Planeta Universitário em Maio
Em 2014, a Cellco, uma empresa criada por três ex-alunos do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e dedicada à pesquisa, consultoria e distribuição de reagentes para biotecnologia, incubou-se no IFSC, via convênio com a Universidade, tendo como coordenador e entusiasta o Prof. Dr. Rafael Guido (IFSC/USP), membro do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar)*, cujo time de pesquisadores conta com a atuação de especialistas e docentes do Grupo de Cristalografia do Instituto.
O desejo de criar uma empresa surgiu em meados de 2011, quando os ex-alunos do IFSC, Fernando Maluf, Maria Amélia Oliva Dotta e Fernanda Cristina Costa, já haviam atuado com pesquisa no exterior e sentido as grandes dificuldades que cientistas brasileiros enfrentam diariamente, seja durante a solicitação de reagentes que demoram semanas – ou meses – para serem entregues, ou na difícil tentativa de desenvolver uma pesquisa de alto impacto.
“No Brasil, a inovação é um grande desafio e, pelo fato de não ser muito comum, os órgãos competentes ainda não estão preparados”, explica Maria Amélia, complementando que, durante a criação da Cellco, os empreendedores encontraram bastantes obstáculos em cada etapa que surgia para estabelecerem a empresa, o que demonstrou, para a pesquisadora, o quão despreparado está o Brasil, neste sentido. “A legislação não é atualizada na velocidade em que as coisas evoluem, hoje”, pontua Fernando.
No Brasil, onde o empreendedorismo ainda não é uma iniciativa tão comum, são enormes as dificuldades estabelecidas para aqueles que querem abrir o próprio negócio. Talvez seja ainda mais complicado quando se deseja empreender na área da ciência. A insegurança em investirem em algo tão novo no país e a cascata de burocracias desanimaram esses três amigos logo nos primeiros passos dados para fundar a companhia. “Os obstáculos para abrir a empresa foram tão grandes, que nos deixaram perdidos. Não tínhamos amparo ou estratégia. Não desistimos, mas não conseguimos seguir em frente com essa ideia naquele momento”, diz Fernando Maluf.
A ideia de empreender na área de biotecnologia nasceu em 2012, durante uma visita à Jena Bioscience, companhia alemã fundada em 1998 por cientistas do Instituto Max-Planck Dortmund (Alemanha), que hoje produz e fornece reagentes para laboratórios de pesquisa e indústrias farmacêuticas de vários países. Naquela ocasião, Maluf e Fernanda tiveram a oportunidade de conhecer e estagiar nessa indústria e também de conversar com o CEO da companhia, Mathias Grün. “Nesse encontro, conversamos muito com Mathias, que comentou que tínhamos ótimas oportunidades para explorar no Brasil e que a Jena Bioscience poderia dar suporte para abrirmos nossa empresa”. A conversa animou Maluf, Fernanda e Maria Amélia, mas, como cada um deles estava dedicado e centrado nem seus próprios projetos individuais, a ideia de estabelecer uma companhia tornou a esfriar.
Em 2014, Maria Amélia trabalhava na empresa farmacêutica SEM. Por seu turno, Fernanda desenvolvia o pós-doutorado no Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBio/CNPEM), sediado em Campinas (SP), enquanto Maluf finalizava o doutorado em Física Aplicada, no IFSC/USP. Logo no início desse ano, os três amigos decidiram retomar a ideia empreendedora e concretizar a empreitada de abrir a Cellco. “Nos comprometemos a descartar a ideia apenas quando ela de fato não desse certo”, relembra Maluf. Em fevereiro de 2014, após ter recebido um e-mail de Fernando, que relatava a decisão dos amigos em criar a Cellco, Mathias veio ao Brasil, onde conversou com os egressos do IFSC, deu o suporte que havia oferecido meses antes e embarcou no sonho desses três amigos. A vinda do fundador da Jena Bioscience ao país e o empenho dos jovens empreendedores resultaram na incubação da Cellco no Parqtec, em São Carlos, em novembro de 2014.
No início, a empresa se dedicava estritamente ao desenvolvimento de pesquisa e à consultoria na área de ciências da vida, propondo oferecer sua expertise para auxiliar pesquisadores em seus projetos. “Ao invés do pesquisador se deslocar para fazer uma clonagem [etapa simples, porém indispensável em muitos projetos], por exemplo, nós próprios nos oferecemos para desenvolver essa fase dos estudos, terceirizando o trabalho”, explica Fernando.
Atualmente, além de consultorias e prestação de serviços, a Cellco tem se dedicado ao desenvolvimento de enzimas e reagentes de uso aplicado em pesquisa na academia e na indústria com resultados promissores, que deram origem a protótipos que serão produzidos e comercializados em breve. Uma dessas enzimas, inclusive, passou por avaliação de qualidade feita pela Jena Bioscience, tendo se mostrado superior àquelas já comercializadas.
Recentemente, após quase dois anos de espera, a empresa obteve uma licença ambiental que libera a produção e comercialização de suas enzimas. Além disso, a jovem companhia representa com exclusividade a marca Jena BioScience no Brasil, objetivando, também, produzir e fornecer reagentes para laboratórios do Brasil e de outros países, em especial, aos da América Latina.
Repercussão: SCDN