Unicamp, em 03/12/2013
Biorrefinarias envolvem uma instalação industrial onde são produzidos combustíveis, energia, materiais, insumos e variadas moléculas orgânicas com base na biomassa. As usinas de cana-de-açúcar e as indústrias de celulose e papel são exemplos de biorrefinarias que já estão em operação no país. Juntas, elas conseguem otimizar e criar produtos sustentáveis. Com isso, essa abordagem torna-se cada vez mais interdisciplinar.
A explicação é do pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Energéticas (Nipe) Mauro Donizete Berni, durante o evento TEDxUnicamp, em sua terceira edição, realizado no Centro de Convenções da Universidade na manhã desta terça-feira (3). Evento organizado pelo professor José Fornari (do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora – Nics), o TEDx prossegue à tarde com outras palestras, que têm como peculiaridade o fato de não ultrapassarem 15 minutos em cada ministração e serem divulgadas através do YouTube para outros países. Os Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen), congregados na Cocen, terão a oportunidade de mostrar as pesquisas que desenvolvem colaborativamente. O seu responsável, Jurandir Zullo, abriu o evento.
Mauro Donizete conta que desenvolve pesquisas no Nipe relacionadas às biorrefinarias, que incluem resíduos, lixos, florestas. Esse material é obtido e é quebrado em moléculas menores, gerando biopolímeros, plásticos degradáveis com aproveitamento pela indústria farmacêutica, de modo a criar valor a produtos que em tese seriam jogados fora. Uma biorrefinaria pode integrar, em um mesmo espaço, processos de obtenção de biocombustíveis, produtos químicos, energia elétrica e calor, entre outros.
O conceito de biorrefinaria, define o palestrante, é similar ao conceito de uma refinaria de petróleo, da qual sai óleo diesel e outros combustíveis como o etanol. “Ingressei na Unicamp em 2010. Vim da indústria de papel e de bebidas. O setor papeleiro, por exemplo, não lida somente com papel. Tem a casca, a queima para alguma aplicação e a hemicelulose (que está intercalada com as microfibrilas de celulose, conferindo elasticidade e impedindo que elas se toquem). É empregada para desenvolver outros produtos.
Na 19ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-19), ocorrida recentemente na Polônia, a questão do aquecimento global foi retomada a fim de viabilizar biocombustíveis e biomateriais, não obstante a crise mundial e econômica. Isso porque o preço do petróleo e de outras energias começam a subir no mercado. “Vejo isso com bons olhos e creio que temos, em longo prazo, um bom potencial competitivo, até por conta da necessidade da humanidade”, salientou.
Ele enfatizou que, no ramo do álcool, planta-se cana e obtêm-se o álcool, o bagaço e a lixívia (um resíduo que pode ser aproveitado). “Temos o álcool de segunda geração, as enzimas; o país produz os equipamentos”, relata. Em Campinas, existe o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), um centro de pesquisas de grande projeção. Há ainda pesquisas na área de oleaginosas, que incluem o pinhão manso e o coco”, exemplifica Mauro Donizete.
Mas não há muitas biorrefinarias no Brasil. Tema de interesse mundial, no que diz respeito à criação de uma matriz energética renovável e sustentável, as possibilidades de viabilizar da melhor forma as biorrefinarias é um ponto crucial nas discussões. Na opinião do pesquisador, quando se trabalha com o álcool e o açúcar, economicamente é possível se manter. E de repente a palha já está sendo aproveitada e vai sendo, aos poucos, montada uma planta.
Em breve, menciona ele, será inaugurado em São Manuel (interior de São Paulo), um leilão de energia com palha. “No Estado, ela não pode mais ser queimada e estamos recolhendo-a, pois possui celulose e resulta em álcool de segunda geração. Então já começa a haver aí uma biorrefinaria. Já temos álcool, açúcar e vamos ter palha sendo produzida. A ideia é que essa área se desenvolva muito e que o nosso país seja um dos principais players no mundo”, ressaltou o pesquisador.