Correio Popular em 19/outubro de 2016
Campinas deu nesta quarta-feira (19) um dos principais passos para ser reconhecida como a capital nacional da Ciência e Tecnologia. Empreendedores de diversas áreas participaram do 1º Safári Tecnológico, que tem como objetivo apresentar os institutos de pesquisa da cidade para empresários e startups. Promovido pela V8 Startup, empresa que nasceu com a missão de unir centros de pesquisas com investidores e empreendedores, o evento tem como principal função incentivar a inovação e a formação de novas parcerias. “Queremos levantar a bandeira de polo de Campinas”, afirma Marina Khatar, uma das fundadoras da V8.
Outra medida importante nesse processo é a 3ª edição do Inova Campinas, Fórum Regional de Inovação e Desenvolvimento Sustentado, que integra o calendário da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e começa hoje no IAC.
Com o Safári Tecnológico, um grupo de empreendedores pôde conhecer de perto alguns dos atrativos que só os centros de pesquisa de Campinas podem oferecer em toda América Latina. Com foco em Internet das Coisas, conhecida como IOT, o CPqD é o único do continente a ter um Laboratório de Transmissão Ótica de ponta. Lá são conduzidas pesquisas de transmissão de dados a grandes distâncias. E os pesquisadores conseguiram atingir um recorde em maio deste ano ao desenvolver uma tecnologia que possibilita conectar data centers separados por distâncias de até 140 quilômetros (o padrão mundial hoje alcança 80 quilômetros) com alta velocidade de transmissão, na faixa de 100 Gb/s.
O vice-presidente Comercial e de Desenvolvimento de Negócios do instituto, José Eduardo Azarite, destacou a importância do Safári Tecnológico não só para divulgar o trabalho feito no CPqD, mas também para incentivar a inovação na região. “Assim como Blumenau é conhecida por ter a melhor Oktoberfest daqui, queremos que Campinas seja a referência em desenvolvimento de tecnologia”, afirma.
Apesar de trabalhar há anos com TI, o consultor do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) Carlos Pegurier ficou surpreso com que viu durante o “safári”. “Eu sei que Campinas é um polo tecnológico importante, mas muita coisa que vi hoje foi uma novidade”, afirmou.
Pegurier reforça, ainda, a necessidade de conectar as instituições de pesquisa ao mercado. “Quando você coloca gente inteligente junto, como aqui, alguma boa ideia sai. Quando você não faz essa divulgação, você está as matando ideias delas nascerem”, afirmou.
O coordenador do Comitê de Inovação do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CPNEM)- Unidade Embrapii, Eduardo do Couto e Silva, destaca a importância da aproximação dos institutos com empreendedores e explica que, com a construção do Sirius, Campinas terá uma das mais avançadas fontes de luz sincrotron de quarta geração do mundo e detalha que essa estrutura, assim como os outros laboratórios do CPNEM, podem ser usadas por instituições de ensino e pesquisadores. “Essa estrutura e o conhecimento para manusear nossos equipamentos estão à disposição dos centros de pesquisa, que podem submeter seus projetos à aprovação”, contou. Empresas também podem pleitear o uso, mediante o pagamento de uma taxa simbólica que ajuda a custear a estrutura, já que o centro não tem fins lucrativos.
Além do Laboratório de Luz Sincroton, o centro possui um Laboratório Nacional de Biociências, que desenvolve pesquisas em áreas de fronteira da Biociência, com foco em biotecnologia e fármacos; o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia de Bioetanol (CTBE), que investiga novas tecnologias para a produção de etanol celulósico; e o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), que realiza pesquisas com materiais avançados, com grande potencial econômico para o País.
Instituto é exemplo de vocação empreendedora
O Instituto de Pesquisa Eldorado é o retrato da evolução da vocação tecnológica de Campinas. Em 2009 tinha um faturamento de R$ 38 milhões e viu esse número saltar para R$ 186 milhões no ano passado. “Apesar da crise, devemos fechar 2016 com o mesmo patamar de 2015”, afirmou o executivo de Desenvolvimento de Negócios e Relações Institucionais, Paulo Roberto Ivo.
Ele tem em sua cartela de clientes nomes como Motorola, Samsung, Foxconn, Toshiba, Lenovo, HP, DELL e CPFL, entre outras grandes companhias. No prédio localizado dentro da Unicamp estão alguns laboratórios que são únicos na América Latina, como a Câmara Full Anecoica, voltada tanto para testes quanto para desenvolvimento de produtos, e Câmara OTA (Over the Air), um equipamento que permite o desenvolvimento e a modelagem de antenas e transceptores integrados, que viabiliza pesquisas para a chamada Internet das Coisas (revolução tecnológica que pretende conectar os itens usados do dia a dia, como fogões, geladeiras e até roupas, à rede mundial de computadores).
“Tem muita coisa valiosa aqui em Campinas que ainda não é conhecida e queremos mostrar isso para as empresas e empreendedores”, afirma Fernando Teixeira, um dos fundadores da V8 Startup e idealizadores do 1º Safári Tecnológico.
A julgar pela reação dos empreendedores que participaram do evento, a missão foi completa. “Essa iniciativa mudou a visão que eu tinha de Campinas e até do País. Temos coisas aqui que são top de linha e é bom saber que estamos evoluídos para atender à demanda por pesquisa, desenvolvimento e inovação”, afirma o empreendedor Octávio Fabri.
A Fundação Fórum Campinas Inovadora, que reúne representantes dos cinco parques tecnológicos (Ciatec, CpqD, Renato Archer, Parque Científico e Tecnológico da Unicamp e TecnoPark) instalados na cidade, tem como principal função impulsionar a inovação.
Inova prevê injeção de recursos em startups
Além de aproximar empreendedores e empresários dos institutos de pesquisas instalados em Campinas, o Inova Campinas, que acontece hoje e amanhã no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), deve atrair cerca de mil pessoas e viabilizar a injeção nas empresas e startups de base tecnológica de pelo menos US$ 150 milhões.
O prefeito Jonas Donizette (PSB) participará da abertura do evento hoje, a partir das 9h. Nos dois dias de fórum serão geradas oportunidades de negócios, reunindo cerca de 50 entidades, entre grandes empresas, startups e instituições de pesquisa. Durante o evento, o participante terá acesso aos principais projetos que são desenvolvidos na cidade. Também terá a chance de descobrir, por exemplo, que Campinas abriga alguns laboratórios que são os únicos do Hemisfério Sul a desenvolver pesquisas, principalmente, nas áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação, como é o exemplo do CPqD e do Instituto de Pesquisas Eldorado.