Equipe do Centro foi certificada pela Universidade da Califórnia Irvine, referência internacional em biossegurança, para realizar treinamento teórico e prático em instalações de alta contenção biológica
Times do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização supervisionada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), estão certificados a trabalhar e treinar profissionais interessados na capacitação sobre as melhores práticas de trabalho, documentação e manutenção de laboratórios de nível de biossegurança nível 3.
A certificação, obtida junto a UCI, Universidade da Califórnia- Irvine School of Medicine, instituição de excelência nos Estados Unidos e reconhecida internacionalmente, é o primeiro passo para a formação de equipes que, no futuro, poderão atuar no Orion, o complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos do CNPEM.
O projeto Orion, financiado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), integra o Novo PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal e começará a ser construído ainda no primeiro semestre deste ano. O complexo deve reunir laboratórios de pesquisa básica, técnicas analíticas e competências avançadas para imagens biológicas, como microscopias eletrônicas, incluindo criomicroscopia.
Diferenciais do Orion
O Orion também será a primeira instalação do Brasil a atender aos requisitos de biossegurança classificados como nível 4 (NB4), o mais elevado. São recursos relacionados a instalações físicas e procedimentos fundamentais para a realização de pesquisas com patógenos causadores de doenças graves e com alto grau de transmissibilidade. Também terá o único laboratório do gênero do mundo, com ambientes NB4, conectados a uma fonte de luz síncrotron.
O novo complexo se beneficiará da proximidade do Sirius, síncrotron de última geração em operação no CNPEM. O Sirius é capaz de gerar um tipo de luz muito especial que permite investigar a composição e a estrutura de materiais em escalas fundamentais.
Três linhas de luz, como são chamadas as estações experimentais de pesquisa do Sirius, serão dedicadas exclusivamente a experimentos em ambientes NB4 do Orion. A conexão permitirá a realização de estudos nunca antes realizados, nas condições mais seguras, de materiais biológicos a partir de amostras de células, tecidos e organismos. O projeto visa criar condições absolutamente inéditas para a compreensão de fenômenos relacionados ao desenvolvimento das doenças e que possam guiar o desenvolvimento de futuros métodos de diagnóstico, vacinas e tratamentos.
Essas estações de pesquisa permitirão, por exemplo, extrair informações estruturais quantitativas a respeito dos sistemas infectados, desde o nível subcelular até o nível de organismo. Os cientistas poderão testar hipóteses sobre mecanismos de infecção, observando através de imagens tridimensionais como se dá a cascata de fenômenos que levam ao desenvolvimento de doenças geradas por patógenos de classe 4.
Certificação internacional em biossegurança
A UCI Irvine já foi responsável pelo treinamento de mais de 2 mil profissionais nos Estados Unidos e vários países. O treinamento oferecido pelos especialistas norte-americanos foi realizado presencialmente nas instalações do CNPEM, e incluiu atividades teóricas e práticas, simulando diversas situações relacionadas às rotinas de pesquisa, documentação e manutenção de ambientes de biossegurança nível 3 (NB3).
A equipe do CNPEM, composta por pesquisadores, engenheiros e técnicos, está agora certificada a trabalhar em laboratórios de nível de biossegurança 3 (NB3), bem como oferecer treinamento a outros profissionais que buscam esse nível de capacitação.
O programa de formação de mão-de-obra especializada e certificada a trabalhar em ambientes de pesquisa de máxima contenção biológica prossegue. Profissionais do CNPEM, de diversos perfis, participarão de programas de estágio e treinamento em diversos centros de pesquisa de referência nos Estados Unidos e Europa, onde já iniciam pesquisas com patógenos de interesse estratégico para a segurança em saúde no Brasil e América Latina. Entre eles o vírus Sabiá (SABV), causador da febre hemorrágica brasileira, doença diagnosticada em humanos pela primeira vez na década de 1990. Por falta de laboratórios NB4 no Brasil, amostras do patógeno tiveram que ser enviadas para armazenamento no exterior.
