CTBE organiza Workshop para levantar os reais impactos da produção de etanol nos recursos hídricos brasileiros.
Asssessoria de Comunicação, 23/06/2010
Até alguns anos atrás o uso de água na produção de etanol não costumava ser um assunto muito debatido no meio científico. A opinião vigente era que se a cultura de cana-de-açúcar não fosse irrigada, como acontece em boa parte do país, não haveria impactos sobre os recursos hídricos. Só que os tempos mudaram.
Estudos mais amplos de sustentabilidade na produção biocombustíveis desenvolvidos em instituições de pesquisa como o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) tem mostrado que a aplicação em larga escala de cana pode influenciar no balanço hídrico de determinada região. Dependendo do uso anterior do solo onde se dá a expansão desta cultura agrícola, tal fenômeno pode ocorrer com maior intensidade. Só que os cientistas ainda não sabem exatamente a magnitude deste impacto, no que diz respeito à disponibilidade destes recursos naturais.
Em busca de tornar mais claras tais questões, a equipe do Programa de Sustentabilidade do CTBE organizou um Workshop na última sexta-feira sobre o impacto da produção de etanol sobre os recursos hídricos nas regiões de expansão. Pesquisadores do Brasil e do exterior foram convidados a responder em suas palestras a uma dentre seis questões temáticas. As perguntas versavam sobre assuntos como a disponibilidade e a demanda de água na produção de biocombustíveis, os benefícios da irrigação e o impacto da agricultura e das mudanças climáticas nos recursos hídricos.
Segundo um dos diretores do Programa de Sustentabilidade do CTBE Arnaldo Walter, o que se percebeu com o Workshop é que, ao contrário do que se imaginava anos atrás, a água pode se tornar um fator limitante na produção em larga escala de etanol dentro de um sistema sustentável. Entretanto, existe uma carência de dados no setor para que esta afirmação possa ser feita de forma categórica.
“Até agora nós sabemos, por exemplo, que se cana entra em área de pastagem, possivelmente não impacta os recursos hídricos da região de forma significativa. Já se ela entra onde antes havia uma cultura que demandava pouca água, como soja, por exemplo, pode gerar certo impacto negativo. Se a área de cana plantada for grande e a bacia hidrográfica da região for frágil, o impacto pode ser maior. Só que para conhecer em detalhes como isso acontece é preciso melhorar nossa base de dados”, explica Walter.
Os dados requeridos são necessários para saber quais são os impactos da produção de cana em larga escala em uma dada bacia hidrográfica, seja em áreas tradicionais ou de expansão da cultura. Também é preciso analisar impactos sob a ótica da qualidade dos recursos hídricos, dado o risco de contaminação de solo, efluentes e lençóis freáticos.
Modelagem matemática e irrigação
A palestra de Lineu Rodrigues da Embrapa Cerrado mostrou que existem modelos matemáticos capazes de prever o impacto que alterações no uso da terra (como pastagem que é transformada em plantação de cana) causam na demanda de água. Entretanto, novamente o problema neste caso é a confiabilidade dos dados de entrada destes modelos.
Rodrigues trouxe imagens de pluviômetros sujos que não deixam de mensurar o volume de chuva em determinado local, mas apresentam índices que não correspondem à realidade. A isso se pode somar o fato de temporais que acontecem em espaços pequenos e específicos da plantação. “Se o pluviômetro estiver localizado justamente aonde caiu um temporal desses, a modelagem que utiliza tais dados para certa região pode ficar prejudicada”, afirma Rodrigues.
Quanto à irrigação, as apresentações mostraram que ela é importante e até mesmo essencial para a sobrevivência da cultura de cana no Nordeste e certas áreas do Cerrado. Já no interior do estado de São Paulo, maior produtor do país, os benéficos tendem a ser menores, com ganhos de produtividade na casa de 20 a 30% segundo literatura técnica do setor.
Manoel Regis Lima Verde Leal, diretor do Programa de Sustentabilidade do CTBE diz que o Workshop realizado foi importante para identificar parceiros potenciais para as pesquisas do Laboratório sobre o tema e áreas onde há maior carência de informação técnica. Boa parte do trabalho futuro nesta área tratará sobre levantamento de dados de campo.