Unicamp, em 02/12/2015.
As pesquisas em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) devem ser encaradas pelos países, principalmente os da América Latina, como política estratégica de Estado e não de governo, com vistas ao desenvolvimento econômico e à ampliação do bem-estar da sociedade. A posição foi defendida na manhã desta quarta-feira (2) pelo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Hernan Chaimovich, na conferência de abertura do seminário Fronteiras da Gestão em Ciência, Tecnologia e Inovação, organizado pelo Laboratório de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi) em comemoração aos seus 20 anos. O Geopi é ligado ao Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp.
Em sua fala, Chaimovich elencou os programas financiados pelo CNPq, que abrangem um amplo leque de pesquisas, nas mais diversas áreas do conhecimento. De acordo com ele, a despeito dos esforços das agências de fomento, o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no Brasil ainda é pequeno, ficando em torno de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. “Há cerca de 20 anos temos a expectativa de que um dia chegaremos a 2%”, disse, acrescentando que a contribuição do setor privado tem sido reduzida.
Chaimovich também destacou que, no Brasil, existe a tradição de se medir os resultados das pesquisas, mas não os seus impactos. “Isso é o mesmo que dizer que a nova versão de uma lavadora de roupa tem 30 parafusos e dez arruelas a mais que a anterior. Isso não mostra se o eletrodoméstico lava melhor e deixa a roupa mais branca”, comparou. Na avaliação do presidente do CNPq, o impacto das pesquisas brasileiras em CT&I ainda é pequeno, ficando abaixo da média mundial.
Conforme Chaimovich, um dos desafios a serem superados pelo Brasil e os demais países da América Latina é estabelecer a correlação entre ciência e bem-estar social. “Existe uma relação entre densidade de cientistas e o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] dos países. No caso do Brasil, temos que trabalhar para fazer com que a ciência contribua para impulsionar esse índice”, considerou.
Ainda no período da manhã, foram realizadas uma segunda palestra, ministrada por dois docentes do Manchester Institute of Innovation Research (MIoIR), Jakob Edler e Kate Barker, e uma mesa-redonda. À tarde, um dos conferencistas foi o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, que abordou o tema “Gestão da pesquisa e de organizações de pesquisa”.
A mesa de abertura do evento contou com a presença dos professores Sérgio Salles Filho (DPCT-Unicamp), Rui Albuquerque (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais – CNPEM), Ana Lucia Assad (Associação Brasileira de Estudo das Abelhas – A.B.E.L.H.A), Leda Gitahy (DPCT-Unicamp) e Roberto Perez Xavier, diretor do IG. De acordo com Sérgio Salles, o objetivo do seminário foi reunir especialistas para debater o planejamento e a avaliação em CT&I, com o objetivo de propor rumos para o segmento.