Correio Popular, em 18/06/2010
Imagine uma máquina capaz obter detalhes de imagens em resolução 10 mil vezes maior que um aparelho de raio X e com a capacidade de produzir figuras tridimensionais de partículas com 1 bilionésimo de um metro. Essas serão algumas das façanhas que o novo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que será instalado em Campinas, realizará. O aparelho poderá ser usado em estudos de áreas que vão da farmacologia a materiais sintéticos.
O primeiro protótipo do dipolo da rede magnética (base orientadora dos componentes do equipamento) foi concluído essa semana e o projeto, orçado em cerca de US$ 220 milhões (R$ 400 milhões), deverá estar concluído em cinco anos. Financiado em grande parte por recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o coordenador do novo laboratório, o físico Ricardo Rodrigues, espera que a iniciativa privada também se interesse em contribuir com o financiamento das pesquisas, pois os recursos apenas serão destinados progressivamente ao longo das pesquisas. “O atual governo tem contribuído exponencialmente com as pesquisas, mas não sabemos se os recursos estarão garantidos em eventuais mudanças políticas”, disse.
Rodrigues participou das discussões iniciais para a implementação do primeiro acelerador de partículas brasileiro ainda no início da década de 80, e integra a equipe do LNLS em Campinas há cerca de 20 anos. Segundo o pesquisador, a instalação do primeiro laboratório contou com diversos obstáculos, que ele espera que agora sejam superados. “A comunidade científica brasileira pensava pequeno. Achava que o custo era alto demais e não haveriam usuários. Hoje, nem damos conta da demanda. Precisamos pensar grande, porque somos grandes”, disse.
O pesquisador lembrou que até pequenos países como Taiwan já possuem um LNLS de 3ª geração, e que se o Brasil não implantar o equipamento, as pesquisas com luz síncrotron ficarão comprometidas no País.
O LNLS em Campinas já conta com um acelerador de partículas, mas segundo os responsáveis pelo centro, o equipamento instalado em 1997 já está obsoleto e não comporta mais a demanda de experimentos solicitados pelos pesquisadores que utilizam o centro. O novo LNLS, batizado de Sirius (referência a estrela mais brilhante no céu noturno), substituirá o atual que é de 2ª geração, colocando o Brasil em um clube de 16 países que já dominam essa tecnologia, capaz de produzir detalhamento de partículas, que o anterior não dispunha.
O Sirius será totalmente produzido no Brasil e utilizará apenas 15% de componentes importados. A quantidade de fótons emitidos durante a aceleração das partículas, será cerca de 25 bilhões de vezes maior que a anterior, possibilitando que a capacidade de penetração da luz sobre os materiais a serem pesquisados saia da ordem dos milímetros, para a casa dos centímetros. O novo LNLS contará com um número maior de linhas de trechos retos (mecanismo que potencializa a emissão de luz para os experimentos) e possuirá amplificadores de estado sólido (aparelho que repõe a energia perdida durante a emissão de luz) que serão capazes de gerar uma economia de cerca de R$ 4 milhões/ano com despesas no consumo de energia.
O projeto promete ser o maior instrumento de pesquisa científica e tecnológica do País e, assim como o antigo, estará aberto a pesquisadores de instituições acadêmicas e de empresas, brasileiras ou estrangeiras. Segundo o LNLS em Campinas, das 50 fontes de radiação síncrotron no mundo (de 2ª e 3ª gerações), apenas 30 estão abertas a pesquisadores de fora da instituição a que pertence o laboratório, o brasileiro é um deles.
Novidade pode aumentar total de pesquisas
O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e físico de materiais Rogério Magalhães Paniago afirma que o novo laboratório permitirá que pesquisadores, que antes tinham que se dirigir ao exterior para dar andamento a seus estudos, possam encerrar suas pesquisas no Brasil. “A expectativa é a das melhores dentro de toda a comunidade científica. Eu estudo nanomateriais no LNLS de Campinas e o novo acelerador permitirá que consigamos pesquisar nanopartículas isoladas que antes eram impossíveis de serem examinadas no LNLS 1”, disse. Paniago afirmou que já teve que realizar pesquisas no exterior por causa das limitações que o equipamento anterior impunha. “A Petrobrás chegou a nos contratar para examinarmos os materiais utilizados em sondas que penetram em grandes profundidades e acabavam fraturando. Conseguimos estudar as propriedades elásticas das nanopartículas e aumentar a resistência, só que na França.”