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Pesquisadores brasileiros revelam diferenças significativas nas proteínas da saliva de pessoas saudáveis e de indivíduos com câncer de boca, com e sem lesão ativa. A descoberta poderá guiar o tratamento de um dos mais frequentes cânceres de boca – o carcinoma oral de células escamosas (OSCC). Publicada na revista Scientific Reports, do grupo Nature, a revelação rendeu o VII Prêmio Octavio Frias de Oliveira, na categoria pesquisa oncológica, à coordenadora do estudo, Adriana Franco Paes Leme, doLaboratório Nacional de Biociências (LNBio).
A pesquisa seleci
onou um painel de proteínas capaz de diferenciar o grupo com câncer do grupo saudável com 90% de acurácia. “Esse estudo abre caminho para a definição de proteínas marcadoras de prognóstico que poderão auxiliar a decisão clínica dos oncologistas. Além disso, as proteínas selecionadas refletem alterações em mecanismos celulares que podem ajudar a elucidar o surgimento e a progressão deste tipo de câncer oral, que leva cerca de 20% dos pacientes à morte em até cinco anos após o diagnóstico”, comenta Adriana Paes Leme, coordenadora da pesquisa.
As amostras de saliva, coletadas pela Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), foram analisadas por meio da técnica de proteômica baseada em descoberta no LNBio. Os resultados levaram à identificação de 38 proteínas presentes somente na saliva de indivíduos com câncer e lesão ativa, cinco exclusivas à saliva do grupo com câncer sem lesã
o ativa, assim como diferenças na expressão de quatro proteínas localizadas em vesículas extracelulares da saliva de pessoas com câncer. Uma proteína específica, chamada PPIA, mostrou-se relacionada a um pior prognóstico da doença, quando encontrada em baixa concentração na saliva. Mesmo em pacientes que removeram cirurgicamente as lesões ativas, o perfil proteico mostrou-se diferente, sugerindo alterações na resposta imune e/ou inflamatória.
A pesquisa contou com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). As análises de proteômica foram realizadas no Laboratório de Espectroscopia do LNBio, uma instalação aberta a usuários externos.
Próximos passos
Para validar os dados obtidos, os pesquisadores já se preparam para avaliar um número maior de indivíduos e incluir pacientes que fizeram tratamento com radioterapia. Além disso, a continuidade do projeto prevê análises de amostras de sangue e de tecidos tumorais. Os dados obtidos no laboratório continuarão a ser confrontados com o histórico clínico dos indivíduos que participam do estudo, a fim de correlacionar as proteínas com metástase, recidiva e sobrevida.
“A saliva se mostrou uma fonte interessante de marcadores de prognóstico. Isso é animador, pois trata-se de um fluido que pode ser obtido sem a necessidade de procedimentos invasivos. Eu ainda não afirmo que temos marcadores de prognóstico, mas estamos trabalhando para isso”, conclui Paes Leme.
O Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O LNBio dedica-se à pesquisa e inovação nas áreas de biotecnologia e descoberta de fármacos. O Laboratório concentra competências voltadas à realização de estudos multidisciplinares nas áreas de biologia estrutural, proteômica, genômica, metabolômica, triagens moleculares de alto desempenho, bioensaios, química medicinal, bibliotecas de compostos orgânicos sintéticos e derivados de produtos naturais, cristalografia de proteínas, ressonância nuclear magnética, biofísica de proteínas e desenvolvimento de organismos geneticamente modificados. O LNBio é um dos Laboratórios Centrais da Rede Nacional de Métodos Alternativos (Renama) ao uso de animais, juntamente com o Instituto Nacional de Metrologia Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS).
Repercussão: Dicyt