Quando se fala em vida fora da Terra, a primeira possibilidade que vem à mente dos cientistas é Marte, o mais parecido com o nosso planeta no Sistema Solar.
Não é à toa que o bilionário Elon Musk quer ser um dos primeiros a colonizar o Planeta Vermelho, com seu plano ambicioso de levar mais de um milhão de pessoas para lá até 2050.
Apesar de tanta empolgação, viver no planeta é bem mais difícil do que parece. Vários fatores tornariam nossa sobrevivência na superfície marciana quase impossível, sendo os principais deles:
- As temperaturas extremamente baixas, de -120ºC a +20ºC;
- A atmosfera praticamente inexistente e feita quase que somente de gás carbônico;
- A altíssima incidência de radiação, tanto na forma de luz ultravioleta do Sol, quanto na forma de partículas, produzidas em explosões solares e de raios cósmicos.
Apesar disso, já há quem diga que os principais desafios tecnológicos e sanitários para levar o homem a Marte em uma missão que duraria até três anos foram quase todos resolvidos.
Douglas Galante, pesquisador de astrobiologia do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), explica que Marte tem um ambiente parecido com o que existe na órbita terrestre, onde está a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).
Mas enquanto viajar para a ISS dura apenas seis horas, ir para Marte levaria de seis a doze meses. Além disso, os tripulantes precisariam ficar por lá por pelo menos 15 meses, esperando que Marte e Terra fiquem do mesmo lado do Sol para poder voltar para casa.
Tecnologias em estudo
Há vários estudos em andamento para driblar os desafios da vida em Marte. Para resolver a falta de oxigênio e a atmosfera tênue, por exemplo, os cientistas acreditam que é possível extrair elementos das rochas marcianas e produzir os gases necessários para respirarmos dentro de cúpulas ou estações.
Há quem diga que a temperatura de Marte seria o menor dos problemas a serem enfrentados, já que o ser humano é craque em aquecer planetas com sua capacidade intrínseca de provocar o efeito estufa.
Para Douglas Galante, da USP, a solução seria mais limpa: envolveria fontes de energia como fissão ou fusão nuclear, ou, ainda, painéis solares mais eficientes e duráveis.
Galante explica ainda que, por não ter um campo magnético como a Terra, ou uma atmosfera espessa, Marte é muito mais exposta à radiação solar e cósmica.
A consequência dessa exposição para os seres humanos seria, invariavelmente, problemas de saúde como câncer e outras lesões. Para fugir da radiação, Galante afirma que abrigar-se em cavernas naturais poderia ser uma opção.
Além disso, já existe engenharia disponível para fazer trajes de proteção e abrigos para os astronautas à prova de radiação. É preciso continuar os estudos para torná-las mais leves e menos custosas.
Mas e se alguém desenvolver um problema de saúde ou se machucar durante os quase dois anos que estiverem no planeta vermelho sem poder voltar para casa? O primeiro caso pode ser resolvido com uma bateria de exames detalhada e intensa para descobrir qualquer predisposição para desenvolver alguma doença. O segundo é mais fácil: daria para fazer gesso.
“Na minha opinião, não há nenhum obstáculo médico absoluto para ir a Marte”, disse Dan Buckland, engenheiro e médico de emergências da Universidade de Duke, em entrevista à AFP.
Musk não foi o primeiro
Antes de Musk tornar público seu plano de colonizar Marte, outras iniciativas já tinham surgido com o mesmo propósito. A Mars One foi uma delas. Fundada em 2011 por um grupo de holandeses, a empresa queria criar um “reality show” em que enviava pessoas a Marte, acreditando que isso geraria destaque suficiente na mídia para angariar recursos para boa parte da missão.
O custo estimado para a primeira viagem, com apenas quatro astronautas, seria de US$ 6 bilhões (cerca de R$ 31 bilhões), e o lançamento estava previsto para acontecer no ano que vem.
O projeto fracassou, sendo chamado pela Forbes de “missão fake que enganou o mundo“. A empresa decretou falência em 2019 com um débito total de aproximadamente US$ 1 milhão (R$ 5,2 milhões).
Mas o sonho não acabou. A Nasa e as agências espaciais de vários países estão neste momento com missões ativas em Marte, investigando o planeta, preparando o terreno para a nossa chegada. Será preciso, contudo, pesar todos os prós e contras de uma missão arriscada como essa.
“É um balanço entre resultados e consequências que teremos de pensar se vale a pena, como humanidade. Mas temos que lembrar que, 500 anos atrás, quando iniciamos as grandes explorações marinhas, viajar para o desconhecido, como fez Cabral e Colombo, era tão perigoso quanto ir a Marte, e, mesmo assim, decidimos que valia a pena e até hoje somos gratos a essa ousadia”, diz Galante.