Agência FAPESP, em 19/01/2011
Até o próximo dia 25 de janeiro, 19 estudantes brasileiros e 64 de outros 24 países terão a oportunidade de assistir, em Campinas (SP), a aulas proferidas por alguns dos maiores especialistas no mundo no uso de técnicas avançadas de luz síncrotron.
Luz síncrotron é uma intensa radiação eletromagnética produzida por uma carga acelerada de elétrons e refletida por um campo magnético em um acelerador de partículas (o síncrotron).
Entre os participantes estão Ada Yonath, do Instituto de Ciência Weizmann, de Israel, que falou na segunda-feira (17/1) sobre os 25 anos que dedicou à pesquisa da função e estrutura do ribossomo por meio de uma técnica chamada cristalografia por raios X.
“Os ribossomos são fábricas de proteínas e, por causa de seu importante papel desempenhado no organismo humano, muitos antibióticos foram desenvolvidos a partir do que descobrimos com a cristalografia por raios X”, disse Ada.
A contribuição valeu à pesquisadora o Prêmio Nobel de Química em 2009, dividido com o indiano Venkatraman Ramakrishnan e o norte-americano Thomaz Steitz.
No dia 24, a aula será com outro laureado com a máxima distinção científica, o francês Albert Fert. Juntamente com o alemão Peter Grünberg, Fert ganhou em 2007 o Nobel de Física pela descoberta da magnetorresistência gigante, o efeito mecânico e quântico que levou à fabricação de aparelhos como celulares, laptops e iPods.
As aulas dos renomados cientistas integram a programação da Escola São Paulo de Ciência Avançada – New developments in the field of synchrotron radiation, que ocorre no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).
A escola é realizada no âmbito da ESPCA, modalidade lançada em 2009 pela FAPESP para financiar a organização de cursos de curta duração em pesquisa avançada nas diferentes áreas do conhecimento do Estado de São Paulo.
O objetivo do evento no LNLS é contribuir para a formação dos participantes e criar um polo de atração de talentos científicos competitivo mundialmente.
“A FAPESP criou a ESPCA de modo a trazer estudantes brasileiros e do exterior para conhecer instituições como o LNLS, que é uma das grandes realizações da ciência e da tecnologia brasileira. Nossa expectativa é que, com esse trânsito de estudantes, nós consigamos manter alguns deles por aqui no Brasil”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, na abertura do evento.
O curso teve a procura de 272 candidatos de 41 países, que apresentaram currículos e projetos de pesquisa com o endosso de seus orientadores. Entre os selecionados estão alunos de doutorado e de pós-doutorado de universidades e institutos de pesquisa dos Estados Unidos, Europa, Ásia e Oriente Médio.
Aplicações
A luz síncrotron é uma luz como a convencional, mas produzida por alta carga acelerada, que é refletida por um campo magnético. Tem alta intensidade, alto brilho e é colimada (com raios paralelos). Em função dessas propriedades, é tida como uma ferramenta poderosa para o estudo da estrutura de materiais em nível atômico.
“Hoje, quando estamos caminhando para o entendimento mais sofisticado da matéria, a luz síncrotron é uma ferramenta fundamental, porque permite obter informações com resolução nanométrica e fazer a identificação química e atômica do material”, disse Antonio José Roque, diretor do LNLS.
Algumas das principais aplicações da técnica estão em áreas como a ciências de materiais, farmacologia e geofísica. Recentemente, também começou a ser aplicada em outras áreas, como artes plásticas, paleontologia e arqueologia.
Em arqueologia, por exemplo, a luz síncrotron pode fornecer, por meio de uma técnica chamada holotomografia por raios X, imagens tridimensionais do interior de um ovo encontrado em um sítio arqueológico, sem a necessidade de quebrá-lo.
Nova fonte
Atualmente, há cerca de 30 fontes de luz síncrotron em atividade no mundo. A do LNLS é a única na América Latina e uma das duas no Hemisfério Sul – a Austrália construiu recentemente uma fonte.
A fonte brasileira tem recebido atualizações, como a recente instalação de dispositivo para aplicação em cristalografia de proteínas, mas deverá ser substituída em alguns anos por um equipamento de terceira geração, segundo Roque.
“Uma das principais limitações da fonte atual é a relativamente baixa energia dos elétrons, que faz com que o espectro da radiação emitida atinja intensidade de raios X ‘moles’ (de mais baixa energia)”, afirmou.
Denominada Sírius (a estrela mais brilhante vista da Terra), a nova fonte deverá ter energia de 3 GeV (bilhões de elétrons-volts), além de capacidade de receber mais dispositivos de inserção magnéticos e menor emitância, que possibilitará que a luz emitida seja muito mais brilhante.
Mais informações sobre a ESPCA – New developments in the field of synchrotron radiation: https://espca.lnls.br