Revista Ecológico, em 13/11/2014
Entrevista com Douglas Galante, doutor em Astronomia e pesquisador do Laboratório Nacional de Luzi Síncrotron (LNLS/CNPEM)
Analisando o evento K-Pg é correto afirmar que, quando os dinossauros se extinguiram, eles liberaram espaço e oportunidades para os mamíferos prosperarem?
Essa é uma questão realmente importante. Antes da extinção, mamíferos eram pequenos e raros, mantidos sob controle populacional pelos grandes predadores. Com a extinção destes, os mamíferos se espalharam pelo planeta, as populações cresceram e novas espécies surgiram. Inclusive, milhões de anos depois, nós, os Homo sapiens.
Quer dizer, então, que a Terra seria hoje um lugar muito diferente do atual, e talvez nós, humanos, nem mesmo tivéssemos surgido?
Pode-se dizer que extinções são ruins para as espécies que desaparecem, mas integram o processo natural da vida. E ao que tudo indica, essenciais para a manutenção da diversidade em escala global. Obviamente, isso não é desculpa para nós, seres humanos, acelerarmos o processo de devastação do planeta, dizimando florestas, explorando recursos vegetais ou animais de forma descontrolada. Isso implica em riscos muito sérios.
O de desaparecermos da face da Terra, por exemplo?
É praticamente impossível prever, mesmo como todo o nosso conhecimento científico, quais serão os resultados evolutivos e ecológicos da intervenção humana no planeta. Mas é fato que, extinguindo uma única espécie, corremos sim o risco de gerar reações em cadeia, que podem tornar o planeta inabitável para nós. Portanto, é nosso dever cuidar o melhor possível de todo o ambiente e das inúmeras belezas e maravilhas da biodiversidade que nos cerca.
Reflexão – Para onde caminhamos?
No encerramento dessa misteriosa viagem em busca dos conceitos e milagres sobre a origem do planeta e da humanidade, uma conclusão se destaca: a vida encontrou – e sempre encontrará – formas de manter seu lugar na Terra. Hoje, sabemos que é praticamente impossível extingui-la em toda sua completude e complexidade. Há seres vivos por toda a parte, do fundo das rochas até a alta atmosfera (e talvez até mesmo escapando lentamente para o espaço).
Para destrui-los em seu conjunto teríamos que praticamente destruir o planeta, e isso só aconteceria com um impacto de asteroide muito maior que o dos dinossauros, ou ainda, em alguns bilhões de anos, quando o Sol se tornar uma gigante vermelha, varrendo a Terra do Sistema Solar.
Sendo assim, no lugar da arrogância de nos considerarmos superiores às demais formas de vida, o que nos cabe é a reverência. E a eterna certeza de que somos hóspedes, meros passageiros dessa imensa e errante nave azul.
Fica a esperança de que, com o tempo, consigamos desenvolver mais e mais tecnologias capazes de melhor preservar a habitabilidade do planeta. E, quem sabe, tenhamos até a chance de viajar a outros mundos, à procura de exoplanetas adequados para vivermos ou mesmo modificá-los, criando novas Terras através da galáxia.
Por enquanto, o que aprendemos da vida na Terra é que ela sempre continua, talvez até mesmo após o fim do nosso Sistema Solar!