Exame, em 13/07/2013
Poucas características dizem mais sobre a possibilidade de um país tornar-se relevante no cenário global do que sua capacidade de inovação. Nessa área, o Brasil tem muito por fazer. No ranking das nações mais inovadoras do mundo de 2012, ficamos em 58o lugar entre 141 países, de acordo com uma pesquisa da escola de negócios Insead e da Organização Mundial de Propriedade Intelectual.
Apesar dessa posição — atrás até mesmo de países como Kuwait, Omã e Ilhas Maurício —, algumas ilhas de excelência dão a esperança de que esse quadro possa melhorar.
Um dos exemplos mais significativos é a evolução do Brasil no agronegócio. Muito do papel relevante do país no mercado global é resultado do trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), fundada há 40 anos. Pouco antes, em 1969, foi criado o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), com papel fundamental nas pesquisas de cana-de-açúcar.
Em comum, as duas instituições têm um histórico de ligação estreita com os setores sobre os quais pesquisam. “Na agricultura, na maioria dos casos, era impossível importar soluções. Por isso, empresas, centros de pesquisa e universidades tiveram de se unir para criar suas próprias iniciativas”, diz Ladislau Martin Neto, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa.
Mas o cenário do setor agrícola parece especial. Nas demais áreas, raramente houve coordenação entre universidades e setor privado para investir em inovação. Como resultado, o Brasil tornou-se mero replicador de tecnologias de fora. Para fugir desse lugar comum, o laboratório paulista Cristália destina 4,5% de sua receita anual à pesquisa de novos fármacos e fez parcerias com 22 faculdades e centros de pesquisa públicos.
Com isso, conseguiu se destacar como uma das empresas mais inovadoras do país. De seus laboratórios já saíram 54 patentes, incluindo os anestésicos Sevocris e Ketamin, que possuem registro nos mercados americano e europeu. “A academia tem boas ideias, e nós temos a capacidade de transformá-las em produtos”, diz Ogari Pacheco, presidente do Cristália.
Iniciativas como as adotadas pelo Cristália são formas de contornar o que muitos ainda consideram um grande desafio: fazer com que o conhecimento gerado no meio acadêmico se torne relevante para a economia.
“Como são mundos diferentes, sempre houve insegurança na cooperação entre a universidade e a iniciativa privada”, diz Carlos Soares, chefe do departamento de genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro da agência de inovação criada pela UFRJ. “Com o tempo, fomos aprendendo a fazer essa cooperação e, em alguns setores, como a biotecnologia, essa é uma tendência que tem se fortalecido.”
A troca entre professores universitários e profissionais do meio empresarial é apontada como uma das razões de países como Estados Unidos, Coreia do Sul e Suíça terem se tornado potências inovadoras.
“A universidade americana é muito aberta às empresas. E isso é importante, porque é na academia que há mais espaço para pensar, justamente algo que as empresas nem sempre têm”, afirma Anthony Knopp, um dos responsáveis pelo Industrial Liaison Program do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
O programa promove a conexão entre pesquisadores da indústria e da renomada universidade americana. No Brasil, esse tipo de conexão ocorre no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, no interior paulista. Seu acelerador de partículas é uma espécie de microscópio gigante — permite estudar as estruturas atômicas de diversos materiais.
Pertencente ao governo federal, o laboratório é aberto para uso das comunidades acadêmica e de negócios. Recebe, por ano, cerca de 1 000 pesquisadores do Brasil — de empresas como Petrobras e Braskem — e do exterior.
Já contribuiu com inovações em áreas como petroquímica, biociências e engenharia. Em breve, o laboratório contará com mais um acelerador para caminhar em novas frentes, como a nanotecnologia. Falta fazer com que esse exemplo deixe de ser uma exceção no Brasil.