100 novos projetos serão desenvolvidos nas seis estações de pesquisa já disponíveis na maior infraestrutura científica do País
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização supervisionada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), divulgou a lista de projetos científicos aprovados para uso das instalações de pesquisa do Sirius, a maior e mais complexa infraestrutura de pesquisa do Brasil, dedicada à análise da estrutura dos mais diversos materiais em micro e nanoescala.
Foram 100 propostas de pesquisa selecionadas, dentre as 281 que foram submetidas na segunda chamada oficial para a realização de experimentos no Sirius, aberta entre os dias 3 e 24 de abril deste ano. As propostas aprovadas terão seus experimentos realizados ao longo do segundo semestre de 2023, entre 2 de agosto e 16 de dezembro.
Quase um quarto das propostas recebidas foram submetidas por novos usuários, ou seja, por pesquisadores que nunca haviam utilizado as instalações abertas disponíveis em nenhum dos quatro laboratórios nacionais que fazem parte do CNPEM. Entre as propostas selecionadas, 15% são de novos usuários.
Dentre as propostas de experimento selecionadas, as áreas de pesquisa que aparecem com mais frequência são ciência dos materiais e nanotecnologia (30%), Física (21%), Química (14%) e Ciências Biológicas e biotecnologia (12%).
Demanda internacional
Das propostas recebidas, 241 foram submetidas por pesquisadores de instituições brasileiras, enquanto 40 foram provenientes de instituições científicas estrangeiras. Estimulados pela vanguarda e ineditismo do Sirius no contexto científico global, nota-se entre as propostas submetidas a presença crescente de pesquisadores provenientes de instituições científicas europeias (35%), bem como dos demais países da América Latina (32,5%) e, ainda, da América do Norte (15%), Ásia (15%) e Oriente Médio (2,5%).
Pesquisadores de instituições internacionais também respondem pela maior parte das propostas aprovadas que foram submetidas por novos usuários. Dentre as propostas selecionadas, 15% foram submetidas por pesquisadores de instituições da Itália, Estados Unidos, China, Argentina, Suécia e Grã-Bretanha.
Duplo anonimato
Desde a primeira chamada regular de propostas para uso das linhas de luz do Sirius, aberta no final do ano passado, o CNPEM tem adotado novos critérios de avaliação e seleção, mais inclusivos e colaborativos. Nesta segunda chamada, mais uma vez as propostas foram selecionadas por um processo que privilegia o mérito científico, avaliado através de sistema de revisão por pares com duplo anonimato.
Para que todas as propostas sejam avaliadas por múltiplos pontos de vista de especialistas, foi adotado um sistema de avaliação distribuída, no qual todos os proponentes da chamada também se tornam potenciais revisores da mesma chamada, dentro das suas áreas de atuação. Pelo menos cinco revisores avaliam cada proposta.
Um dos objetivos do processo é eliminar qualquer viés dos revisores ao longo do processo, como explica o diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), Harry Westfahl Jr. “Os avaliadores não têm acesso aos nomes dos proponentes e suas instituições de origem. Pronomes de gênero também não constam das propostas de pesquisa. Para atender ao anonimato, os autores foram instruídos remover qualquer linguagem que identificasse pesquisas publicadas anteriormente por seu grupo.”
O processo anonimizado é aplicado também às propostas submetidas por pesquisadores do CNPEM. Após a fase de avaliação distribuída, o processo passa pela revisão de um Comitê de Avaliação Científica de Propostas (CACIP), antes que os dados dos proponentes e revisores sejam revelados, buscando garantir que as notas dadas pelos revisores fossem consistentes com as opiniões expressas por eles.
Antonio Gomes Souza Filho, pesquisador que faz parte do Comitê de Avaliação Científica de Propostas (CACIP), observa claramente avanços e aprimoramentos no processo: “A forma como a proposta é apresentada facilita a avaliação técnica dos pares (ad-hocs) e também o trabalho de apreciação do CACIP, no sentido de consolidar e comparar as diferentes propostas para ranqueamento”, avalia.
