Coração e Vida em 26/06/2014
Surto da doença alerta mais uma vez para a importância da prevenção independente da época do ano
No maior surto de dengue dos últimos cinco anos, apenas a cidade de São Paulo registrou 6.005 casos durante as primeiras 20 semanas de 2014. Segundo relatório da Secretaria da Saúde de São Paulo, cinco mortes foram confirmadas na capital. Para os próximos meses, no entanto, o maior risco de contágio deve se concentrar em cidades do norte e nordeste do Brasil. O que não quer dizer que os cuidados devam ser reduzidos por parte de quem vive nas outras regiões do País.
A jornalista Carolina Martins, 33 anos, de Santos, litoral de São Paulo, enfrentou a doença em fevereiro. Toda sua família já havia adoecido em outras ocasiões. Carolina sentiu muita dor de cabeça e pelo corpo, além de febre e um cansaço tão grande que mal conseguia parar em pé. “Só comecei a melhorar depois de 15 dias”, diz. O tratamento foi à base de analgésico e muita água. “Continuei trabalhando, mas deitada no sofá.”
Carolina conta que sempre coloca repentes elétricos nas tomadas. “Mas de uns meses para cá, notamos que não fazem mais efeito”. Em dias de calor, a família investe em camadas de repelente, inclusive antes de dormir. “O que me intriga é que o governo não se preocupa. Pelo menos aqui em Santos, parece que a dengue já virou rotina. Nas conversas, perguntam se é sua primeira vez com a doença e ainda dizem: eu tenho todo ano”, diz ela, que julga as campanhas de educação tímidas demais por parte do governo e, por consequência, ineficientes.
Lúcio Freitas, coordenador de Bioensaios do Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM), concorda: “é necessária uma política de educação séria para evitar a formação de criadouros. Sabemos que no ano que vem teremos um novo período de transmissão, como já acontece nos últimos 20 anos, e temos que nos preparar antes”. O pesquisador, que é especialista em doenças negligenciadas – como malária, dengue e leishmaniose -, acredita ainda que, além de educar a sociedade para reduzir os riscos, “os governos federal, estaduais e municipais precisam propor algo eficiente, como por exemplo, para o monitoramento de casos”. Leia a seguir a entrevista que Freitas concedeu ao site Coração & Vida:
Coração & Vida – Por que a dengue não dá trégua no Brasil?
Lúcio Freitas – A dengue é um problema mundial. Há casos da doença na América Latina, em muitos países africanos e também em países ricos, como Austrália e Singapura. A questão de ser cada vez mais incidente no Brasil está relacionada a vários fatores. Há, por exemplo, as grandes e desorganizadas concentrações humanas, como favelas e outros lugares que não propiciam condições ideais de moradia. Esses espaços facilitam a progressão do mosquito da dengue. Já outras condições, como o aquecimento global, são comuns a todos. Áreas territoriais estão se tornando mais quentes, possibilitando a presença do mosquito da dengue.
Coração & Vida – Alguns especialistas dizem que os casos de dengue têm piorando no país e que a reação que os doentes têm ao serem contaminados é mais grave. Faz sentido?
Freitas – Eu acredito que, como a incidência de dengue está muito maior, temos mais casos de dengue hemorrágica. Na maioria das vezes, estes casos ocorrem quando as pessoas contraem um tipo de dengue e depois são infectadas por outro sorotipo. Então, se temos mais casos de dengue, temos também mais casos de dengue hemorrágica.
Coração & Vida – O que fazer para eliminar de vez a doença?
Freitas – A eliminação da dengue é praticamente impossível, mas podemos agir para uma redução dramática. Os governos federal, estaduais e municipais precisam propor algo eficiente, como por exemplo, para o monitoramento de casos. Quando os primeiros focos de dengue são identificados em determinada região, deveríamos unir esforços para reduzir a incidência neste local. Precisamos agir em tempo real para apurar números reais. Também estamos atrasados na compra de materiais básicos, como caminhões que fazem o “fumacê”. Sabemos que temos dengue, então é lamentável esperar para agir. Falta uma política duradoura e permanente para o controle da dengue. Também é necessária uma política de educação séria para evitar a formação de criadouros.
Saiba reconhecer os sintomas
Conheça os sintomas clássicos da dengue. Ao surgirem os primeiros sintomas procure o quanto antes orientação médica. As manifestações iniciais podem ser confundidas com outros males como febre amarela, malária e leptospirose.
– Febre alta que começa de repente
– Forte dor de cabeça e nos olhos (que piora com o movimento dos mesmos)
– Dores nas articulações
– Perda de apetite / Moleza
– Náuseas, vômitos e tonturas
– Manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo
ATENÇÃO! Os sintomas da dengue hemorrágica são os mesmos da dengue comum. Existem, porém, sinais de alerta que surgem quando acaba a febre e que não necessariamente aparecem simultaneamente. Alguns pacientes podem ter apenas um ou alguns dos sintomas abaixo. O quadro pode se agravar e levar a pessoa à morte em 24 horas. Segundo dados do Ministério da Saúde, 5% das pessoas com dengue hemorrágica morrem:
– Dores abdominais constantes
– Vômitos persistentes
– Sangramento pelo nariz, boca e gengivas
– Manchas vermelhas na pele
– Pele úmida, fria e palidez
– Pulso rápido e fraco
– Boca seca e muita sede
– Sonolência, agitação e confusão mental
– Dificuldade para respirar
– Perda de consciência