Folha de S.Paulo, 07/08/2016
Mariana Versolato
A saliva de pacientes com câncer de boca pode ser usada para avaliar a progressão da doença, segundo um estudo brasileiro publicado na revista “Scientific Reports”, do grupo Nature.
O trabalho venceu a categoria Pesquisa em Oncologia do Prêmio Octavio Frias de Oliveira. A cerimônia de entrega será na terça (9), às 19h, no teatro da Faculdade de Medicina da USP.
A premiação é iniciativa do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), em parceria com o Grupo Folha. A láurea, que leva o nome do então publisher da Folha, morto em 2007, busca reconhecer e estimular contribuições na área oncológica.
Na categoria Inovação Tecnológica, venceu um estudo do Instituto Butantan que mostrou que uma proteína da glândula salivar do carrapato-estrela (Amblyoma cajennense) teve ação antitumoral em testes in vitro.
O médico Aristides Pereira Maltez Filho será o premiado na categoria Personalidade em Destaque. Formado pela Universidade Federal da Bahia, ele é presidente da Liga Bahiana contra o Câncer, em Salvador. A instituição filantrópica é mantenedora do Hospital Aristides Maltez, que leva o nome de seu pai, idealizador do projeto.
Para cada categoria, a premiação é de R$ 16 mil. Integram a comissão julgadora do projeto representantes da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências.
Nesta sétima edição, o prêmio teve 53 trabalhos inscritos, contra 60 no ano passado e 15 em 2014.
“A qualidade dos estudos foi muito alta, o que mostra que a ciência brasileira produz excelência apesar da situação econômica delicada do país. Por isso, somos cada vez mais defensores da simplificação dos processos para aprovar pesquisas, como forma de incentivar a produção e atrair pesquisa patrocinada para o Brasil, desde que legítima e transparente”, afirma o oncologista Paulo Hoff, diretor do Icesp.
PESQUISAS
Neste ano, a saliva foi, curiosamente, protagonista dos dois estudos premiados.
Pesquisadores do LNBio (Laboratório Nacional de Biociências), do Cnpem (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), da Faculdade de Odontologia da Unicamp e do Icesp mostraram que a saliva dos pacientes com câncer de boca tem alterações que podem ajudar a definir o prognóstico dos pacientes e guiar o tratamento da doença.
A análise de proteínas presentes na saliva de três grupos de indivíduos –com lesão ativa do câncer oral, sem lesão ativa após cirurgia e saudáveis– apontou diferenças significativas entre eles.
O resultado foi a identificação de 38 proteínas exclusivas nos indivíduos com lesões ativas e cinco encontradas só no grupo sem lesões.
Além disso, uma proteína específica chamada PPIA se mostrou relacionada a um pior prognóstico da doença quando aparecia em menor abundância na saliva.
“A expectativa é que a saliva possa ser usada na prática clínica para ajudar na decisão do tratamento”, afirma Adriana Franco Paes Leme, pesquisadora do LNBio e coordenadora do estudo.
Na pesquisa vencedora em Inovação Tecnológica, testes in vitro mostraram que uma proteína da glândula salivar do carrapato-estrela é um promissor agente antitumoral. A substância inibiu a proliferação de 23 linhagens de células tumorais humanas, sem ação sobre células normais. Os testes de eficácia e segurança em humanos devem começar em 2017.
PRÊMIO OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA
ONDE Teatro da Faculdade de Medicina da USP (avenida Dr. Arnaldo, 455, São Paulo)
QUANDO Terça (9), às 19h
O infográfica da matéria pode ser conferido em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/08/1799591-estudo-que-mostra-como-a-saliva-ajuda-a-avaliar-cancer-leva-premio.shtml.
Repercussão: FAPESP; Fundação do Câncer; CTO-PA; CRFSP; CEBROM;