Embrapa em 14/10/2015
A divulgação da ciência e as diferentes iniciativas desenvolvidas por comunicadores e cientistas foram tema do 3º Encontro Mídia e Pesquisa, realizado no dia 8 de outubro pelas Unidades da Embrapa da região de Campinas (SP). O evento, ocorrido no auditório da Embrapa Informática Agropecuária, reuniu especialistas da área, pesquisadores, estudantes e profissionais de comunicação e jornalismo e contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
A importância da divulgação científica para pesquisadores e instituições de pesquisa no Brasil foi tema da primeira mesa redonda. Para a professora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp), Graça Caldas, há uma expectativa grande, por parte da sociedade, que a ciência seja instrumento para melhoria da qualidade de vida da população. Ela comentou alguns dados do estudo da série Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil, divulgados em julho deste ano. A pesquisa, aplicada nas cinco regiões do país, apontou por exemplo que 61% dos entrevistados demonstraram interesse por ciência e tecnologia.
Ela pondera que a ciência não deve ser vista só pelo lado utilitarista, mas acima de tudo como instrumento para o avanço do conhecimento e destaca a importância da educação científica como forma de desenvolvimento humano e um pressuposto para a democracia. “Educação e cultura científica vão além do acesso à informação, elas contribuem para elevar a consciência crítica das pessoas”. Graça Caldas defende uma maior mobilização de toda a sociedade na defesa da ciência e considera fundamental a aproximação entre centros de pesquisa e escolas.
Para Marcelo Knobel, professor e pesquisador do Instituto de Física da Unicamp e atualmente diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), as instituições de pesquisa precisam ter políticas de divulgação da ciência bem estruturadas e que sejam interiorizadas por todos os membros. Knobel tem forte atuação em divulgação científica, tendo sido um dos responsáveis pela criação do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. Para ele, não estamos compreendendo a linguagem dos jovens e crianças de hoje. “Existem filões que ainda não estão sendo bem explorados nas redes sociais. As instituições precisam pensar em estratégias mais ousadas para a divulgação científica, com uma linguagem mais atualizada”, reforça.
Gestão da Água
A gestão da água foi o tema da segunda mesa redonda, que tratou da comunicação de temas controversos. Rubens Filho, diretor de Comunicação do Instituto Trata Brasil, apresentou as atividades desenvolvidas pela entidade, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) formada por empresas com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. O instituto utiliza bases de dados oficiais, apoia e desenvolve pesquisas sobre gestão hídrica, saneamento básico e perdas de água com o intuito de levar as informações para a sociedade. “Dos relatórios técnicos, extraímos informações com impacto direto no dia a dia das pessoas. Buscamos entender o que está acontecendo, a partir de estudos e outros levantamentos, e traduzimos esses dados para o público, fazendo comparações, apresentando séries históricas, interpretando os dados gerados e analisando os impactos possíveis na economia e na saúde”, explica. Com a crise de abastecimento vivida na região sudeste desde 2014, Rubens Filho nota um maior interesse da população pelo assunto e também um aumento no diálogo entre jornalistas e pesquisadores especialistas no tema.
O repórter Fabio Leite, do jornal O Estado de S. Paulo, participou do debate relatando sua experiência na cobertura da crise hídrica em São Paulo. De acordo com ele, a partir de janeiro de 2014, o assunto foi ganhando espaço nos jornais, forçando uma rápida especialização no tema. Foi nesse momento também que os pesquisadores dedicados à questão hídrica passaram a frequentar mais o noticiário.
Para Leite, a relação com os pesquisadores e o contato com trabalhos científicos contribuiu para ampliar o conhecimento e desmistificar a questão da gestão dos recursos hídricos, com reflexos na qualidade do conteúdo produzido. A oportunidade de se aprofundar no tema também proporcionou maior independência no trabalho de cobertura, “imprescindível para alertar a população, provocar debates na sociedade, pressionar governos e apoiar a atuação de órgãos fiscalizadores”.
