02/03/2010 – Transpo online
A União européia já definiu que até 2020, seus 27 países membros, deverão elevar o índice de combustíveis renováveis aos de origens fósseis para proteger o meio ambiente do severo ataque do efeito estufa agravado, especialmente, pelo CO². O governo brasileiro, mesmo sem um calendário tão definido, tem se adiantado à iniciativa e levantado essa bandeira, provocando o debate para despertar o interesse internacional pelo etanol produzido no país. A indústria nacional está de fato bastante avançada nesse quesito, até porque o Brasil é um grande produtor de biomassa de diversas fontes agrícolas, tanto para a produção de combustível de primeira como de segunda geração ou 2G.
Segundo Pedro Luiz Fernandes, presidente da Novozymes Latin America, entre os dias 22 a 24 de março, a empresa apresentará, em São Paulo, na F.O. Licht’s Sugar and Ethanol Brazil 2010, evento voltado para o mercado sucroalcooleiro, dois novos produtos que permitem a produção de etanol de segunda geração, a partir de resíduos agrícolas. “A tecnologia baseia-se nas enzimas batizadas de Cellic CTec2 (celulase) e a Cellic HTec2 (hemicelulase), que podem liberar os açúcares contidos na palha de milho, restos de madeira e bagaço de cana-de-açúcar, por exemplo, e foi fruto de mais de 10 anos de pesquisas”, comenta.
Como no país a biomassa mais abundante é o bagaço de cana-de-açúcar, amplamente usado na produção de alimento para gado, adubo orgânico e para a queima, a Novozymes defende que o subproduto também seja utilizado para a produção, em escala comercial, de etanol de segunda geração. Ou seja, o que sobra da manufatura de açúcar e álcool combustível, pode ser reaproveitado mais uma vez para se obter ainda mais etanol com a utilização de suas enzimas. “Não temos a pretensão de vender a idéia de que o etanol de segunda geração causará menos impacto ao meio ambiente do que o de primeira, mas que o incremento de seu uso pode mitigar os danos e elevar consideravelmente a produção de combustível a partir das mesmas safras”, explica. A redução de custos de cuidados no campo, do plantio à colheita, é um cálculo que deve ser levado em conta na adoção das enzimas.
As enzimas, da Novozymes, baseiam-se em proteínas especializadas em catálise biológica, capazes pré-tratar o bagaço, separando a celulose de outras substâncias, como a lignina, cujas moléculas são resistentes e representam um desafio científico para isolá-las, visto que são desnecessárias no processo. Isso feito será possível a transformação do substrato do bagaço em açucares fermentáveis e, posteriormente, em etanol de segunda geração – etapa que a Novozymes já venceu. “A produção de etanol celulósico poderia ser vista como uma fonte de renda complementar a outras já existentes na indústria sucroalcooleira”, afirma.
Segunda geração – Fernandes revela que as novas enzimas também foram apresentadas, na semana passada, nos Estados Unidos, e que já em 2011 começará a produção do etanol a partir da palha e do sabugo do milho em suas usinas. As primeiras plantas comerciais produzirão etanol celulósico nos EUA poderão chegar a um preço de custo abaixo dos US$ 0,50 por litro do combustível, valor similar ao do etanol de primeira geração e da gasolina comercializada naquele país. Essa cifra reflete o resultado das pesquisas com as enzimas Cellic, que, depois de investimentos massivos, apresentaram uma redução de 80% no custo de fabricação, ficando em US$ 0,13 para cada litro de etanol produzido.
A Novozymes calcula que as primeiras usinas pré-comerciais serão viabilizadas no Brasil no ano que vem ou em 2012, mas que neste ano a divulgação da tecnologia será fundamental para a possível produção de etanol de segunda geração no mercado nacional. E a primeira iniciativa já foi tomada. “Estamos celebrando parcerias para habilitar o uso dessa tecnologia em escala comercial no país”, antecipa.
Um exemplo é o CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia de Bioetanol ), situado de Campinas (SP), um centro de excelência que já pode produzir em sua planta a Cellic, em escala piloto. Outro é o apoio do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), de Piracicaba (SP), que está pré-tratando o bagaço para a separação da celulose e a Novozymes entra com a biotecnologia. Além disso, a Universidade Federal do Paraná também está pesquisando a biomassa de bagaço de cana.
“Não há diferença de desempenho entre o etanol de segunda geração em relação ao de primeira. Ao contrário, ele é competitivo. O que precisa é viabilizar a produção de enzimas em escala comercial”, explica. Segundo Fernandes, o governo brasileiro tem dispensado à empresa diversas formas de apoio em seus projetos de desenvolvimento de novas biotecnologias. Para se ter uma idéia, dos US$ 0,50 do etanol 2G, 26% representa o custo da enzima. Um exemplo bem mais ilustrativo pode ser extraído de uma simples moenda de garapa, dessas que vemos em feiras livres. “Vamos supor que durante o período o fabricante de garapa produza 50 kg de bagaço. Isso processado seria equivalente a 5 a 7 litros de etanol 2G. Numa conta simples, com esse combustível dá para rodar de 60 km a 90 km num carro de passeio”.
A dinamarquesa garante que será capaz de fornecer volume de enzimas que forem necessários para o segmento tanto no âmbito nacional como no internacional, quando o etanol 2G começar a ser produzido por aqui.