MCTI em 10/outubro de 2016
Segundo a pesquisadora Sandra Dias, do LNBio, aumento do número de exames para diagnóstico ainda não foi suficiente para conter o avanço da mortalidade. “Uma fração pequena é agressiva. A detecção é tudo”, diz.
No Brasil e no mundo, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres. Somente em 2016, são esperados 57.960 novos casos, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer. Embora a ciência tenha avançado no tratamento e aumentado as chances de cura, o diagnóstico precoce é decisivo para conter o avanço da mortalidade. A avaliação é da pesquisadora Sandra Dias, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), vinculado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), localizado em Campinas (SP). Segundo ela, governo e comunidade científica se empenharam em pesquisas para combater o câncer de mama, mas o esforço não foi suficiente para reduzir o número de mortes.
“A incidência e os casos de morte têm aumentado. A idade é um dos mais importantes fatores de risco para a doença – cerca de quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos. Outros fatores que aumentam o risco da doença são ambientais e comportamentais, a história reprodutiva e hormonal, genéticos e hereditários. É um câncer altamente tratável se diagnosticado precocemente. Uma fração pequena é agressiva. A detecção é tudo”, diz a pesquisadora.
Ela ressalta que os exames para diagnóstico cresceram no Brasil – 1,8 milhão de mamografias foram realizadas entre janeiro e junho de 2015, o que representa um aumento de 31% em relação a 2010. Na idade considerada prioritária, que é 50 anos, a quantidade de exames realizados cresceu ainda mais: 51%. Por isso, ações de conscientização como a campanha Outubro Rosa são importantes, mas o número de mortes por câncer de mama ainda não recuou.
“A incidência de câncer de mama aumenta no mundo todo, mas a mortalidade em países desenvolvidos está em queda, enquanto no Brasil ainda é crescente. O Sul e o Sudeste, as regiões mais desenvolvidas do país, apresentam os maiores índices de incidência, mas não de mortalidade”, relata.
Sandra Dias explica que, no Brasil, a curva ascendente de incidência do câncer de mama tem início a partir dos 25 anos de idade. A mortalidade concentra-se, em grande parte, por volta dos 45 e 50 anos. “O tratamento do câncer de mama e diversos outros tipos é feito por cirurgia e radioterapia. O que mudou muito nos últimos anos é a qualidade dos procedimentos cirúrgicos e a evolução dos medicamentos”, diz.
O CNPEM, que é ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, tem uma série de pesquisas voltadas para o tratamento do câncer. Uma delas resultou no desenvolvimento de marcadores metabólicos inéditos no mundo para identificar células cancerígenas e indicar o melhor método de tratamento.
“Foram desenvolvidos pelo Laboratório Nacional de Biociências, do CNPEM, marcadores para avaliar os metabólitos do sangue e verificar se o paciente, por exemplo, terá resistência ou não para um e outro tratamento, ou ainda se determinado tratamento será efetivo, do contrário, será necessário propor ações alternativas”, explica a pesquisadora.
Além dos marcadores, o CNPEM desenvolve pesquisas em metabolismo, fármacos (sintéticos e naturais) e novas drogas. “São diversos projetos relacionados à doença. Procuramos novas drogas que possam inibir o avanço da doença, levantamos informações importantes sobre proteínas que possam ser importantes no câncer. Temos um projeto chamado “Human on a chip” (ser humano em um chip, em inglês), que utiliza chips com culturas de células humanas para testes de laboratório”, conta.
Ela acredita que há hoje, por parte dos pesquisadores, entendimento mais aprofundado das modificações das células e as terapias que focam especificamente as células doentes. “É claro que depende do estágio da doença. Por isso, é muito importante o diagnóstico precoce. Mas temos terapias com anticorpos, por exemplo, cuja grande vantagem é serem prescritas baseando-se no entendimento do tumor de mama que a mulher tem e, com isso, combater a doença produzindo menos efeitos colaterais no organismo.”
De toda maneira, Sandra reforça a importância das ações de conscientização para que as mulheres estejam atentas e a realização de exames periódicos. “O estilo de vida é importante para prevenir diversos tipos de câncer. Atividade física regular e hábitos alimentares saudáveis reduzem os riscos. Mas uma dieta rica em gordura animal, obesidade, pós-menopausa, a mulher não ter tido filho ou não ter amamentado influenciam no surgimento do câncer de mama. Mas a doença não acomete só as mulheres. Cerca de 1 a 2% dos homens são diagnosticados com câncer de mama. Nas mulheres, essa taxa é de cerca de 25% a 30%”, afirma.
Ciência sem Fronteiras
A estudante de medicina da Universidade Federal de Viçosa (MG), Camila Vidotti, durante a graduação-sanduíche pelo programa Ciência sem Fronteiras na Universidade de Sydney, na Austrália, teve a oportunidade de trabalhar junto com os maiores pesquisadores em percepção radiológica do mundo, os professores Patrick C Brennan e Mohammed Rawashdeh. Com eles, a jovem descobriu como a ciência está engajada na luta contra o câncer.
No contexto da campanha Outubro Rosa, que busca alertar a sociedade para a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, Camila contou a experiência de trabalhar com uma equipe multidisciplinar. “Vi muitas inovações já alcançadas, mas ainda há muitos caminhos a serem percorridos para a implementação dessas novas descobertas.”
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