Apesar de os dados históricos do processo de seleção realizados anteriormente não apontarem enviesamentos significativos nas avaliações, a adoção de medidas que buscam conferir maior transparência e legitimidade ao processo de avaliação e seleção tem sido discutido e buscado por outros equipamentos científicos internacionais.
De acordo com Brunno Albuquerque, gerente do Escritório de Usuários do CNPEM, outras fontes de luz síncrotrons do mundo já buscaram consultar sobre o novo processo. “Saber que as nossas ideias estão sendo vistas como exemplos por outras instituições é muito motivante, e vamos seguir inovando na busca pelo método mais inclusivo para os usuários do Brasil, América Latina e do mundo.”
Sobre o Sirius
Projetado e construído por brasileiros e financiado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o Sirius é uma das fontes de luz síncrotron mais avançadas do mundo. Este grande equipamento científico possui em seu núcleo um acelerador de elétrons de última geração, que gera um tipo de luz capaz de revelar a microestrutura de materiais orgânicos e inorgânicos. Essas análises são realizadas em estações de pesquisa, chamadas linhas de luz. O Sirius comporta diversas linhas de luz, otimizadas para experimentos diversos, e que funcionam de forma independente entre si, permitindo que diversos grupos de pesquisadores trabalhem simultaneamente, em diferentes pesquisas nas mais diversas áreas, como saúde, energia, novos materiais, meio ambiente.
As diferentes técnicas experimentais disponíveis nas linhas de luz do Sirius permitem observar aspectos microscópicos dos materiais, como os átomos e moléculas que os constituem, seus estados químicos e sua organização espacial, além de acompanhar a evolução no tempo de processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem em frações de segundo. Em uma linha de luz é possível acompanhar também como essas características microscópicas são alteradas quando o material é submetido a diversas condições, como temperaturas elevadas, tensão mecânica, pressão, campos elétricos ou magnéticos, e ambientes corrosivos. Essa capacidade é uma das principais vantagens das fontes de luz síncrotron, quando comparadas a outras técnicas experimentais de alta resolução.
As linhas de luz do Sirius são instrumentos científicos avançados, projetados para solucionar problemas em áreas estratégicas para o desenvolvimento do País. Seis linhas de luz estão abertas para a comunidade científica e tecnológica, dentre um conjunto de 14 linhas inicialmente planejadas para cobrir uma grande variedade de programas científicos. Ao todo, Sirius poderá abrigar até 38 linhas de luz.
Sobre o CNPEM
Ambiente sofisticado e efervescente de pesquisa e desenvolvimento, único no Brasil e presente em poucos centros científicos do mundo, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) é uma organização privada sem fins lucrativos, sob a supervisão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O Centro opera quatro Laboratórios Nacionais e é o berço do projeto mais complexo da ciência brasileira – Sirius – uma das fontes de luz síncrotron mais avançadas do mundo. O CNPEM reúne equipes multitemáticas altamente especializadas, infraestruturas laboratoriais globalmente competitivas e abertas à comunidade científica, linhas estratégicas de investigação, projetos inovadores em parceria com o setor produtivo e formação de investigadores e estudantes. O Centro é um ambiente impulsionado pela pesquisa de soluções com impacto nas áreas de Saúde, Energia e Materiais Renováveis, Agroambiental, Tecnologias Quânticas. Por meio da é possível explorar, de forma virtual e imersiva, ambientes de todos os laboratórios instalados em Campinas (SP) e também obter informações sobre trabalhos realizados e recursos disponibilizados para a comunidade científica e empresas. A partir de 2022, com o apoio do Ministério da Educação (MEC), o CNPEM expandiu suas atividades com a abertura da Ilum Escola de Ciência. O curso superior interdisciplinar em Ciência, Tecnologia e Inovação adota propostas inovadoras com o objetivo de oferecer formação de excelência, gratuita, em período integral e com imersão no ambiente de pesquisa do CNPEM.