Dentre aqueles que enviaram propostas, 25% nunca usou os laboratórios do CNPEM
A primeira chamada para a realização de experimentos no Sirius, fonte de luz síncrotron brasileira, recebeu 334 propostas de pesquisa, submetidas por pesquisadores de 15 países e de 17 diferentes estados brasileiros. Projetada e operada pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização supervisionada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Sirius é a maior e mais complexa infraestrutura de pesquisa do País.
Entre novembro e dezembro de 2022, pesquisadores do Brasil e do mundo todo interessados em realizar experimentos no Sirius puderam submeter propostas para uso das seis estações de pesquisa, conhecidas como “linhas de luz”. Dentre as 334 propostas recebidas, 298 são provenientes de instituições brasileiras e 36 de instituições estrangeiras, principalmente da Argentina, Grã-Bretanha, Alemanha, Arábia Saudita, Estados Unidos e Suíça.
A região brasileira responsável pelo maior número de submissões de propostas de pesquisa é a Sudeste (74,8%), seguida pela região Nordeste (12,7%). Em seguida aparecem a Região Sul (9,7%) e regiões Norte e Centro-Oeste, com 1,3% cada. Foram recebidas propostas de pesquisadores de 17 diferentes estados, e dentre eles os estados que mais enviaram propostas foram São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco.
Cerca de 25% das propostas recebidas foram submetidas por novos usuários, ou seja, por pesquisadores que nunca haviam utilizado as instalações abertas disponíveis em nenhum dos quatro laboratórios nacionais que fazem parte do CNPEM. Dentre as propostas submetidas, a área do conhecimento mais frequente é Ciência dos Materiais e Nanotecnologia, seguida pelos campos de Física, Química, Terra e Meio Ambiente e Ciências de Agricultura, nesta ordem.
Processo de avaliação
As propostas submetidas para o Sirius serão selecionadas por um processo que privilegia o mérito científico, avaliado através de sistema de revisão por pares com duplo anonimato. A alocação final de tempo de feixe nas estações de pesquisa será realizada considerando também as distribuições geográficas e a diversidade de áreas científicas.
Além de não ter custos para uso acadêmico, pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras que residam em países da América Latina e Caribe, com propostas aprovadas, podem solicitar auxílio financeiro para a utilização das instalações do Sirius e viagem à Campinas-SP. Os experimentos das propostas selecionadas nesta chamada serão agendados para execução a partir de março deste ano. Uma nova chamada de pesquisas deve ser aberta no segundo trimestre de 2023.
Mais informações estão disponíveis no site do LNLS em: https://lnls.cnpem.br/noticias/sirius-abre-nova-chamada-para-receber-propostas-de-pesquisa/. No link também é possível entrar em contato com o corpo técnico do LNLS para esclarecimento de dúvidas científicas ou operacionais.
Linhas de luz em operação
A primeira chamada regular de pesquisas para o Sirius contempla seis linhas de luz, como são chamadas suas estações experimentais. Essas linhas operam de forma independente e simultânea e já passaram pela fase de comissionamento científico – quando pesquisadores testam parâmetros da máquina e as técnicas disponíveis em experimentos reais. As linhas de luz e os experimentos disponíveis nesta chamada são:
- Carnaúba: Micro e nano-fluorescência e espectroscopia de raios-X e pticografia. Realiza análises dos mais diversos materiais nano-estruturados, visando a obtenção de imagens 2D e 3D com resolução nanométrica da composição e estrutura de solos, materiais biológicos e fertilizantes, além de outras investigações nas áreas de ciências ambientais.
- Cateretê: Imagem por difração coerente (pticografia) e espectroscopia de correlação de fótons de raios-X (XPCS). Otimizada para a obtenção de imagens tridimensionais com resolução nanométrica de materiais para as mais diversas aplicações.
- Ipê: Espectroscopia de absorção (XAS) e de fotoelétrons excitados por raios-X (XPS). Essa linha é otimizada para estudar a distribuição dos elétrons em átomos e moléculas presentes em interfaces líquidas, sólidas e gasosas. Permite sondar como as ligações químicas ocorrem nas interfaces de materiais como catalisadores, células eletroquímicas, materiais sujeitos a corrosão, ou ainda como a corrente elétrica se propaga em diferentes materiais, desde isolantes até supercondutores.
