Web Rádio Água em 15/02/2017
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Somente na safra 2015/2016 foram 655 milhões de toneladas destinadas para diversos fins, como a produção de etanol, que ajuda a substituir os combustíveis fósseis e, consequentemente, diminuir as emissões de gases poluentes na atmosfera.
Após a extração do caldo, cerca de um terço fica para trás como resíduo: o chamado bagaço. O que pouca gente sabe é que ele pode ser utilizado como matéria-prima para dar origem ao carvão ativo, componente bastante utilizado, por exemplo, em sistemas de purificação da água e do ar.
A técnica está sendo desenvolvida por pesquisadores do Laboratório Nacional de Tecnologia, que pertence ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNNano/CNPEM). O primeiro passo para a fabricação é a queima completa do bagaço, conforme explica Mathias Strauss, pesquisador do Centro:
“São basicamente duas etapas. A primeira delas é o processo de carbonização do bagaço de cana, em que transformamos o bagaço num carvão não ativado ainda e em seguida esse carvão é misturado com regentes químicos (que são chamados de agentes de ativação) e submetemos esse material a um tratamento térmico, que faz com que esses agentes químicos abra poros no carvão, o que leva esse carvão a se tornar o chamado carvão ativado. Esses poros são bem pequenos e são onde ficam retidos os poluentes da água e do ar que se deseja fazer a descontaminação, por exemplo.”
Segundo o pesquisador, a inovação, se desenvolvida em larga escala, pode trazer importantes vantagens ao Brasil, que ainda importa o produto:
“A primeira delas é que o Brasil ainda é bastante dependente da importação do carvão ativo. Então isso nos torna bastante vulneráveis a questões cambiais e de comércio exterior. A segunda delas é que, pelo menos em escala de laboratórios e de bancada, temos estudado e visto que carvão ativo pode ser até 20% mais barato. E a outra está relacionada à questão de desempenho. Os nossos materiais tem pelo menos o mesmo desempenho ou até duas vezes melhores que os carvões comerciais ativos mais comuns. E além disso, fazemos uso de um recurso que é extremamente abundante no País, o que também é uma grande vantagem.”
“Há a necessidade de encontrarmos agora um parceiro, que esteja disposto a investir no projeto para fazer o escalonamento dessa nova tecnologia que desenvolvemos. Em cima disso acreditamos que em até cinco anos a gente pode ter o carvão ativo em escala comercial disponível. Ao mesmo tempo, temos desenvolvido outras pesquisas com outros tipos de materiais (como aditivos poliméricos, condicionares de solo) também desses resíduos. O propósito é sempre que possamos, obter materiais e produtos de maior valor agregado e trazer novas rotas econômicas e alternativas para o setor do agronegócio brasileiro.”