03/08/2009 – Jornal da Unicamp
Defesa pública de projetos arquitetônicos finalistas ocorre dia 7 de agosto
A Unicamp vai transformar em evento acadêmico e cultural a defesa pública dos cinco projetos arquitetônicos finalistas do concurso internacional para a construção do seu novo Museu de Ciências. Na manhã de 7 de agosto, os arquitetos responsáveis pelas três equipes brasileiras, uma norte-americana e uma japonesa apresentarão seus projetos para uma banca de jurados altamente qualificada, diante de alunos, professores e profissionais de arquitetura e áreas afins, no Centro de Convenções.
“Um concurso de arquitetura é uma grande aventura intelectual”, afirma o professor Marcelo Firer, diretor do Museu Exploratório de Ciências (MC). “É um projeto para 5.200 metros quadrados de área construída (dentro de uma área total de 28 mil) e custo estimado em 10 milhões de reais. Estamos considerando uma obra de alta qualidade arquitetônica, com soluções inteligentes ao invés de luxos incompatíveis com a realidade orçamentária da Unicamp. Não queremos apenas mostrar um projeto maravilhoso, porém inexequível; queremos ter um bom museu”.
Segundo Firer, a ideia é oferecer um marco cultural para Campinas, com espaço para exposições permanentes e temporárias, auditório e observatório astronômico, além das áreas administrativa, técnica e de convivência. Inscreveram-se para o concurso 170 equipes de 21 países. “Na primeira fase, a avaliação pela banca se deu de forma anônima, mas agora todos poderão conhecer os trabalhos finalistas. Defesa pública é um evento raro, que vai despertar bastante interesse não só pela qualidade dos projetos, mas também pela argüição de uma banca internacional de especialistas renomados”.
Os projetos serão apresentados pelos arquitetos Alessandro Muzi, Daniel Corsi e Fábio Boretti Araújo, do Brasil; Erik Lewitt, dos Estados Unidos; e Tomohiko Amemiya, do Japão. Cada uma das cinco equipes já recebeu um prêmio de R$ 5 mil na primeira etapa; nesta segunda fase, haverá prêmios adicionais de R$ 8 mil para a primeira colocada (que também executará o projeto), R$ 4 mil para a segunda e R$ 2 mil para a terceira.
A banca julgadora desta etapa final será formada pelos arquitetos Paulo Valentino Bruna e Leandro Medrano, do Brasil; Frederico Valsassina, de Portugal; Silvia Arango, da Colômbia; Jorge Wagensberg, museógrafo da Espanha; Maria Cristina da Silva Leme, urbanista brasileira; Edgar Salvadori de Decca, historiador e coordenador geral da Unicamp; e pelo próprio Marcelo Firer. “Vamos discutir com a banca a possibilidade de abrir espaço para perguntas do público após a apresentação”, adianta o diretor do Museu.
Ineditismo
Leandro Medrano, professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) e membro do júri, foi quem convenceu seus pares envolvidos na construção da sede sobre a riqueza de conhecimentos que um concurso internacional de arquitetura pode proporcionar. “Não encontramos registros de outros concursos internacionais, para obras públicas institucionais, nos últimos vinte anos. Podemos dizer que é uma iniciativa inovadora da Unicamp”.
Na opinião de Medrano, a seleção por mérito trata-se de uma opção natural dentro de uma universidade pública como a Unicamp, onde contratações de professores, seleção de artigos e eventos acadêmicos e científicos, quase sempre de abrangência internacional, fazem parte do seu cotidiano. “Restringir o concurso ao Brasil seria quase como restringir as nossas observações e posturas conceituais, ideológicas e científicas também ao país. Isto não acontece em nenhuma área do conhecimento na Unicamp, incluindo a arquitetura e o urbanismo aplicados à pesquisa”.
A defesa pública dos projetos é outro fato pouco usual para os brasileiros, como observa o arquiteto. “Julgamos que o concurso não deveria apenas escolher um bom projeto para o Museu de Ciências, mas tornar-se ele mesmo um evento cultural para a cidade e um evento acadêmico para alunos e professores da Unicamp e de outras universidades. Nossos alunos já entraram em contato com colegas de todo o país e há enorme interesse em conhecer os projetos e acompanhar a arguição dos jurados”.
