Embrapa, 06/09/2016
A Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e o Ecoinvent Centre, realizou de 31 de agosto a 2 de setembro treinamento sobre “Elaboração de Conjunto de Dados de Inventário conforme Ecoinvent”, base de dados que hoje se encontra na versão 3 e é a principal e mais completa base de dados internacional utilizada para apoiar a elaboração de Inventários de Ciclo de Vida – ICV. O treinamento no Guia Metodológico e no editor deste banco de dados, o ecoEditor, foi destinado aos membros do projeto ICVAgroBR (Life Cycle Inventories of Brazilian Agricultural Products: a contribuition to the Ecoinvent database).
A pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, coordenadora do curso e líder da Rede Embrapa de ACV (Avaliação de Ciclo de Vida), Marília Folegatti Matsuura, após dar informações acerca do ICVAgroBR aos membros do projeto, falou sobre a elaboração de inventários de processo para o Ecoinvent, que baseia-se no método de Avaliação de Ciclo de Vida padronizado pelas normas ISO 14040:2006 e 14044:2006.
Letícia Barrantes e Cássia Ugaya da UTFPR forneceram informações acerca das diferenças entre a versão 3 e 2 do Ecoinvent, bem como especificidades para o setor agrícola, incluindo a contabilidade de água e de carbono, além da mudança de uso da terra e suas emissões. Também ministraram aula sobre uso do ecoEditor, usando como exemplo específico a soja, parte importante do curso, pois possibilita acesso à base de dados do Ecoinvent.
Juliana Picoli da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp e estagiária da Embrapa Meio Ambiente deu sequência ao programa, falando sobre como criar um dataset no ecoEditor com sua devida documentação, como parametrizar fluxos e como avaliar a incerteza dos dados (Matriz Pedigree).
No dia 2 de setembro, via Skype, Emília Moreno Ruiz do Ecoinvent Centre explanou sobre os erros mais comuns de validação e como resolvê-los na submissão de datasets (conjunto de dados de inventário e metadados, que pode ser armazenado em um banco de dados) ao Ecoinvent, via ecoEditor.
Ecoinvent
Assim como o Brasil, outros países têm se deparado com o mesmo desafio de criar bases de dados de ICV adequadas às suas condições. Na França, o AgriBalise, desenvolvido pelo Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), é um programa que visa gerar uma base de dados de ICV para as 40 matérias-primas agrícolas mais consumidas no país.
Na Suíça, o SALCA (Swiss Agricultural Life Cycle Assessment), conduzido pelo Agroscope Reckenholz-Tänikon (ART), compreende uma base de dados com ICV de produtos agrícolas suíços, desenvolvida em cooperação com o Swiss Centre for Life Cycle Inventories.
A Ecoinvent, a principal e mais completa base de dados internacional de Inventários de Ciclo de Vida, reúne milhares de conjuntos de dados e atende a mais de 6 mil usuários. É gerida pelas instituições Agroscope Reckenholz-Tänikon (ART), Empa, ETH Lausanne, ETH Zurich e The Paul Scherrer Institute.
Abrange inventários para produtos agrícolas, madeira, papel e celulose, outras fibras renováveis, metais, químicos, plásticos, eletrônicos, materiais de construção; e processos de geração de energia, transporte, engenharia mecânica e tratamento de resíduos.
Segundo Marília, os principais diferenciais desta base de dados são a credibilidade e transparência dos seus dados, bem como a independência das suas instituições de acolhimento. “Os usuários da Ecoinvent também podem atuar como fornecedores. Além disso, a integração dos conjuntos de dados gerados em diferentes países contribui para a internacionalização desta base de dados”, explica ela. Deste modo, o treinamento oferecido aos membros do projeto é de extrema importância para gerar ICVs confiáveis, que permitirão a realização de estudos de ACV para produtos da agropecuária nacional.
Inventário de Ciclo de Vida (ICV)
O Inventário de Ciclo de Vida (ICV) de um produto consiste em um extenso e detalhado levantamento de dados, cuja execução demanda muito tempo e recursos, e que pode ser muito facilitada pela utilização de bancos de dados. Entretanto, Marília salienta que “os principais bancos de dados de ICV hoje disponíveis são europeus e norte-americanos e neles constam pouquíssimos inventários de produtos brasileiros”.
