Assessoria de Comunicação em 03/03/2017
Pesquisa realizada no Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), do Centro Nacional de Energia e Pesquisa em Materiais, apresenta um novo modelo animal que reproduz com precisão os efeitos do zika vírus no desenvolvimento embrionário. Fêmeas de camundongos gestantes e com sistema imunológico íntegro, infectadas com o vírus, apresentaram, pela primeira vez, embriões com hidrocefalia (quadro precursor da microcefalia que acomete humanos), artrogripose (doença congênita caracterizada por múltiplas contraturas nas articulações) e disrafia espinhal (problemas no fechamento do tubo neural) – malformações que também vêm sendo encontradas em seres humanos.
O artigo, publicado em 23 de fevereiro na revista internacional PLOS Neglected Tropical Diseases, também correlaciona o desenvolvimento das malformações ao tempo de gestação. Fêmeas infectadas entre 5,5 e 9,5 dias após o coito, período análogo entre a segunda e quinta semana de gestação em seres humanos, estiveram mais suscetíveis a apresentar embriões com problemas. Cobaias infectadas em fases mais avançadas não apresentaram problemas morfológicos.
Até então, os modelos animais disponíveis para estudos do vírus da zika apresentavam limitações, como sistema imunológico deficiente, emprego de linhagens geneticamente modificadas ou meios de infecção invasivos, como injeções cerebrais. No modelo desenvolvido no Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do CNPEM, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Fiocruz Pernambuco, o sistema imunológico das cobaias foi mantido intacto e a infecção aconteceu por meio de injeção intravenosa nas fêmeas grávidas. Desta forma, o modelo reproduz o caminho que o vírus enfrenta ao cair na corrente sanguínea, similar ao que acontece após a picada do mosquito Aedes aegypti.
Danos à placenta também são descritos no trabalho publicado. Dentre as principais alterações causadas pelo Zika Vírus, encontra-se a destruição de camadas essenciais à gestação. A barreira onde ocorrem as trocas de metabólitos entre os organismos materno e fetal se mostrou inexistente. Em seu lugar, foi observada uma camada de colágeno e diversos pontos de hemorragia. A pesquisa demostrou também a inexistência da camada placentária responsável por secretar hormônios.
Ao reproduzir condições semelhantes às observadas em grávidas e embriões humanos infectados por Zika Vírus, o novo modelo animal promoverá estudos sobre as anomalias e malformações embrionárias decorrentes da infecção.
A pesquisa foi financiada com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), do Ministério da Saúde, por meio do programa Rede Zika, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Sobre o LNBio
O Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O LNBio dedica-se à pesquisa e inovação nas áreas de biotecnologia e descoberta e desenvolvimento de fármacos contra doenças negligenciadas, câncer, doenças cardiovasculares, dentre outras enfermidades. O Laboratório concentra competências, equipamentos de última geração e um time de pesquisadores de classe mundial voltados à realização de estudos multidisciplinares nas áreas de biologia estrutural, proteômica, genômica, metabolômica, triagens moleculares de alto desempenho, bioensaios, química medicinal, coleções de compostos orgânicos sintéticos e derivados de produtos naturais, cristalografia de proteínas, ressonância nuclear magnética, biofísica de proteínas e desenvolvimento de organismos geneticamente modificados.