“A localização do Brasil na América do Sul é estratégica para a comunidade científica responder às doenças emergentes. A presença de equipes treinadas como essas em todo o mundo, capazes de estudar com segurança estes agentes patogênicos emergentes e reemergentes durante os surtos, é crítica. Muitas destas doenças requerem um nível de biossegurança três para diagnóstico e desenvolvimento. Portanto, é essencial ter a infraestrutura necessária para oferecer uma resposta rápida à sociedade”, pontua Hailey DeMers, Diretora do Programa Nacional de Treinamento em Biossegurança Nível 3, da Universidade da Califórnia em Irvine.
Programa de Treinamento & Capacitação
Ainda antes da inauguração do Orion, o CNPEM dará início a um programa de treinamento e capacitação em infraestruturas de alta e máxima contenção biológica inédito no Brasil. Voltado à formação de recursos humanos em competências ainda pouco desenvolvidas no Brasil e nos demais países da América Latina, essa frente de ação visa apoiar a formação de potenciais futuros usuários do Orion.
A capacitação incluirá atividades teóricas e sessões práticas, que serão realizadas em um laboratório de treinamento – espaço mock-up – uma cópia fiel das instalações reais de um laboratório de máxima contenção biológica (NB4) – já disponível no campus do CNPEM. Neste espaço de simulação, pesquisadores em treinamento podem exercitar protocolos de segurança, sem a manipulação de materiais infecciosos ou risco de contágio, sob a supervisão de profissionais dedicados a conduzir avaliações individuais sobre protocolos de biossegurança.
A primeira turma a ser capacitada neste Centro de Treinamento do CNPEM será composta por oito profissionais da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), que chegam a Campinas em 26 de fevereiro.
“Esperamos capacitar profissionais de diferentes instituições do Brasil e também de países da América Latina. Ainda neste ano, devemos ter, outros turnos de treinamento. Há um consenso entre todos os atores envolvidos no Projeto de que essa frente é fundamental para gerarmos os melhores resultados com toda infraestrutura que será disponibilizada no Orion, fortalecendo também a comunidade acadêmica que já atua em laboratórios NB3”, destaca Tatiana Ometto, especialista em biossegurança de máxima contenção biológica do CNPEM.
“Os benefícios à sociedade começam a ser colhidos antes mesmo do início da operação propriamente dita do complexo Orion. Com a condução desse programa nacional de treinamento e capacitação em infraestruturas de alta e máxima contenção biológica, o CNPEM contribui para formação de recursos humanos em competências ainda pouco desenvolvidas no Brasil e nos demais países da América Latina. São requisitos fundamentais para proteger os brasileiros de eventuais futuras pandemias e estratégico para a soberania nacional”, resume Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM.
Os interessados nesse programa de formação podem obter mais informações no site: https://pages.cnpem.br/treinamentonb3/.
Sobre o CNPEM
Ambiente sofisticado e efervescente de pesquisa e desenvolvimento, único no Brasil e presente em poucos centros científicos do mundo, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) é uma organização privada sem fins lucrativos, sob a supervisão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Centro opera quatro Laboratórios Nacionais e é o berço do projeto mais complexo da ciência brasileira – Sirius – uma das fontes de luz síncrotron mais avançadas do mundo. O CNPEM é responsável pelo projeto Orion, complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos, primeira infraestrutura do Brasil a permitir experimentos em todos os níveis de biossegurança e único do mundo conectado a uma fonte de luz síncrotron. O CNPEM reúne equipes multitemáticas altamente especializadas, infraestruturas laboratoriais globalmente competitivas e abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores em parceria com o setor produtivo e formação de investigadores e estudantes. O Centro é um ambiente impulsionado pela pesquisa de soluções com impacto nas áreas de Saúde, Energia e Materiais Renováveis, Agroambiental, Tecnologias Quânticas. Por meio da plataforma CNPEM 360 é possível explorar, de forma virtual e imersiva, ambientes de todos os laboratórios instalados em Campinas (SP) e também obter informações sobre trabalhos realizados e recursos disponibilizados para a comunidade científica e empresas. Desde 2022, com o apoio do Ministério da Educação (MEC), o CNPEM expandiu suas atividades com a abertura da Ilum Escola de Ciência. O curso superior interdisciplinar em Ciência, Tecnologia e Inovação adota propostas inovadoras com o objetivo de oferecer formação de excelência, gratuita, em período integral e com imersão no ambiente de pesquisa do CNPEM.