Correio Popular, em 29/11/2013
Grupo de Piracicaba prevê levar combustível do bagaço e palha da cana ao mercado em 2014
O etanol de segunda geração obtido a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar vai chegar ao mercado em 2014 e as empresas envolvidas na fabricação desse álcool — uma delas na região de Campinas — estão na corrida pelo pioneirismo da produção. A Raízen Energia, uma associação entre a Shell e a Cosan, grupo brasileiro de energia e infraestrutura, anunciou ontem que começará a produzir o etanol 2G em Piracicaba em novembro do próximo ano, enquanto a GranBio, empresa de biotecnologia industrial, informou que começa produzir esse álcool em maio, em São Miguel dos Campos, em Alagoas. Uma terceira planta, da Petrobras Biocombustíveis, está sendo ainda detalhada e deve ser instalada em Goiás, em 2014.
O preço na bomba será o mesmo do álcool produzido a partir do caldo da cana, de primeira geração. Os projetos envolvem grandes investimentos e irão permitir ampliar em 50% a produção de etanol no Brasil, sem necessidade de aumentar a área plantada com cana. A Raízen vai investir R$ 231 milhões na planta que começou a ser construída na Usina Costa Pinto, em Piracicaba — será a primeira de um total de oito que o grupo planeja implantar no Estado de São Paulo nos próximos dez anos. Parte do recurso vem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A produção na unidade de Piracicaba será de 40 milhões de litros anuais.
Quando as oito estiverem implantadas, a produção será de 1 bilhão de litros anuais.
A Granbio vai investir R$ 4 bilhões até 2020 (o BNDES já aportou R$ 900 milhões) para produzir 80 milhões de litros anuais de etanol celulósico. A empresa está plantando de forma experimental em Alagoas e fazendo o cruzamento genético com variedades brasileiras de cana para chegar a uma espécie mais adaptada ao clima local.
Além disso, montou um laboratório em Campinas, onde uma dezena de especialistas pesquisa enzimas e leveduras capazes de converter a celulose em etanol de forma mais eficiente.
A dinamarquesa Novozymes decidiu construir em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, sua primeira fábrica no Brasil dedicada exclusivamente à fabricação de enzimas que transformam a celulose do bagaço e da palha em etanol. O investimento nessa fábrica pode chegar a US$ 300 milhões, para atender aos projetos da Granbio e da Raízen.
“A forma de produção de etanol de resíduo é inteligente, porque não compete com áreas agrícolas. Com a mesma área plantada de cana, temos possibilidade de dobrar a produção de etanol, extraindo álcool do bagaço e da palha”, disse o diretor de coordenação de exploração e produção de petróleo da Shell, Carlos Montagna, que participou, na segunda-feira, da inauguração do Laboratório de Caracterização de Biomassa da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Há muita pesquisa sendo desenvolvida para tornar mais eficiente e barata a produção do etanol do bagaço, disse a pesquisadora Maria Aparecida Silva, coordenadora do Laboratório de Caracterização de Biomassa da Unicamp. Uma delas, que gerou o registro de patente, foi a separação de uma fração do bagaço da cana onde a hidrólise é mais eficiente, informou.
A hidrólise é um processo que permite retirar todo o açúcar contido no bagaço e na palha da cana e que não é possível ser aproveitado pelos métodos normais de retirada do açúcar para a produção do álcool.
“Como o bagaço é usado para produção de energia, o que fizemos foi obter uma fração desse bagaço onde a hidrólise é mais fácil, de forma que pudemos compor um processo onde há a produção do álcool de primeira geração (a partir do caldo da cana), de eletricidade (pela queima do bagaço) e o etanol de segunda geração”, explicou a coordenadora.
Laboratório
Está em Campinas, também, o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), uma instituição de pesquisa, desenvolvimento e inovação na área de etanol de cana-de-açúcar. Entre os trabalhos que estão sendo desenvolvidos nesse laboratório, estão processos de obtenção de etanol celulósico, energia elétrica e coprodutos derivados da química verde (conceito de biorrefinaria) para aproveitar integralmente a cana-de-açúcar.
Essas tecnologias devem explorar a integração com a produção atual de etanol e obedecer a critérios de viabilidade tecnoeconômica e de sustentabilidade da cadeia produtiva.