Universidade do Texas Medical Branch (UTMB) realiza capacitação de pesquisadores e técnicos envolvidos no projeto do primeiro complexo laboratorial de máxima contenção biológica (NB4) da América Latina
No início de julho, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) recebeu uma comitiva de diretores e pesquisadores da The University of Texas Medical Branch (UTMB). A agenda do grupo de especialistas incluiu uma semana de treinamento teórico e prático sobre máxima contenção biológica (NB4), voltado para profissionais do CNPEM que atuarão no futuro complexo de laboratórios Orion, que compreenderá as primeiras instalações NB4 da América Latina, sendo o primeiro do mundo conectado a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius. Já o encontro com parte da direção das duas instituições discutiu uma futura parceria mais abrangente entre CNPEM e a Universidade.
A introdução ao treinamento em laboratórios de máxima contenção biológica, inédito na América Latina, foi aplicado pela primeira vez em instalações externas à UTMB. Realizado entre 2 a 7 de julho, o treinamento contou com a participação de especialistas do UTMB e do Centro, entre os quais Nicolette Rose Ward (Profissional Líder de Biossegurançal/UTMB), Corrie Amanda Ntiforo (Diretor Assistente, Biossegurança/UTMB), Rafael Elias (Virologia/CNPEM) e Tatiana Ometto (Biossegurança/CNPEM).
“A vinda da UTMB para capacitação em ambientes NB4, nos torna muito mais maduros nesse processo de preparar os nossos profissionais no Brasil. Esse é só o primeiro passo. Temos um longo caminho pela frente para começarmos a habilitar os nossos pesquisadores”, afirma Tatiana Ometto, biomédica e especialista de Biossegurança no CNPEM.
Cópia fiel
O laboratório de treinamento para NB4, onde foram realizadas as atividades práticas com os especialistas da UTMB, é uma cópia fiel das instalações reais de um laboratório de máxima contenção biológica. Neste espaço de simulação, pesquisadores em treinamento podem exercitar protocolos de segurança, sem a manipulação de materiais infecciosos ou risco de contágio, sob a supervisão de profissionais dedicados a conduzir avaliações individuais sobre protocolos de biossegurança.
“Não consigo imaginar um laboratório de nível quatro de biossegurança sem que haja um ambiente de treinamento. Há um valor em poder treinar as pessoas em um ambiente simulado seguro, antes de trazê-las para a parte de mais alto risco. Acredito que esse é o ponto mais importante, porque permite que os profissionais trabalhem com segurança e construam confiança”, afirma Coreen Tufro, diretora-assistente do Departamento de Biossegurança da UTMB.
Concomitantemente, pesquisadores do CNPEM têm realizado viagens para períodos de capacitação e desenvolvimento de pesquisas em laboratórios NB4 localizados nos Estados Unidos e na Europa. O objetivo é que, futuramente, o Centro esteja apto a formar seus próprios especialistas em ambientes laboratoriais de máxima biossegurança, além de treinar pesquisadores e técnicos de outros países para operar em laboratórios NB4. A conclusão da obra de construção do prédio do Orion está prevista para 2026.
Parceria ampliada
A comitiva de representantes da Diretoria foi guiada por Maurício Nogueira, professor da Universidade de São Paulo (USP) e assessor do CNPEM, e contou com a presença de Dr. Alan Landay (vice-presidente da UTMB), Dr. Scott Weaver (Diretor Científico do GNL – The Galveston National Laboratory/UTMB), Dr. Nikos Vasilakis (UTMB), Dra. Shannan Rossi (Professora Associada/UTMB), e Dra. Sharon Goddard (Vice-presidente associada de regulamentos de pesquisa e compliance/UTMB). Durante a visita, Landay destacou o interesse mútuo em fortalecer laços e desenvolver projetos em conjunto.