- Ema: Difração e espectroscopia de raios X em altas pressões. As técnicas disponíveis nesta linha permitem a investigação de materiais submetidos a condições extremas de temperatura, pressão ou campo magnético. O estudo da matéria nessas condições pode revelar novas propriedades com características que não existem em condições ambientes normais. Este é o caso, por exemplo, dos materiais supercondutores, capazes de conduzir correntes elétricas sem resistência, com o potencial de revolucionar a transmissão e o armazenamento de energia.
- Imbuia: Micro e nano-espectroscopia de infravermelho (FTIR). Esta estação experimental é dedicada a experimentos utilizando a luz infravermelha, que permite a identificação dos grupos funcionais de moléculas e a análise da composição de praticamente qualquer material, com resolução nanométrica.
- Manacá: Micro cristalografia de Macromoléculas (MX). Equipada com instrumentos que permitem revelar estruturas tridimensionais de proteínas e enzimas com resoluções atômicas, revelando a posição de cada um dos átomos que compõem uma determinada proteína estudada, suas funções e interações com outras moléculas, como as usadas como princípios ativos de novos medicamentos.
A submissão de propostas de pesquisa à linha Manacá segue a modalidade Fast Track – esta linha de luz está aberta para submissões em fluxo contínuo, sem qualquer interrupção, conforme adotado anteriormente durante a fase de comissionamento científico.
Avaliação 360
Para que todas as propostas sejam avaliadas por múltiplos pontos de vista de especialistas, está sendo adotado um novo esquema de avaliação distribuída, onde todos os proponentes da chamada também são potenciais revisores para a mesma chamada, dentro das suas áreas de atuação. Pelo menos cinco revisores avaliam cada proposta. “Os avaliadores não tem acesso aos nomes dos proponentes e suas instituições de origem. Pronomes de gênero também não constam nas propostas de pesquisa. Para atender ao anonimato, os autores foram instruídos a remover qualquer linguagem que identifique pesquisas publicadas anteriormente por seu grupo, para eliminar qualquer viés dos revisores”, enfatiza o diretor do LNLS, Harry Westfahl Jr.
O sistema de análise também se aplica às pesquisas conduzidas pelos grupos científicos do CNPEM.
Para o futuro: novas linhas
Além das 6 linhas abertas para a operação regular, a partir do ano que vem mais 5 linhas receberão usuários no modo de comissionamento científico, quando usuários poderão realizar experimentos que ajudem a avaliar os parâmetros da linha:
- MOGNO: Micro e nano-tomografia de raios-X
- PAINEIRA: Difração de Raios X em Policristais
- CEDRO: Dicroísmo Circular
- SABIÁ: Espectroscopia de absorção e técnicas de Imageamento de raios X moles
Adicionalmente, a linha SAPÊ (Espectroscopia de Fotoemissão com resolução angular) receberá propostas regulares para utilização do espectrômetro offline, ainda sem conexão com a fonte de luz síncrotron.
Sobre o CNPEM
Ambiente sofisticado e efervescente de pesquisa e desenvolvimento, único no Brasil e presente em poucos centros científicos do mundo, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) é uma organização privada sem fins lucrativos, sob a supervisão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Centro opera quatro Laboratórios Nacionais e é o berço do projeto mais complexo da ciência brasileira – Sirius – uma das fontes de luz síncrotron mais avançadas do mundo. O CNPEM reúne equipes multitemáticas altamente especializadas, infraestruturas laboratoriais globalmente competitivas e abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores em parceria com o setor produtivo e formação de investigadores e estudantes. O Centro é um ambiente impulsionado pela pesquisa de soluções com impacto nas áreas de Saúde, Energia e Materiais Renováveis, Agroambiental, Tecnologias Quânticas. A partir de 2022, com o apoio do Ministério da Educação (MEC), o CNPEM expandiu suas atividades com a abertura da Ilum Escola de Ciência. O curso superior interdisciplinar em Ciência, Tecnologia e Inovação adota propostas inovadoras com o objetivo de oferecer formação de excelência, gratuita, em período integral e com imersão no ambiente de pesquisa do CNPEM. Por meio da Plataforma CNPEM 360 é possível explorar, de forma virtual e imersiva, os principais ambientes e atividades do Centro, visite: https://pages.cnpem.br/cnpem360/.