Campinas Press, em 9 de fevereiro de 2015
O Brasil vai ganhar em breve um novo acelerador de partículas de quarta geração, que está sendo construído em Campinas. O projeto do Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), batizado Sirius, será capaz de analisar graças à radiação a composição detalhada dos mais diversos materiais, beneficiando diversos setores do país, como a agricultura, a medicina, a biologia até a arqueologia.
O acelerador brasileiro Sirius é o único da América Latina, mas não o primeiro: mais potente, ele substituirá o UVX, menos moderno, inaugurado em 1997. Orçado em cerca de R$ 1,3 bilhão, o projeto é dirigido pelo físico Antônio José Roque e patrocinado principalmente pelo Ministério das Ciências e Tecnologia.
A construção do prédio que abrigará a máquina começou em janeiro, mas os anéis e imãs que serão utilizados para analisar as propriedades atômicas em escala nanométrica, das matérias orgânicas e inorgânicas, serão instalados posteriormente. A expectativa é que os aceleradores possam ser montados em 2017 e passem a funcionar com capacidade total entre 2019 e 2020.
“O projeto é inteiramente nacional, a construção de boa parte dos equipamentos é feita internamente no LNLS (Laboratário Nacional de Luz Síncroton), dependendo da tecnologia ou em parceria com empresas brasileiras. Recentemente lançamos um edital para atrair mais empresas para o projeto”, explica Antônio José Roque. Também há parcerias com laboratórios internacionais, já que o Brasil será pioneiro na utilização da luz síncotron de quarta geração – mais brilhante. Tecnicamente, essa é uma radiação eletromagnética produzida que abrange desde o infravermelho até os raios X.
O Sirius terá uma energia de 3 bilhões de elétrons-volts (GeV) e possui um anel de 165 diâmetros, onde as partículas serão aceleradas até atingir praticamente a velocidade da luz. O “brilho”, como os cientistas chamam a luz gerada pela máquina, revelam destalhes sobre a matéria interagindo com ela, como a distância ou propriedades eletromagnéticas. Em resumo, o equipamento funciona como uma espécie de “microscópio gigante.”
Contrariamente ao LHC, o acelerador europeu do CERN, responsável pela descoberta da partícula de Deus, o objetivo não é colidir as partículas –elas “viajam” na mesma direção. “Os físicos sempre construíram aceleradores para analisar a estrutura da matéria, que tinham o objetivo de serem colisores – colidir contra um alvo ou uma contra a outra, para investigar o que há dentro da matéria, como o LHC, um acelerador de prótons ou núcleos, para entender o que há dentro no nível dos quarks, e entender a origem do universo”, explica.
“O objetivo do síncroton é acelerar elétrons e desviando sua trajetória, obter radiação, com raios-x, infravermelho ou ultravioleta. E essa radiação cobre uma faixa de energia dos fótons e tem um grande brilho, podendo ser usada para examinar materiais orgânicos e inorgânicos”, diz.
Energia é usada em todas as áreas de conhecimento
O físico lembra que o aumento do brilho é essencial para a utilização da tecnologia em diferentes áreas, como a biologia molecular, por exemplo. “Simplificando, é como pegar um quadro antigo e entender do que foi feita a tinta daquele quadro, qual a origem…ou ainda pegar uma semente, alterá-la para que seja mais nutritiva, e com o síncroton avaliar se aquele nutriente está sendo depositado”, conclui.
Agência RTI