Leandro Medrano observa que uma das premissas estabelecidas no edital é que o projeto considere as peculiaridades da arquitetura brasileira e proponha uma tecnologia construtiva inteligente, que amenize impactos ambientais. “Será uma boa oportunidade para entender melhor o papel da arquitetura no nosso contexto social, econômico e cultural, colocando-a na pauta das discussões contemporâneas sobre a organização dos territórios e das cidades brasileiras. Precisamos de construções de qualidade, eficientes e ambientalmente adequados”.
Obras públicas
De acordo com o professor da FEC, os concursos de arquitetura deveriam ser mais utilizados como instrumentos para a licitação de obras públicas no Brasil, assim como ocorre em vários outros países, inclusive da América Latina. “Se há países onde 95% das obras públicas têm seus projetos escolhidos por meio de concursos, no Brasil essa porcentagem é mínima. Em parte por que não existe essa cultura e, também, por que ainda precisamos avançar nos métodos empregados para a organização de concursos e sua avaliação.”.
Medrano tem o concurso como um instrumento saudável justamente por gerar polêmica, dúvidas e questionamentos, contribuindo para a elaboração de projetos de qualidade e o aprimoramento da profissão. Entretanto, em relação a obras públicas, ainda prevalece a utilização da Lei 8666, com contratações baseadas no menor preço. “Outra forma recorrente é a do ‘notório saber’, em que arquitetos de destaque, como Oscar Niemayer, são convidados para projetar obras sem licitação”.
Registros em livro
O diretor Marcelo Firer afirma que a defesa pública marcada para o próximo dia 7 representa o epílogo de uma história que começou há um ano, com uma reunião de dois dias de trabalhos intensivos. “Convidamos arquitetos e responsáveis pelos museus de Santo André e da Estação Ciência da USP para discutir as necessidades do nosso museu, como a dimensão, as características dos espaços e seus usos. Um bom programa de necessidades é pré-condição para um bom projeto”.
Leandro Medrano lembra que a formalização do concurso internacional exigiu ampla pesquisa sobre processos semelhantes no Brasil, Europa e América do Sul, em busca de um edital e de um mecanismo de avaliação exemplares quanto à transparência, elaboração do programa, escolha do júri e divulgação dos resultados. “O Museu pretende publicar um livro documentando todas as fases do processo e que conterá os projetos inscritos, comentários dos jurados e opiniões externas. A publicação deverá ser um registro do concurso e uma importante referência para a arquitetura contemporânea nacional e internacional”.
Marco arquitetônico e cultural
O professor e arquiteto Leandro Medrano: “Todos os jurados ressaltaram o nível excepcional da maioria dos projetos”
O arquiteto Leandro Medrano, professor da FEC, participou da primeira banca de jurados que apontou os cinco finalistas que defenderão publicamente seus projetos arquitetônicos para o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. “Alguns membros do júri tinham ampla experiência em concursos internacionais, a exemplo do professor Paulo Bruna, da FAU-USP, que voltava de um certame realizado no México. Todos ressaltaram o nível excepcional da maioria dos projetos. A banca avaliou 114 trabalhos e foi muito difícil chegar a apenas cinco”.
Da primeira etapa de seleção também participaram os arquitetos Francisco Borges (Unicamp) e Maria da Conceição Guimaraens (UFRJ), os historiadores Maria Stella Bresciani (Unicamp) e Edgar de Decca (Unicamp), e os museólogos Marcelo Firer (Unicamp) e Julia Taquena (UNAM, México).
Medrano explica que o edital desenhou uma série de condicionantes, como adequação ao terreno, respeito a construções já existentes e, principalmente, o entendimento de que o Museu de Ciências seria uma referência arquitetônica e também um espaço público para Campinas. “A cidade possui poucos marcos arquitetônicos e culturais de porte. Os projetos também deveriam responder aos avanços nas técnicas de construção e às discussões atuais sobre o papel da arquitetura na sociedade contemporânea”.
Na opinião do professor, as cinco equipes atenderam com bastante coerência a um programa complexo, que envolve questões simbólicas relacionadas ao espaço expositivo e, ainda, questões técnicas precisas quanto ao controle da luz, organização do suporte técnico e definição dos espaços livres e públicos. “Cada projeto traz um olhar do terreno e uma organização conceitual diferenciados, mas preservando características como a bela vista da região que este ponto alto da Universidade oferece”.