Outro olhar para a divulgação científica
A terceira etapa do seminário “Mídia e Pesquisa” reuniu quatro diferentes experiências na divulgação da ciência. Daniel Medeiros, coordenador de Mídias Digitais da Embrapa, falou sobre a necessidade de compreender o comportamento das pessoas na internet, em especial nas redes sociais. “Hoje temos uma massa de mídias. Ao mesmo tempo em que houve uma democratização dos meios de produção, ampliou-se a concorrência na oferta de conteúdo, um cenário que exige sempre novas estratégias”, ressalta. Estima-se que o brasileiro gasta 30% do seu tempo online em redes sociais como o Facebook, que têm se mostrado importantes geradoras de tráfego de conteúdos. Para Medeiros, no entanto, não basta ter boas estratégias e campanhas de divulgação nessas mídias. “É necessário ter uma boa história, informações que gerem valor ao usuário e formas de abordagem que as valorizem”, completa.
Essa opinião é compartilhada pelo biólogo e pesquisador da USP Atila Iamarino, para quem as histórias precisam gerar engajamento por parte dos leitores. Desde 2007, ele atua em comunicação de ciência por meio de blogs, como o Rainha Vermelha, no canal Nerdologia, do Youtube, e no papel de editor da rede ScienceBlogs Brasil. Atila também destacou o potencial do Brasil nas redes sociais. O país é, por exemplo, o que tem o maior número de leitores de notícias por meio de redes sociais. “De uns anos para cá, o número de blogs e de postagens sobre ciências reduziu e hoje estas citações ocorrem em outras mídias, como Youtube, Twitter e Facebook”. Para ele, no entanto, ainda existe espaço para blogs, onde o conteúdo original é valorizado e sua produção se aproxima mais do ambiente acadêmico.
O encontro entre comunicação, ciência, arte e filosofia foi o tema da apresentação realizada pela pesquisadora do Labjor/Unicamp, Susana Oliveira Dias. Ela falou sobre os trabalhos desenvolvidos pela Sub-rede “Divulgação Científica e Mudanças Climáticas”, no âmbito da Rede Clima, a Rede Brasileira de Pesquisa e Mudanças Climáticas Globais. A Sub-rede reúne pesquisadores de diversas instituições do país e propõe a criação de experimentações interativas, como revistas, instalações, vídeos e performances para a divulgação científica na área de mudanças climáticas. Um exemplo foi a criação da revista ClimaCom Cultura Científica, em 2014, que busca novas formas de comunicar a ciência e conectar-se ao público. A revista é formada por três seções complementares, com a publicação de artigos indexados, reportagens e a exposição de produções artísticas e culturais nas mais diversas modalidades.
A pesquisadora do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), ligado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Ana Carolina de Mattos Zeri, encerrou o evento apresentando as atividades de divulgação da ciência desenvolvidas pelo programa LNBio Educa. Um dos trabalhos é realizado em parceria com a Associação Anhumas Quero-Quero, em Campinas (SP), que atua no desenvolvimento social e educacional de jovens e crianças de baixa renda. A partir do projeto, iniciado em 2011, as crianças tem aulas num minilaboratório equipado com microscópios e outros instrumentos, onde analisam microrganismos, plantas e insetos coletados em campo. O objetivo do projeto é aumentar o interesse pela ciência de uma maneira divertida e apaixonante. A iniciativa tem o apoio da organização internacional Science House Foundation e os resultados dos trabalhos dos alunos são registrados no site do projeto MicroGlobal Scope. A pesquisadora encontra-se atualmente nos Estados Unidos e fez sua apresentação por vídeo gravado.
A terceira edição do Encontro Mídia e Pesquisa foi organizada pela Embrapa Informática Agropecuária, Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Monitoramento por Satélite e Embrapa Gestão Territorial.