28/08/2009 – ISaúde
Pesquisadores desenvolvem pesquisa inédita sobre a importância da proteína stanniocalcina-1 (STC-1) no desenvolvimento do câncer
Em uma pesquisa desenvolvida no Centro de Biologia Molecular Estrutural (Cebime) e no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o biólogo Daniel Maragno Trindade fez estudos estruturais e funcionais inéditos da proteína stanniocalcina-1 (STC1), um novo marcador de microambiente de leucemia linfóide aguda infantil e realizou análises estruturais e funcionais dessa proteína que vem sendo cada vez mais associada ao câncer. Algumas proteínas podem ser usadas para prognóstico do câncer, pois, se produzidas em quantidades significativamente maiores que o normal, podem ser utilizadas como marcador molecular tumoral.
A pesquisa, orientada pelo professor Jörg Kobarg, partiu de alguns resultados prévios obtidos pelo professor José Andrés Yunes, do Centro Infantil Boldrini, levou ao primeiro estudo estrutural e funcional da STC1 que possui forte expressão, ou seja, se revela em maior abundância em casos de leucemia e quadros de isquemia e cardiovasculares quando comparada com as condições encontradas em pacientes sadios.
A detecção e identificação de novos marcadores moleculares são de suma importância para o acompanhamento e predição do diagnóstico do câncer, além de tornar possível o desenvolvimento de novas drogas que atuem sobre eles.
De acordo com Trindade, os estudos existentes mostram que a STC1 aparece em maior quantidade nos contextos leucêmicos, mas não se sabe o papel exercido por ela. O objetivo do trabalho foi verificar a importância dessa proteína na manifestação do câncer, pois os indícios são de que ela tenha forte implicação no exercício desse papel.
Ainda segundo o pesquisador, o trabalho teve como escopos, validar estudos prévios do professor Yunes, mostrando que a alteração de expressão é verdadeira e, depois, entre as proteínas estudadas, selecionar uma de que não se tinha informação estrutural porque, com base na estrutural tridimensional, existe a possibilidade de se prever e em seguida determinar a sua função. O pesquisador explica que as proteínas podem ser entendidas como polímeros de aminoácidos, dos quais se originam várias formas estruturais que definem seu comportamento e função no organismo.
Pela falta de informações funcionais sobre a STC1, o pesquisador se propôs a encontrar algumas proteínas que interagem com ela e a realizar sua caracterização estrutural. As proteínas encontradas se apresentam em vários compartimentos celulares nos quais a STC1 já se sabia presente.
Munidos das informações sobre como a molécula se comporta ao exercer determinadas funções é possível, por exemplo, desenhar uma droga que atue sobre ela. De acordo com o professor Kobarg, “ainda não é possível dizer o que a STC1 faz, mas já temos indícios de que ela tenha um papel importante no câncer, contudo, ainda não temos condições de saber de que modo ela efetivamente atua”, esclerece. Trindade ressalta que um desses indícios é a ocorrência do aumento da sua expressão em situações de angiogênese.
Para desenhar a droga que poderá atuar sobre a STC1 é necessário detalhar a sua estrutura tridimencional, chegando ao nível de detalhamento da distribuição atômica da molécula. Assim, na próxima etapa da análise, o pesquisador vai buscar o detalhamento atômico, porque o trabalho até agora desenvolvido permitiu chegar a uma ideia geral da forma da molécula caracterizando seu contorno.
Ainda faz parte do projeto, descobrir e determinar a função de outras proteínas com as quais a STC1 interage. Para o professor, este é o caminho, embora entenda que os resultados até aqui realizados sejam preliminares, pois a descoberta da STC1 é relativamente recente e existem no mundo poucos grupos que trabalham com ela, sendo dois deles no Brasil. Apesar da implicação da STC1 em muitos processos celulares, existe uma enorme lacuna no que diz respeito a estudos aprofundados de suas propriedades moleculares e estrutura tridimensional.
Os pesquisadores esclarecem que na pesquisa básica procura-se fornecer o conhecimento de como um sistema funciona, a partir do qual é possível alterar ou corrigir o que se julgar interessante ou necessário, possibilitando intervenções diversas.
Fonte: Fapesp