“Estou aqui para aprender mais sobre o trabalho que está sendo realizado no CNPEM e como nós, da UTMB, podemos interagir com os cientistas daqui. Certamente, um dos projetos que nos trouxe aqui foi o Orion. Estou tentando entender como os cientistas aqui no Brasil podem trabalhar com cientistas em Galveston, Texas. Acredito que há grandes oportunidades, não apenas na área de doenças infecciosas, mas também em doenças não transmissíveis e pesquisa sobre envelhecimento, possivelmente expandindo os horizontes dos cientistas aqui no Brasil, no CNPEM, e dos nossos cientistas na University of Texas Medical Branch, em Galveston”, explica Alan Landay, vice-presidente de Ciências da UTMB.
“Tendo em vista o que aconteceu na pandemia ocasionada pelo vírus da COVID-19, ficou muito evidente para a comunidade brasileira o quão importante é ter mais infraestrutura de pesquisa, e de manter os pesquisadores organizados em redes colaborativas, trabalhando em conjunto. Por esse motivo, buscamos estabelecer parcerias internacionais com instituições que já operam laboratórios de alta e máxima contenção, sobretudo aquelas que oferecem programas de treinamento associados. E uma dessas instituições é a University of Texas Medical Branch, nos Estados Unidos, com a qual já mantínhamos uma colaboração acadêmica que tem se desenvolvido de maneira muito promissora”, explica Rafael Elias Marques, biólogo e pesquisador-líder do Departamento de Virologia do CNPEM.
Projeto Orion
O projeto Orion será um complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos, que compreenderá instalações de máxima contenção biológica (NB4) inéditas na América Latina, sendo as primeiras do mundo conectadas a uma fonte de luz sincrotron, o Sirius. Em construção na cidade de Campinas-SP, no campus do CNPEM, o Projeto reunirá técnicas analíticas e competências avançadas de bioimagens, que serão abertas a comunidade científica e órgãos públicos. Ao possibilitar o avanço do conhecimento sobre patógenos e doenças correlatas, o Orion subsidiará ações de vigilância e política em saúde, assim como o desenvolvimento de métodos de diagnóstico, vacinas, tratamentos e estratégias epidemiológicas. Instrumento de apoio à soberania nacional no enfrentamento de crises sanitárias, o Orion tem o potencial de beneficiar diversas áreas, como saúde, ciência e tecnologia, defesa e meio ambiente.
A execução do projeto Orion é de responsabilidade do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Projeto integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, é financiado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do MCTI e apoiado pelo Ministério da Saúde (MS). A iniciativa faz parte da Nova Indústria Brasil (NIB), política industrial do Governo Federal, atuando como um instrumento de soberania, competência e segurança nacional nos campos científico e tecnológico para pesquisa, defesa, saúde humana, animal e ambiental. A concepção do Orion deve ainda fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), iniciativa coordenada pelo MS, voltada ao atendimento de demandas prioritárias do Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre o CNPEM
O CNPEM compõe um ambiente científico de fronteira, multiusuário e multidisciplinar, com ações em diferentes frentes do Sistema Nacional de CT&I. Organização Social supervisionada pelo MCTI, o CNPEM é impulsionado por pesquisas que impactam as áreas de saúde, energia, materiais renováveis e sustentabilidade. Responsável pelo Sirius, maior equipamento científico já construído no País, o CNPEM hoje desenvolve o projeto Orion, complexo laboratorial para pesquisas avançadas em patógenos. Equipes altamente especializadas em ciência e engenharia, infraestruturas sofisticadas abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores com o setor produtivo e formação de pesquisadores e estudantes compõem os pilares da atuação deste centro único no País, capaz de atuar como ponte entre conhecimento e inovação.
Credenciamento
As instalações de treinamento NB4 do CNPEM voltadas ao Orion, estão abertas para visitas de jornalistas interessados em conhecer todo o processo de capacitação em ambientes de alta biossegurança e, em breve, NB4. As visitas podem ser agendadas pelo e-mail andriotti@corcovadoestrategica.com.br