09/09/2010 – Portal MCT
O Brasil está perto de se tornar produtor de uma tecnologia considerada importante para o processo de extração de petróleo. Uma parceria entre o Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS/MCT), em Campinas (SP), e a metalúrgica brasileira Adest resultou na criação de um produto destinado a separar o óleo de resíduos arenosos.
De acordo com o coordenador do Grupo de Materiais do LNLS, Osmar Roberto Bagnato, o laboratório foi procurado pela Adest devido ao fato de já desenvolver um processo especial de soldagem. A empresa se interessou em empregar essa tecnologia na fabricação de um elemento filtrante para compor a chamada Tela Premium, a ser utilizada na extração de petróleo.
O Laboratório Síncroton produz uma radiação branca muito intensa para fazer estudos de materiais. Uma espécie de grande microscópio que disponibiliza radiação e permite aos pesquisadores enxergar átomos, moléculas e elétrons dentro dos materiais e ver como se comportam.
“Para produzir radiação síncroton, construímos uma máquina bastante sofisticada. Diversos de seus componentes utilizam técnicas de soldagem especial, uma delas é essa de soldagem por difusão, que permite soldar metais com cerâmicas, por exemplo. Então, essa tecnologia foi desenvolvida no laboratório para fabricar peça para os aceleradores de elétrons e que também pode ser usada para outras aplicações industriais”, esclarece Bagnato.
Pesquisa
Os estudos sobre o elemento filtrante foram iniciados em 1998 como parte de doutorado do engenheiro Osmar Bagnato. Com a aproximação da Adest, o projeto foi inscrito e aprovado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT), em 2008. O investimento total, incluindo a contrapartida das partes envolvidas, foi de R$ 1,4 milhão.
Os parceiros montaram a estrutura com uma prensa de grande capacidade acoplada a um forno de alta temperatura. Com isso, desenvolveram as condições para fazer a soldagem e a união das peças metálicas e desses elementos filtrantes.
“Fizemos amostras e elas foram qualificadas mecanicamente, por meio de ensaios de corrosão, de filtração, etc. O que é muito importante porque a finalidade desse elemento filtrante (da tela Premium) é segurar a areia que viria junto com o petróleo no momento da extração. Quando essa areia sobe para a plataforma ela corrói e danifica todos os equipamentos, então, o filtro separa a areia do óleo”, sustenta Bagnato.
A Tela Premium é formada por um conjunto de tubos furados, revestidos com um elemento filtrante. Esse elemento filtrante é composto por diversas telas e de três aberturas. As telas precisam estar unidas para conseguir integridade mecânica e aumentar a resistência mecânica do conjunto.
“Vamos transferir agora a tecnologia desse processo de soldagem e de elemento filtrante da Tela Premium para essa empresa privada que o produzirá em escala comercial”, informa o coordenador do LNLS.
Protótipos
O projeto de pesquisa foi encerrado e dois protótipos serão colocados num poço de terra da Petrobrás, provavelmente, em Sergipe. Se os equipamentos funcionarem bem servirão de passaporte para a Adest fornecer o produto para a Petrobras e para o mercado nacional num prazo de três anos.
A novidade atraiu a estatal de petróleo da Noruega, a Statoil Brasil. Interessada em comprar a tela Premium a empresa aportará mais de R$ 2,5 milhões para um novo projeto. “A empresa propôs um laboratório junto com a Adest para fazer o desenvolvimento de novos protótipos e qualificá-los em escala maior. Um trabalho de 14 meses que estamos começando agora no início deste mês”, informa Bagnato.
Ele ressalta ainda que as condições técnicas estão em transferência para a empresa, mas, em contrapartida, ela também paga royalties ao LNLS como pagamento pelo serviço prestado.“É bom para o laboratório, muito bom para a empresa, é bom para a ciência e tecnologia do País, que conta com um produto novo, e é bom para a economia porque deixamos de importar milhões de dólares, anualmente, além de capacitar mão-de-obra e desenvolver a indústria nacional. Um projeto coroado de sucesso”, comemora.
O Brasil importa hoje da ordem de R$ 40 milhões desses componentes para os poços de petróleo da Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. O trabalho de pesquisa colocará o País no seleto grupo de nações que detêm a tecnologia e condições para produzir a peça. Hoje, apenas três empresas em todo o mundo fabricam esse modelo de tela.