UFSC em 10/05/2016
Um grupo de seis pesquisadores do Laboratório de Morfogênese e Bioquímica Vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) conquistou uma patente pelo estudo do potencial cicatrizante de compostos bioativos presentes em cascas de banana orgânica e desenvolvimento de um hidrogel curativo. O fármaco à base de extrato aquoso das cascas apresentou mais eficácia na cicatrização quando comparado a outro curativo similar disponível no mercado. O projeto foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) no Programa Universal, e, além de ser um produto de origem natural, promove a reciclagem de resíduos da indústria de alimentos.
O método de extração dos compostos das cascas de banana prata anã levou à obtenção do registro de uma Patente de Processo junto ao Departamento de Inovação Tecnológica/UFSC, em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina(Epagri) e o Laboratório Nacional de Biociências(LNBio). “A influência dessa conquista é o reconhecimento da atividade inventiva no currículo dos pesquisadores, o que contribuiu para a minha colocação no mercado de trabalho como cientista em uma indústria multinacional”, diz Aline Pereira, coordenadora da pesquisa, que resultou em sua tese de doutorado em Biotecnologia e Biociências.
Potencial cicatrizante
O hidrogel de álcool polivinílico (PVA 10%) com extrato aquoso de cascas de banana apresentou potencial cicatrizante mais eficaz quando comparado a outro curativo similar disponível no mercado. Nos testes em laboratório realizados com camundongos, o extrato proporcionou total cicatrização da lesão em menor período de tratamento, comparativamente aos animais dos grupos de controle. “Os extratos demonstraram potente atividade cicatrizante, sugerindo que a seleção de espécies para o desenvolvimento de fitofármacos é bastante útil, podendo inclusive agregar valor a um resíduo da indústria de alimentos”, explica a coordenadora da pesquisa. O produto, puro e contendo o extrato em sua composição, não apresentou sinais de citotoxicidade no ensaio in vitro e demonstrou valor de pH próximo ao fisiológico, sendo considerado biocompatível. Ele pode ser utilizado em lesões na pele e para cicatrização de pequenos cortes.
A casca de banana tem uso popular como agente cicatrizante, mas existem poucos estudos relacionados ao seu aproveitamento, mesmo em outras áreas de pesquisa. “Alguns artigos tratam de diferentes aplicações práticas para a casca de banana, por exemplo a produção de álcool, metano, alimentação para gado ou adsorventes à purificação de água”, relata a pesquisadora. Sendo um produto natural, as cascas também poderiam ser utilizadas como compostos funcionais na nutrição humana e na prevenção e cuidados com a saúde. “Compostos fenólicos, flavonoides, ácidos graxos, fitoesteróis e carotenoides são alguns compostos de alto valor já identificados em cascas de bananas”, completa Aline.
As amostras para realizar o estudo foram obtidas em Urussanga, na estação experimental da Epagri. A maior vantagem em seu uso como matéria-prima e fonte dos compostos bioativos é que as cascas são um resíduo gerado pela indústria de alimentos que é pouco explorado, geralmente utilizado em compostagem ou apenas descartado.