasil”, considerou.
Popularização da ciência
A ação no Twitter é parte das comemorações dos 30 anos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Por meio da iniciativa, o governo federal pretende inspirar e despertar o interesse de jovens brasileiros pela área de CT&I.
O primeiro brasileiro civil a se tornar astronauta, Pedro Nehme, abriu a série de participações de pesquisadores e cientistas no perfil do MCTI no Twitter. A pesquisadora Rosaly Lopes, uma das maiores especialistas em vulcões na Terra e em outros planetas, foi a segunda a participar da série.
O terceiro participante foi o médico e pesquisador Miguel Nicolelis, responsável por colocar a ciência brasileira em evidência durante a Copa do Mundo, com a demonstração pública de um paraplégico dando o chute inicial do campeonato.
Fonte:
Portal Planalto com informações do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiaise Fiocruz