UOL em Dezembro
O ano de 2017 levou os cientistas brasileiros a descobrirem que não estão imunes ao tumulto político/policial que envolve o país. O orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações sofreu um corte visceral, levando diversas instituições de pesquisa consagradas a se perguntarem como terminariam o ano com a conta de luz paga, que dirá financiar investigações de ponta importantes para o desenvolvimento nacional. Até ameaçado de perder sua capacidade de fazer previsão do tempo o Brasil ficou.
A gestão Michel Temer (PMDB) assumiu o país com a promessa de ajustar o gasto público e colocar sob controle o déficit crescente no Orçamento federal. A promessa de cortar despesas, a despeito da aprovação da PEC do Teto, que congelava os gastos do governo por duas décadas, não foi cumprida —exceto no Ministério da Ciência.
Com isso, a trajetória de queda das verbas federais para pesquisa, que já vinha se acentuando desde 2015, atingiu níveis alarmantes. A Lei Orçamentária Anual de 2017 previa recursos da ordem de R$ 5 bilhões, o que já era uma queda brusca em relação a apenas dois anos atrás, quando respondiam por R$ 8,4 bilhões.
Para tornar o ruim pior, o governo contingenciou, em março, cerca de 44% do orçamento ligado à ciência, fazendo os R$ 5 bilhões virarem R$ 2,8 bilhões.
A medida virou notícia no mundo inteiro. Artigo publicado na revista científica britânica “Nature” indicava que a medida colocava em risco o futuro do país na área, ameaçando inclusive investimentos de monta feitos pelo governo anteriormente, como é o caso do síncrotron Sirius, em construção em Campinas, no interior paulista.
Os cientistas brasileiros, liderados pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e pela ABC (Academia Brasileira de Ciências), tiveram de reagir, promovendo em todo país as Marchas pela Ciência —embalados por um movimento nascido nos EUA após a eleição de Donald Trump— e marcando presença no Congresso Nacional para apresentar o drama aos parlamentares.
Todas as reclamações, até agora, caíram em ouvidos surdos. A proposta de orçamento feita pelo Ministério do Planejamento em 2018 propõe um novo corte de 40% o já esquálido orçamento de 2017 e, se aprovada como está, pode significar a ruína para um setor que já começa a enfrentar fuga de cérebros para o exterior e o esvaziamento das carreiras científicas.