G1 Campinas e Região em 20/05/2016
Quando inaugurado, projeto brasileiro será liderança mundial de síncrotrons.
Na 4ª reportagem, especial mostra que tecnologia estará no ‘estado da arte’.

Maquete digital do Projeto Sirius que está sendo construído em Campinas (Foto: Divulgação/ LNLS).
“O Sirius está sendo desenhado para ter uma sobrevida de décadas, principalmente porque em algumas questões, características, ele está no limite do que a física permite […] a vida útil dele é de pelo menos uns 30 anos”, afirma Antônio José Roque da Silva, diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), sobre o superlaboratório que está sendo construído em Campinas (SP)
O projeto ganhou o nome de Sirius em referência a uma estrela de grande brilho localizada na constelação de Canis Major. Quando ficar pronto em 2018, ele vai ser liderança mundial em síncrotrons, superando o que será inaugurado em junho deste ano na Suécia.

Sirius ficará pronto em 2018 e abrirá ao público em 2019 (Foto: Divulgação/ LNLS).
O Sirius será um superlaboratório de 68 mil m² em um terreno de 150 mil m² junto ao campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (Cnpem), onde está instalado o Polo II de Alta Tecnologia [veja as maquetes acima]. A área total equivale a 21 campos de futebol.
O custo estimado é de, aproximadamente, R$ 1,3 bilhão. A obra e os equipamentos são financiados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, já o terreno foi comprado pelo governo estadual. Não há verba privada neste momento do projeto.
Na última reportagem da série especial sobre o superlaboratório, o G1 vai falar sobre o impacto que o Sirius trará para ciência brasileira e mundial, e como ele colocará a tecnologia em “estado da arte”, que é o ponto mais alto do conhecimento científico.
Na primeira reportagem, o especial abordou os usos da luz síncrotron. Na segunda, o assunto foio nascimento do LNLS, o “embrião” do projeto Sirius . Já na terceira, foi a vez de mostrarpesquisadores e estudos desenvolvidos.

Mapa das fontes de luz síncrotron pelo mundo (Foto: Henrique Maruyama/ Arte G1).

Segundo Antônio José Roque da Silva, os primeiros estudos do projeto Sirius começaram em 2009, quando nascia a terceira geração de síncrotrons, que é a usada pela comunidade científica atualmente.
“O projeto foi feito entre 2009 e 2012 e foi sendo estruturado, protótipos foram sendo fabricados, ou seja, o projeto evoluiu até que nós decidimos que estávamos prontos para uma apresentação […] Então, em 2012 formamos esse comitê, com representantes dos Estados Unidos, Europa e da China”, afirma.
No entanto, o diretor destaca que durante a avaliação, o comitê deu uma recomendação, que mudou todo o rumo do projeto.
“Eles analisaram e disseram o projeto estava excelente pelos padrões de hoje e o hoje era 2012. Só que eles falaram que o mundo estava iniciando, através de um projeto na Suécia, uma nova geração síncrotrons […] era um avanço tecnológico que ia aumentar o brilho. Aí, eles recomendaram uma análise para construir algo parecido”, explica.
Então, os pesquisadores concluíram que era necessário seguir a nova tendência de síncrotrons para não nascer numa tecnologia abaixo. “Reprojetamos o Sirius inteiro para o desenho atual dele e que passa, então, nesse momento a ser pioneiro, inclusive aproveitando o que tinha sido aprendido com o síncrotron sueco [..] nós fizemos avanços, melhorias em relação a esse projeto, com soluções nossas”, conta.

Quando inaugurado, o Sirius assumirá a liderança mundial de síncrotrons e o país será uma referência entre os laboratórios mundiais. “Quando ele ficar pronto, seguindo o cronograma que é ter o primeiro feixe de luz em 2018, e aí abrir para usuário em 2019, ele será um dos dois únicos de quarta geração e inclusive, sendo projetado para ter um brilho maior do que o sueco, porque ele veio um pouco depois”, pontua Silva.
Além disso, a vida útil do laboratório será longa porque vai ser possível ir atualizando o equipamento, o que deve fazer com que o Brasil permanece na liderança mundial da categoria.
“Em 30 anos você sai da estaca zero e passa a ter um projeto que é liderança mundial. Que coloca o Brasil na fronteira, então tem impactos tecnológicos significativos. [..] Vamos prover para comunidade brasileira e internacional, uma ferramenta que vai permitir trabalhos na fronteira, no estado da arte”, salienta. [veja o andamento das obras no vídeo abaixo]

As obras começaram logo após o lançamento da pedra fundamental e assinatura do contrato em dezembro de 2014 e, segundo Silva, estão dentro do planejado. “A parte civil evoluiu, está com pouco mais de 20% executado. Alguns itens finais já foram até recebidos […] o acelerador linear, ele foi um contrato internacional, quem ganhou essa concorrência foi um laboratório chinês, e ele tá pronto. Do ponto de vista de linhas de luz, vários protótipos já estão encaminhados. O projeto hoje está dentro do cronograma”, destaca.
O projeto, que foi orçado em R$ 1,3 bilhão, vai abrigar uma das construções civis mais complexas do país.
“O prédio em si talvez seja, em alguns aspectos, a construção mais sofisticada que o Brasil já fez, do ponto de vista de vibração, de piso, de estabilidade, de ar condicionado. A parte civil compõe metade desse custo”, explica.
O restante do investimento será dividido entre pagamento de recursos humanos, aceleradores e as estações experimentais, que serão 13 no início da operação, mas que serão ampliadas posteriormente.
Além disso, o diretor salienta que o projeto, assim como o anterior, é 100% nacional. No entanto, dessa vez há itens importados e outros feitos no país. “Tem uma meta de execução nacional de 70%, mas há itens que precisam ser importados e mesmo a fabricação nacional envolve a importação de itens para fabricar aqui”, salienta.

O superlaboratório deve emitir o primeiro feixe de luz em 2018 e abrir para usuário em 2019. O funcionamento do Sirius irá impactar nas áreas de biociência, medicina, saúde, meio ambiente e agricultura, que são estratégicas.
“Por exemplo, se você pegar o zika, que é um problema que hoje todo mundo sente ou uma doença como dengue. O Sirius irá permitir que você faça estudos desde a estrutura desse vírus em si quanto estudos como esse que você enxerga o efeito nos tecidos. Você não tem hoje no mundo uma ferramenta que vai na escala que o Sirius vai permitir enxergar”, afirma.

Sirius terá superacelerador de elétrons em seu ‘coração'(Foto: Divulgação/ LNLS).
Questionado pelo G1 se a crise econômica e a mudança no cenário político brasileiro poderiam gerar reflexos no projeto, Silva afirmou que não foi necessário fazer nenhum tipo de replanejamento até o momento.
“Do ponto de vista das dificuldades econômicas, obviamente, isso é uma preocupação, você não pode dizer que você não tem. Entretanto, até o momento, nós não tivemos que diminuir o ritmo, ou fazer nenhum planejamento […] nós temos que acompanhar a evolução da situação do país como qualquer outro brasileiro”, revela.
O diretor destacou também que em momentos de crise investir em ciência e tecnologia é mais que fundamental, já que elas podem apresentar soluções para resolver o problema.
“Os Estados Unidos, no momento em que teve uma crise brutal, comparada a crise de 29, o Obama anunciou programa de investimento de ciência e tecnologia no auge da crise, entendendo que através de ciência e tecnologia que você tem a chance de gerar inovação, novas ideias para ajudar a sair da crise”, finaliza.
