Correio Popular em 22/05/2016
O mau tempo não foi capaz de conter a curiosidade do público, que enfrentou o frio e a garoa da manhã de sábado, e compareceu em peso ao “Ciência Aberta” , evento do Laboratório Nacional de Luz Síncroton (Lnls), em Campinas, no campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (Cnpem), no bairro Guará, onde o laboratório funciona desde 1997.
A visita, única já aberta ao público em geral, foi sucesso absoluto e registrou a passagem de 1,6 mil veículos e 4,8 mil pessoas ao longo do dia. Muitas famílias com crianças pequenas foram ao evento.
O intuito do “Ciência Aberta” era esclarecer à comunidade o funcionamento de um acelerador de partículas, inovação que colocou o Brasil em um seleto grupo de países que detém essa tecnologia.
Além de visitas guiadas às instalações do local, os visitantes puderam observar diversos materiais em microscópios, se deliciaram em uma praça de alimentação com 11 food trucks e divertiram as crianças no Caminhão Oficina Desafio, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Acho importante essa aproximação do público com a comunidade científica do Laboratório. É uma oportunidade para conhecer a nossa infraestrutura e o tipo de pesquisa que é feita aqui” , ressaltou o diretor do Lnsl, Antônio José Roque.
Atualmente no local funciona quatro laboratórios de pesquisas em vários campos, que juntos somam 400 trabalhos em andamento. São Paulo lidera as demandas com 40% das pesquisas, seguido pelo restante do Brasil com outros 40% e o restante é ocupado por institutos internacionais.
Nossos vizinhos da Argentina, por exemplo, respondem por 14% das demandas de fora do País. O gerador atual mede 90 metros de perímetro e é considerado de 2ª geração, tecnologia que já se tornou pouco competitiva. Oferece sete linhas de luz onde são montadas as estações de trabalho. Atualmente no Laboratório estão o melhoramento do arroz com a adição de mais ferro, estudo de materiais metálicos para plataformas da Petrobras, rastreamento de uma proteína do barbeiro para conter a transmissão da Doença de Chagas, estudos paleontólogos, estudo de células-tronco no campo da neuromedicina e, ainda, estudos do solo. Tudo isso graças à luz da corrida dos elétrons e sua luz síncroton surgida das partículas emanadas nesse incessante circuito à velocidade das luz, dentro da curva do acelerador.
Anderson Pissetti, ex-funcionário do Laboratório Nacional, compareceu com a esposa Regiane Pissetti e as duas filhas ao evento. Para ela, a oportunidade é única para o público em geral, principalmente os jovens que são mais ligados à tecnologia, e que puderam ter contato com o funcionamento dos laboratórios.
Outros ex-funcionários que retornaram ao local com a família foram Fábio Giocometto e Ângelo Romeu da Silva. Marilza Antonia da Silva, esposa de Silva, e os filhos Joice e Ângelo Silva, aproveitaram o passeio para uma parada na praça de alimentação onde muitas opções interessantes atraíram à atenção dos visitantes.
Por R$ 10 era possível saborear um sorvete de nitrogênio oferecido em 14 sabores. Sávio Issago, responsável pelo truck, contou que o nitrogênio baixa a temperatura da massa do sorvete a menos 200º C conferindo um toque diferenciado ao produto.
Projeto Sírius
Quem compareceu ao “Ciência Aberta” notou o gigantesco canteiro de obras do Projeto Sírius – novo acelerador de partículas previsto para 2019 – e que irá consumir R$ 1,7 bilhão provenientes de recursos do Governo federal. Até o momento aproximadamente R$ 600 milhões já foram contratados para o projeto. Roque ressalta que se trata de um projeto 100% nacional iniciado em 2014, e que irá oferecer a 4a geração na luz síncroton, ficando atrás somente da Suécia que inaugura o acelerador dessa geração em julho. “Teremos a luz síncroton mais brilhante do mundo!” , comemora o diretor do Lnls. O feito será motivo de orgulho à nação, que começou do zero na área e em 30 anos conquistou a liderança. Um feito de grande escala na alta tecnologia, reforça Roque. O novo acelerador terá inicialmente 40 linhas de luz com uma incrível resolução nanométrica.