Os ICV contabilizam o material e energia envolvidos em um processo produtivo e reúnem informações que descrevem quantitativamente a tecnologia empregada neste processo, bem como refletem seu escopo geográfico e temporal. Isto significa dizer que um ICV confere identidade a um processo. Assim, os ICV devem ser construídos respeitando fielmente o escopo dos processos, para que de fatos os representem. Para tanto é imprescindível a consideração das particularidades da região onde é praticado.
Algumas especificidades do Brasil, como a de ter uma matriz energética mais limpa e, para alguns produtos agrícolas (como é o caso da soja e da cana-de-açúcar, por exemplo), a de estar em um nível tecnológico bastante avançado, devem ser consideradas na elaboração de ICV e podem ser muito favoráveis em estudos de ACV comparativos. “Isto pode atender à defesa dos produtos brasileiros no mercado internacional e orientar políticas públicas”, salienta Marília.
Até 2015 uma das maiores dificuldades para o uso da metodologia de ACV no Brasil era a inexistência de bancos de dados de inventários nacionais. A primeira base de dados de ACV foi lançada em março deste ano, conhecida como Banco Nacional de Inventários do Ciclo de Vida do Brasil – SICV Brasil.
Pesquisas em Avaliação de Ciclo de Vida
A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta de gestão que permite avaliar o desempenho ambiental de produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida. De acordo com Marília, “estudos de ACV tratam sistemática e adequadamente dos aspectos ambientais de sistemas de produto, desde a aquisição de matérias-primas à disposição final (cradle to grave)”.
A ACV também se aplica à identificação dos estágios do ciclo de vida que mais contribuem para a geração de impactos; à avaliação da implementação de melhorias; à integração de aspectos ambientais ao projeto e desenvolvimento de produtos; e ao subsídio a declarações ambientais. “É uma metodologia com forte base científica e reconhecida internacionalmente, sendo padronizada pelas normas ISO 14040:2006 e 14044:2006”, salienta.
Em vários países a ACV é considerada para a formulação de políticas públicas. Na Alemanha, por exemplo, é adotada como base para o estabelecimento de critérios para rotulagem ambiental de produtos e para a definição de quotas mandatórias de reuso e reciclagem. Na França, a regulação Grenelle exige certificações baseadas em estudos de ACV para todos os produtos industrializados comercializados no país. Na América Latina, México, Chile e Peru trazem em sua legislação a obrigatoriedade da realização de estudos de ACV para biocombustíveis. Segundo Marília, “exigências desta natureza podem vir a se constituir em uma barreira não-tarifária no comércio internacional, inclusive restringindo exportações de brasileiras”, enfatiza.
Deste modo, “além de subsidiar a implementação de novas políticas públicas ambientais, a ACV habilita o setor privado a ofertar produtos menos impactantes ao meio ambiente, e permite aos consumidores adotar um comportamento ambientalmente amigável.
Lideradas por Marília, a Embrapa Meio Ambiente vem desenvolvendo desde 2009 trabalhos sobre ACV de biocombustíveis, além de outros produtos, sendo um novo desafio a ACV de produtos da pecuária.
Projeto ICVAgroBR
O projeto ICV AgroBR foi proposto dentro da chamada de propostas para “Life Cycle Inventory (LCI) data collection, LCI dataset creation and submission to ecoinvent’, emitida pelo programa Sustainable Recycling Industries – SRI em 04.02.2016. O ICV AgroBR foi construído em conjunto com instituições externas (nacionais e internacionais). A assinatura está prevista para outubro de 2016.
Liderado também pela Embrapa Meio Ambiente, reúne mais seis Unidades de Pesquisa da Embrapa, (Agroindústria Tropical, Gado de Corte, Informática Agropecuária, Milho e Sorgo, Pantanal, Soja) e os parceiros Agroscope; Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol; Fundação Espaço Eco (FEE), Quantis e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), além de outros colaboradores..
O objetivo é elaborar ICVs de cana, soja, milho, manga, eucalipto e pecuária. Os inventários de pecuária serão os primeiros a constar em bancos de dados representando a realidade brasileira.
Eliana Lima (MTb 22.047/SP)
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