Acordo firmado entre CTBE e Bioenercel vai desenvolver tecnologia de etanol celulósico a partir de cana no Brasil e madeira no Chile
Assessoria de Comunicação, em 19/11/2010
Na última semana, o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) firmou um acordo de cooperação científica com o consórcio chileno Bioenercel SA para o desenvolvimento conjunto da tecnologia de etanol celulósico. Do lado do CTBE, o foco da pesquisa está centrado na conversão do bagaço e palha da cana-de-açúcar em biocombustível, enquanto do lado chileno os esforços se concentram na madeira.
O CTBE vai transferir ao grupo parceiro conhecimentos adquiridos durante a implantação – que vai até meados de 2011 – da sua Planta Piloto para Desenvolvimento de Processos (PPDP), de modo a contribuir para a otimização de processos e criação da indústria de etanol no Chile. No ano que vem os chilenos construirão sua primeira planta piloto para escalonamento de processos relacionados à produção de etanol de segunda geração. O trabalho conjunto com o CTBE servirá para validar o parque de equipamentos das plantas de ambos os países.
A infraestrutura de pesquisa do CTBE destinada à produção de enzimas que degradam o material lignocelulósico também será disponibilizada aos cientistas do Bioenercel. O Laboratório brasileiro produzirá preparados enzimáticos celulolíticos caracterizados de acordo com as Unidades Internacionais estabelecidas para uso em pesquisas sobre etanol de segunda geração (celulósico) no Chile. Produzir enzimas eficientes em converter a celulose da madeira ou da cana em açúcares capazes de serem fermentados em etanol é uma etapa vital à viabilidade econômica desta tecnologia.
Por fim, o acordo assinado engloba a elaboração de melhorias na Biorrefinaria Virtual de Cana-de-açúcar. Tal plataforma de simulação computacional de processos, em desenvolvimento no CTBE, possibilita avaliar os impactos ambientais, econômicos e sociais de uma nova tecnologia na área de cana e etanol. Uma vez finalizada, a Biorrefinaria Virtual deve contribuir para que empresas, governos e instituições de pesquisa do Brasil e demais países envolvidos no Programa definam prioridades de estudo, avaliem o sucesso de projetos e planejem o investimento em novas tecnologias no setor.
Consórcio Bioenercel
O Consórcio Bioenercel SA, composto por CMPC Celulose, Masisa, Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso, Fundação Chile e Universidade de Concepción, é uma das principais instituições de pesquisa em bioenergia do Chile, país com tradição na indústria de papel e celulose. Sua criação se deu em 2009, a partir do chamado do governo chileno para o “Concurso Nacional de Consorcios Tecnológicos Empresariales de Investigación en biocombustibles a partir de material lignocelulósico”.
Para o diretor do CTBE, Marco Aurélio Pinheiro Lima, a colaboração firmada permitirá a transferência do conhecimento brasileiro na área de etanol, de modo a permitir a substituição de uma pequena parcela dos combustíveis fósseis por bioetanol no País vizinho, dando início a um círculo virtuoso. Atualmente, os veículos chilenos são capazes de suportar sem avarias uma adição de até 10% de etanol à gasolina. A produção do biocombustível ajudaria o Chile a reduzir a dependência externa por fontes energia que, no caso do petróleo, chega a quase 100% do consumo interno.
Ao mesmo tempo, o intercâmbio de cientistas ajudará o Brasil a tornar o etanol produzido a partir do bagaço e palha da cana-de-açúcar viável em escala industrial.
Futuro da indústria chilena de etanol celulósico
A cooperação entre o CTBE e o consórcio chileno surgiu após reunião do Grupo de Trabalho Bianual Chile-Brasil de Cooperação Científico Tecnológica realizada em agosto deste ano no Ministério de Relações Exteriores do Chile. Lá foram definidas as prioridades de trabalho conjunto entre os países, dentre elas a inovação em biocombustíveis.
Segundo o diretor do Bionercel, Fernando Rioseco, a expectativa é que dentro de quatro anos sejam criadas as bases para o desenvolvimento da indústria chilena de etanol celulósico produzido a partir da madeira. Isto acontecerá em conjunto com uma avaliação econômica e técnica do setor e com a definição das empresas aptas a atuarem na área. Um dos principais desafios atuais, de acordo com Riosecco, é baixar o alto custo das enzimas utilizadas no processo, obstáculo semelhante ao que enfrentam Brasil e demais nações mundiais que disputam a corrida mundial pelo etanol celulósico.