Ingressando no ‘período de colheita’
O diretor Marcelo Firer anuncia “um período de muita colheita” para o Museu Exploratório de Ciências (MC), que foi instituído formalmente em maio de 2005 com a proposta de ser um espaço cultural interativo, de livre aprendizado e lazer, disseminando a cultura científica através da valorização da convivência e da inclusão social. Ao MC foi destinado espaço para sua sede administrativa em julho de 2007 e sua institucionalização foi efetivada em 2008, com a aprovação do regimento interno e a instalação do conselho superior e da diretoria executiva.
“Já temos dois programas permanentes em funcionamento, a NanoAventura e a Oficina Desafio, mas vamos entrar num período de muita colheita nos próximos seis a doze meses, com a inauguração de diversas iniciativas. Uma delas é o nosso primeiro espaço de exposição permanente, já em fase de construção no local do antigo Observatório a Olho Nu e que continuará sendo um observatório. Na verdade, é uma praça para onde queremos atrair as pessoas principalmente em horários sugestivos, como do pôr-do-sol”, diz Marcelo Firer.
A denominada praça Tempo & Espaço, segundo o diretor do Museu, é um projeto do professor Marcelo Guzzo (Instituto de Física), com financiamento inicial do CNPq e que terá aportes captados por outros convênios. “Serão dez experimentos de grande porte, ao ar livre, tendo o sol como elemento para demonstrar medidas de tempo e espaço. Equipamentos como lunetas, teodolitos, globo terrestre de argila, espelhos, luminárias e piscina de ondas ajudarão na observação e compreensão de fenômenos como o dia e a noite, estações do ano, variação de temperatura, distância e velocidade”.
Firer afirma que o projeto Tempo & Espaço estará funcionando como piloto até o final do ano, mas optou-se por sua inauguração no início de 2010, época mais propícia para atrair os alunos da rede de ensino. “Também no começo do ano, vamos abrir no subsolo da praça outra exposição permanente, sobre meteorologia e fenômenos globais. A área contará com mobiliário flexível e um equipamento maravilhoso – um grande globo terrestre trazendo no interior um datashow para projeção de imagens de satélite”.
Associado a esta idéia, será lançado um programa de popularização da meteorologia, o Meteorologista Cidadão, juntamente com pesquisadores do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura) da Unicamp. “Uma cidade como Campinas possui vários microclimas, mas apenas três estações de medição. Nosso objetivo é criar pequenas estações principalmente nas escolas, onde os alunos coletarão e enviarão pela Internet dados de clima e temperatura, visualizando depois os mapas meteorológicos que geraram”.
O Museu está preparando ainda a I Olimpíada de História do Brasil, com inscrições de 1º de agosto a 1º de setembro, início em 7 de setembro e a grande final em 14 e 15 de novembro. A iniciativa inédita, voltada a estudantes do 8º e 9º anos do ensino fundamental e a todos do ensino médio, visa promover o estudo e o debate da história nacional por meio da leitura e interpretação de documentos, imagens e textos. “Museus como o nosso costumam focar muito mais as ciências naturais e da terra, mas decidimos ampliar o espectro, refletindo a realidade da Universidade, permeada por diversas áreas de conhecimento, incluindo as ciências humanas em geral e história em particular”, justifica Marcelo Firer.
A Olimpíada tem o apoio do CNPq e a coordenação de Cristina Meneguello, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e diretora associada do Museu. Conta ainda, para a elaboração das provas da competição, com uma equipe de docentes – José Alves Freitas Neto e Eliane Moura, do IFCH, e Iara Lis Schiavinatto, do Instituto de Artes (IA) – e alunos de pós-graduação em história.
Firer explica que equipes de até três alunos disputarão seis etapas, cinco delas via Internet e a final presencial. “O objetivo não é testar o conhecimento, mas desenvolver conhecimento. Ao longo das etapas, os participantes terão que pensar a história de modo similar ao que fazem os historiadores, fornecendo, interpretando e discutindo documentos escritos e imagens”.
