Inventta, em 19/06/2014
Iniciativas se espalham pelo país como forma de estimular a criação de ecossistemas de inovação.
O que empresas como Intel, Microsoft, HP, eBay, Yahoo, Apple, Facebook, Electronic Arts e Google têm em comum? A bem da verdade, é possível achar diversas características parecidas entre elas, mas uma semelhança primordial é que todas nasceram no mesmo local: o Vale do Silício, nos Estados Unidos.
A região, no estado da Califórnia, concentra uma grande variedade de empresas de base tecnológica com forte vocação empreendedora e centros de P&D. Aliado a esse cenário há diversas universidades em localidades próximas, que intercambiam talentos e conhecimento com essas empresas, formando o que se chama de ecossistema de inovação. Em linhas gerais, pode-se definir o termo como um conjunto de pessoas, empresas e organizações se relacionando em busca de uma coevolução a partir do desenvolvimento de projetos inovadores.
Apesar do Vale do Silício ser o exemplo mais emblemático e reconhecidamente exitoso, ele não é o único. Experiências em ecossistemas de inovação vêm ocorrendo em todo o mundo e estão se tornando mais comuns, tanto de forma natural quanto por meio de uma criação estimulada.
No Brasil, a região de Campinas, em São Paulo, se enquadra bem no primeiro caso, como salienta o sócio-diretor da Inventta+drive Bruno Moreira. “É uma região que se desenvolveu naturalmente enquanto locus de inovação, fortemente alavancada pelo estabelecimento da Unicamp e de centros de pesquisa relevantes para o país, como o CPqD e o LNLS. Com isso, há em Campinas uma conjunção de fatores e qualidades – tais como vocação científica, cultura empreendedora, presença de empresas inovadoras e infraestrutura para negócios – que levam a resultados que nos permitem caracterizar a região como um profícuo ecossistema de inovação”, pondera.
Mas se nem todas as regiões têm a mesma “sorte” de Campinas, existem elementos através dos quais é possível fomentar o surgimento de ecossistemas de inovação. Uma das práticas mais adotadas pelo poder público no Brasil é o estabelecimento de parques tecnológicos. “Os parques são como uma semente, um catalisador de um ecossistema de inovação”, define Bruno.
Na visão do economista, professor da UFOP e parceiro da Inventta Francisco Horácio os parques tecnológicos desempenham uma importante função ao possibilitar que empresas de base tecnológica mantenham contato com as universidades. “A maioria das startups saem das incubadoras das próprias universidades. Se elas se dispersassem geograficamente, certamente esse relacionamento seria afetado. Os parques permitem uma continuidade do sistema local de inovação”, argumenta.
Para que a teoria se reverta em uma iniciativa de sucesso, porém, é necessário que os parques sigam alguns preceitos básicos, visando atingir o objetivo de estimular a formação de um ecossistema de inovação. Francisco enumera quatro:
- Gestão criativa do espaço físico: “o parque deve estimular o coworking, a interação e a criatividade dos profissionais. Um prédio com uma arquitetura padrão, ‘quadradão’, não oferece nenhum diferencial”.
- Interação contínua entre universidades e empresas: “os parques devem ter capacidade de estabelecer um contato duradouro entre a fonte de conhecimento e as empresas que lá estão alojadas, seja por meio de workshops, palestras ou prospecção de editais para pesquisas conjuntas”.
- Oferta de serviços tradicionais: “as pessoas devem ter fácil acesso a alimentação, farmácias, academia etc. Não adianta criar espaços de convivência criativos mas que não ofereçam serviços básicos”.
- Gestão imobiliária: “os parques têm uma dimensão imobiliária. Se a gestão desse ativo for completamente entregue ao mercado há o risco de que as empresas nascentes, que ainda não possuem capital para custear alugueis elevados, sejam excluídas”.
Segundo Bruno Moreira, também é imprescindível que os parques assumam um papel maior do que apenas servir de intermediário entre demandas do mercado e novas tecnologias. “O modelo atual preconiza que o parque deve buscar uma forma rápida de sobreviver com suas próprias pernas, o que limita seu potencial de impacto dentro de um ecossistema maior. Ele deve exercer uma função de transformador da realidade em que está inserido, estimulando a criação de startups, atraindo recursos e retendo talentos. Além disso, precisa se posicionar e pensar globalmente desde o seu nascimento”, explica.
Nesse aspecto, Francisco Horácio concorda que os parques brasileiros ainda têm um longo caminho a trilhar para que possam se aproximar dos exemplos americanos e europeus. “Mesmo tendo em seus quadros pessoas muito capacitadas, não existe formação específica para esse tipo de profissional. O aprendizado vem com a prática e as experiências brasileiras ainda são muito recentes”.
Parques Tecnológicos no Brasil
Um estudo de 2013, conduzido pelo Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB), em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – (SETEC/MCTI), identificou 94 iniciativas de parques tecnológicos no Brasil.
Como o levantamento se baseou em questionários respondidos pelos próprios gestores dos parques, os dados obtidos pelo Ministério referem-se a 80 parques (já que não houve sucesso no retorno de alguns desses questionários). Atualmente são 28 parques em operação, 28 em implantação e outros 24 em fase de projeto. O número de empresas instaladas chega a 939, e o de empregos gerados ultrapassa os 32 mil.
O estudo também apontou a importância do apoio financeiro governamental nas diferentes fases de desenvolvimento destes empreendimentos. Recursos federais, estaduais e municipais são a principal fonte de financiamento de parques nas etapas de projeto e implantação. Porém, uma vez viabilizados, eles passam a ter como fonte primária de recursos os investimentos da iniciativa privada (cerca R$ 2,1 bilhões – 55%
Repercussão: Portal Protec