Projeto premiado
Um dos programas já em funcionamento, a NanoAventura é uma exposição interativa sobre nanociência e nanotecnologia. Por meio de diversas mídias, em sessões de hora e meia, os visitantes podem explorar virtualmente laboratórios e participar de atividades ligadas às ciências em escala nanométrica e suas aplicações tecnológicas. Desenvolvido por pesquisadores da Unicamp e do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em parceria com o Instituto Sangari, o programa já contemplou 40 mil pessoas, na maioria professores e estudantes da rede pública de ensino, desde seu lançamento em março de 2005 até maio deste ano.
“A NanoAventura, que já circulou por várias cidades e agora se fixou no Museu, ganhou agora em maio o prêmio de melhor programa de divulgação científica concedido pela Red-Pop [Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia da América Latina e Caribe]. Tratar de nanociência e nanotecnologia é um desafio enorme e os pesquisadores sentem necessidade de divulgar seu trabalho, como que numa prestação de contas à sociedade pelos recursos investidos na área”, observa o diretor.
O outro programa em funcionamento, a Oficina Desafio, leva um caminhão equipado com ferramentas e materiais às escolas, onde monitores estimulam os alunos a desenvolver soluções para problemas reais utilizando conceitos aprendidos em sala e no cotidiano. Uma vez por ano, o programa promove o Grande Desafio, em que dezenas de equipes trabalham meses em um protótipo – em junho último, o desafio foi desenvolver um equipamento capaz de retirar um ovo de gavião de seu ninho a 40 metros de altura.
Público crescente
De acordo com Marcelo Firer, escolhido o projeto vencedor do concurso internacional em 7 de agosto, os passos seguintes serão a captação de recursos, elaboração de projetos executivos e processo licitatório, com previsão da entrega da nova sede do Museu de Ciências em quatro ou cinco anos. Entretanto, ele afirma que o volume de material expositivo permitirá atender 60 mil pessoas já em 2010, além de outras 40 mil em projetos via Internet.
“A NanoAventura e a Oficina Desafio atraíram doze mil visitantes em 2008 e oito mil no primeiro semestre desse ano – e isso em pleno canteiro de obras [da praça Tempo & Espaço]. Agora, com todos esses projetos, passamos a ter de fato um museu, com programas e exposições permanentes e abertos à visitação. Estamos buscando convênios para trazer mais alunos das escolas estaduais e municipais da região de Campinas”, adianta o professor.
Utilizando como parâmetros a Estação Ciência de São Paulo e o Museu de Ciências da PUC de Porto Alegre, que atendem a aproximadamente 400 mil pessoas por ano, Firer estima que o novo Museu da Unicamp, quando construído, conseguirá atender de 150 mil a 200 mil visitantes. “Acho que para uma cidade do porte de Campinas, é uma meta factível e razoável, que representa receber cerca que de um quinto da sua população por ano”.
EQUIPE 1
Daniel Corsi, Dani Hirano e Reinaldo Nishimura são formados pela FAU-Mackenzie e ficaram entre os primeiros colocados em concursos realizados em São Paulo, Porto Alegre e Brasília. Em 2007, venceram o concurso para o Complexo do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Goiânia, que está em construção.
EQUIPE 2
Fábio Araújo, Bernardo Telles e Luís Pereira Pinto, graduados pela FAU-PUC de Campinas, desenvolvem projetos de diferentes escalas. Com o escritório Áurea Arquitetura, a equipe atuou nos projetos das praças de esporte da Prefeitura de Campinas e da 7ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.
EQUIPE 3
Alessandro Muzi, Hernani Paiva e Luiz Kuller são arquitetos formados entre 2007 e 2008 pela FAU-USP. Foram sócios no escritório cooperativo Campevas Arquitetura, ativo entre 2005 e 2007. Atualmente exercem a profissão individualmente ou colaborando com outros escritórios em São Paulo.
EQUIPE 4
Erik Warren Lewitt representa o Plexus R+D, estúdio conhecido pela criação de projetos dinâmicos que expressam valores e missões específicos de cada cliente, ao mesmo tempo enriquecendo os contextos físico, social e cultural. Desde 1999, o estúdio tem trabalhado em projetos ao redor do mundo.
EQUIPE 5
Tomohiko Amemiya, da Unitydesign, estudou em Portugal e na Bélgica, completando o mestrado na Universidade de Tóquio. Trabalhou na agência internacional de arquitetura Dominique Perrault. Conquistou o 1º lugar na Steedman Fellowship Competition (competição internacional de design) em 2006.